São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2005

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CONSUMO

Associado à venda de roupas baratas para sacoleiros, bairro de São Paulo ganha atrativos, como vitrines mais cuidadas

Brás muda e já "rouba" clientes do Bom Retiro

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brás mudou. Tradicionalmente associado à venda de roupas baratas para sacoleiros, o bairro no centro de São Paulo agora exibe em suas ruas lojas com vitrines elaboradas, decoração clean, iluminação especial e móveis arrojados. No próximo mês, a região ganhará mais atrativos: um shopping integrado a um hotel, a um edifício de escritórios e a um terminal rodoviário com capacidade para 50 ônibus.
As mudanças já cutucam o empresariado do Bom Retiro. Localizado a poucas quadras do Brás, o bairro se diferenciava do vizinho por atender a um público de maior poder aquisitivo e se preocupar com moda -a Rosa Chá, do estilista Amir Slama, é uma das grifes que surgiram no bairro.
Em reunião realizada na semana passada com o subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, um dos tópicos levantados pelos comerciantes foi a ida de parte da tradicional clientela do Bom Retiro para a região do Brás.
Segundo um empresário presente à reunião, as lojas do Bom Retiro já estão sentindo o efeito em seus faturamentos.
A comerciante Ivonete Pereira Serra, 33, é uma das clientes que fizeram essa migração. Uma vez por mês, ela sai do Paraná rumo a São Paulo para abastecer sua loja de roupas. Antes cliente dos dois bairros, atualmente ela compra apenas no Brás. "Lá era melhor em roupas finas, mas agora eu também encontro esses produtos aqui. Além disso, o Brás tem mais variedade", diz ela.
"A concorrência com o Brás afeta um pouco, mas nós estamos com projetos de reestruturação do bairro, os lojistas têm investido em sua loja. Estamos trabalhando para dar uma revigorada no bairro", afirma Ary Martorelli, presidente da Câmara dos Diretores Lojistas do Bom Retiro.

Sobrevivência
Entretanto, foi a própria requalificação do Bom Retiro há alguns anos que deu origem às mudanças no Brás, conta Shlomo Shoel, 59, presidente da Alobras (Associação dos Lojistas do Brás), entidade criada em dezembro do ano passado. "A modernização do Bom Retiro aumentou a concorrência", afirma Shoel.
As reformas começaram a ser feitas de forma individualizada, como uma forma de sobrevivência das lojas do Brás. "Quando vim para cá, há cinco anos, o Brás não era uma zona muito cotada. Minha loja era quase uma ilha, rodeada por lojas antigas. Aí abriu um pequeno shopping do lado, outras lojas vieram e o perfil mudou", diz Milton Júnior, 40, dono da marca Tricomix, que é vendida no Brás e no Bom Retiro.
Isso não significa que todas as lojas tenham aderido às novidades. Ainda é possível encontrar estabelecimentos que colocam na calçada araras cheias de roupas penduradas e anunciam as promoções em cartazes de cartolina.
"Essa é uma cultura nova que estamos tentando colocar para os lojistas", afirma Shoel. A meta, diz ele, é reunir essas ações em um projeto que ultrapasse as fachadas de cada loja e melhore também as calçadas, com padronização do piso e instalação de bancos. "Estamos elaborando um projeto de revitalização junto à Subprefeitura da Mooca."
Para Roberto Chadad, presidente da Abravest (Associação Brasileira do Vestuário), a qualidade do produto, e não a quantidade, determina o sucesso de pequenas e médias empresas de confecção. "Com a chegada dos produtos asiáticos, o pessoal do Brás percebeu que a solução é vender um produto melhor."


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