São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2004

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CASA NO CAMPO

Maltratados pela vida urbana, animais ganham lares na área rural

SP "repatria" 625 cavalos por ano

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Saídos do interior, eles acabam na capital, onde são maltratados por excesso de trabalho, alimentação ruim e falta de cuidados médicos. Em muitos casos, não têm onde morar e acabam nas ruas. Para eles, a única esperança de qualidade de vida é retornar à área rural.
O relato, comum a muitos dos migrantes que chegam à cidade de São Paulo, é na verdade a descrição da saga de habitantes mais inusitados: os cavalos.
Na cidade mais motorizada do país (são 5,5 milhões de carros) e onde há até lei proibindo o tráfego de animais na ruas, ao menos 5.000 foram recolhidos pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) desde 1995, em média 625 por ano. Mancos, subnutridos e feridos, a sorte deles, em relação aos humanos, é que conseguiram vida nova.
Foram "repatriados" para o interior, onde ganharam lares, e são acompanhados de perto pela dentista Cynthia Fonseca, 43, voluntária do Quintal de São Francisco, entidade que, por meio de um convênio, recebe os cavalos em doação e os encaminha a pessoas que tenham casa, sítio ou fazenda fora da capital.
A seleção é rigorosa. "De cada dez pessoas que querem receber os cavalos, escolho uma. O bicho tem de ser levado para se aposentar", avisa Fonseca aos interessados. E mais, quem recebe o animal não vira seu dono, ou seja, não pode vendê-lo, e assina um termo se comprometendo a cuidar bem dele -o que pode significar um gasto mensal mínimo de R$ 70. "Uso o termo fiel depositário para mostrar às pessoas a responsabilidade que a adoção envolve."
Tanto critério não impediu, porém, que a égua Nega Donana tivesse um final feliz. Grávida, sem um olho e manca por causa do trabalho como puxadora de carroça em São Paulo, ela foi "adotada" por uma família dona de uma propriedade em Sorocaba que queria justamente uma égua e um potro.
"É da natureza dos cavalos fazer amigos, formar grupos. Por isso não deixo que sejam separados", diz Fonseca. Entre os 24 que aguardam adoção no CCZ estão um casal de cavalo idoso e potra e uma mãe com a filha.
Para adotar, é preciso ir ao centro, na r. Santa Eulália, 84 (zona norte). Pelo 0/xx/11/6224-5500, é possível avisar sobre maus-tratos e cavalos na rua.


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