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CONSUMO
Associado à venda de roupas baratas para sacoleiros, bairro de São Paulo ganha atrativos, como vitrines mais cuidadas
Brás muda e já "rouba" clientes do Bom Retiro
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brás mudou. Tradicionalmente associado à venda de roupas baratas para sacoleiros, o
bairro no centro de São Paulo
agora exibe em suas ruas lojas
com vitrines elaboradas, decoração clean, iluminação especial e
móveis arrojados. No próximo
mês, a região ganhará mais atrativos: um shopping integrado a um
hotel, a um edifício de escritórios
e a um terminal rodoviário com
capacidade para 50 ônibus.
As mudanças já cutucam o empresariado do Bom Retiro. Localizado a poucas quadras do Brás, o
bairro se diferenciava do vizinho
por atender a um público de
maior poder aquisitivo e se preocupar com moda -a Rosa Chá,
do estilista Amir Slama, é uma das
grifes que surgiram no bairro.
Em reunião realizada na semana passada com o subprefeito da
Sé, Andrea Matarazzo, um dos tópicos levantados pelos comerciantes foi a ida de parte da tradicional clientela do Bom Retiro para a região do Brás.
Segundo um empresário presente à reunião, as lojas do Bom
Retiro já estão sentindo o efeito
em seus faturamentos.
A comerciante Ivonete Pereira
Serra, 33, é uma das clientes que
fizeram essa migração. Uma vez
por mês, ela sai do Paraná rumo a
São Paulo para abastecer sua loja
de roupas. Antes cliente dos dois
bairros, atualmente ela compra
apenas no Brás. "Lá era melhor
em roupas finas, mas agora eu
também encontro esses produtos
aqui. Além disso, o Brás tem mais
variedade", diz ela.
"A concorrência com o Brás afeta um pouco, mas nós estamos
com projetos de reestruturação
do bairro, os lojistas têm investido
em sua loja. Estamos trabalhando
para dar uma revigorada no bairro", afirma Ary Martorelli, presidente da Câmara dos Diretores
Lojistas do Bom Retiro.
Sobrevivência
Entretanto, foi a própria requalificação do Bom Retiro há alguns
anos que deu origem às mudanças no Brás, conta Shlomo Shoel,
59, presidente da Alobras (Associação dos Lojistas do Brás), entidade criada em dezembro do ano
passado. "A modernização do
Bom Retiro aumentou a concorrência", afirma Shoel.
As reformas começaram a ser
feitas de forma individualizada,
como uma forma de sobrevivência das lojas do Brás. "Quando
vim para cá, há cinco anos, o Brás
não era uma zona muito cotada.
Minha loja era quase uma ilha, rodeada por lojas antigas. Aí abriu
um pequeno shopping do lado,
outras lojas vieram e o perfil mudou", diz Milton Júnior, 40, dono
da marca Tricomix, que é vendida
no Brás e no Bom Retiro.
Isso não significa que todas as
lojas tenham aderido às novidades. Ainda é possível encontrar
estabelecimentos que colocam na
calçada araras cheias de roupas
penduradas e anunciam as promoções em cartazes de cartolina.
"Essa é uma cultura nova que
estamos tentando colocar para os
lojistas", afirma Shoel. A meta, diz
ele, é reunir essas ações em um
projeto que ultrapasse as fachadas
de cada loja e melhore também as
calçadas, com padronização do
piso e instalação de bancos. "Estamos elaborando um projeto de
revitalização junto à Subprefeitura da Mooca."
Para Roberto Chadad, presidente da Abravest (Associação
Brasileira do Vestuário), a qualidade do produto, e não a quantidade, determina o sucesso de pequenas e médias empresas de
confecção. "Com a chegada dos
produtos asiáticos, o pessoal do
Brás percebeu que a solução é
vender um produto melhor."
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