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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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ENTREVISTA

A cada mês, instituição gasta R$ 24 milhões e recebe R$ 15 milhões do SUS

Déficit ameaça a Santa Casa de SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Em mais de quatro séculos de existência, as principais santas casas do país sobreviveram a revoluções, pestes, incêndios e falências recorrentes. Agora, estão ameaçadas pela folha de salários e por um sistema de pagamento em que gastos sempre superam receitas. Correm o risco de quebrar.
A Santa Casa de São Paulo, considerada a maior do mundo -fez 1,16 milhão de atendimentos de emergência e 45 mil cirurgias no ano passado-, vem acumulando um déficit de R$ 5,9 milhões por mês. Dos R$ 24 milhões que gasta mensalmente, recebe do SUS menos de R$ 15 milhões. A diferença vem sendo empurrada junto aos fornecedores ou parcialmente coberta com os constantes pedidos de socorros e leilões que realiza com doações recebidas.
Na última semana, a passagem do ministro Humberto Costa por São Paulo chegou a trazer algum alento ao prometer que os hospitais universitários e de ensino passariam a ser remunerados por meio de contratos globais, não mais por procedimentos.
Quer dizer, o hospital passaria a ganhar, por exemplo, pelo fato de manter um pronto-socorro de alta especialidade aberto 24 horas por dia, independentemente de quantos pacientes atendesse naquele dia ou mês. A nova prática deve começar com os hospitais universitários públicos.
"A proposta é muito boa, mas de demorada execução, enquanto nossos problemas são de curtíssimo prazo", diz Antonio Carlos Forte, superintendente da Santa Casa de São Paulo.
Abaixo, trechos da entrevista que concedeu na sexta-feira:

Folha - O que mais preocupa o hospital neste momento?
Antonio Carlos Forte
- A folha de pagamento. O dissídio da categoria é a partir de 1º de maio, e deve ficar entre 10% e 19,2%, o índice ainda está sendo negociado. Se ficar em 10%, a folha de pagamento, que é de R$ 14,5 milhões, aumentará em quase R$ 1,5 milhão. Se ficar em 19%, custará mais R$ 2,8 milhões. Se não houver uma contrapartida, não vamos poder pagar, qualquer que seja o índice. E, se não pagarmos, haverá paralisações e graves consequências para a maioria dos pacientes.

Folha - Qual a situação das outras santas casas no país?
Forte
- No país todo são 470, no Estado de São Paulo, 280. A grande maioria vive em sérias dificuldades, dependendo da ajuda da comunidade. A nossa, para ter uma idéia, recebe do SUS exatos R$ 63,50 para cada R$ 100 que gasta. Isso antes do dissídio. O que acontece, na prática, é que os hospitais estão se descapitalizando, diminuindo a cota de atendimento pelo SUS, o que empurra os pacientes para outros hospitais, que por sua vez ficarão cada vez mais sobrecarregados. A saúde é uma atividade econômica para a qual o governo não repassa os custos. Nossos valores estão congelados enquanto o dólar aumentou três vezes. E quando vamos trocar a ampola de um tomógrafo, por exemplo, temos que pagar em dólar. Essa situação está afetando todos os hospitais que têm atendimento pelo SUS.

Folha - As propostas do governo não trazem novas perspectivas?
Forte
- Elas estão corretas ao deixar de oferecer reajustes lineares. O governo vai pagar mais pelo procedimento que considerar mais importante e necessário, de forma a incentivá-lo. Vai aumentar o dinheiro para programas prioritários, como o de Saúde da Família, aumentará as consultas nos hospitais públicos. Todas medidas importantes e necessárias. Mas a situação das santas casas precisa ser pensada com urgência. Além da contrapartida do governo, precisamos da participação dos cidadãos, pois as santas casas sempre tiveram a característica de serem hospitais construídos e mantidos pela sociedade. Por exemplo, a Santa Casa de São Paulo tem oito hospitais, um deles geriátrico, outro para saúde mental, além do central. No ano passado foram feitos 2,6 milhões de exames laboratoriais, 941 mil atendimentos ambulatoriais e 103 mil internações.
(AURELIANO BIANCARELLI)


Para quem quer contribuir: telefones 0/ xx/11/3226-7042 e 3226-7045; ou pelo site www.santacasasp.org.br


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