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CASA NO CAMPO
Maltratados pela vida urbana, animais ganham lares na área rural
SP "repatria" 625 cavalos por ano
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Saídos do interior, eles acabam na capital, onde são maltratados por excesso de trabalho, alimentação ruim e falta de
cuidados médicos. Em muitos
casos, não têm onde morar e
acabam nas ruas. Para eles, a
única esperança de qualidade de
vida é retornar à área rural.
O relato, comum a muitos dos
migrantes que chegam à cidade
de São Paulo, é na verdade a
descrição da saga de habitantes
mais inusitados: os cavalos.
Na cidade mais motorizada
do país (são 5,5 milhões de carros) e onde há até lei proibindo
o tráfego de animais na ruas, ao
menos 5.000 foram recolhidos
pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) desde 1995, em
média 625 por ano. Mancos,
subnutridos e feridos, a sorte
deles, em relação aos humanos,
é que conseguiram vida nova.
Foram "repatriados" para o
interior, onde ganharam lares, e
são acompanhados de perto pela dentista Cynthia Fonseca, 43,
voluntária do Quintal de São
Francisco, entidade que, por
meio de um convênio, recebe os
cavalos em doação e os encaminha a pessoas que tenham casa,
sítio ou fazenda fora da capital.
A seleção é rigorosa. "De cada
dez pessoas que querem receber
os cavalos, escolho uma. O bicho tem de ser levado para se
aposentar", avisa Fonseca aos
interessados. E mais, quem recebe o animal não vira seu dono, ou seja, não pode vendê-lo, e
assina um termo se comprometendo a cuidar bem dele -o
que pode significar um gasto
mensal mínimo de R$ 70. "Uso
o termo fiel depositário para
mostrar às pessoas a responsabilidade que a adoção envolve."
Tanto critério não impediu,
porém, que a égua Nega Donana tivesse um final feliz. Grávida, sem um olho e manca por
causa do trabalho como puxadora de carroça em São Paulo,
ela foi "adotada" por uma família dona de uma propriedade
em Sorocaba que queria justamente uma égua e um potro.
"É da natureza dos cavalos fazer amigos, formar grupos. Por
isso não deixo que sejam separados", diz Fonseca. Entre os 24
que aguardam adoção no CCZ
estão um casal de cavalo idoso e
potra e uma mãe com a filha.
Para adotar, é preciso ir ao
centro, na r. Santa Eulália, 84
(zona norte). Pelo 0/xx/11/6224-5500, é possível avisar sobre
maus-tratos e cavalos na rua.
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