São Paulo, sábado, 15 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Marcola lamenta violência, diz advogado

Rogério Cassimiro - 8.jun.06/Folha Imagem
Marcos Camacho, o Marcola, no dia em que foi ouvido pela CPI


O ex-delegado Aírton Antônio Bicudo, novo defensor do líder do PCC, disse que seu cliente não conhecia extensão dos ataques

Em encontro realizado na última quinta-feira em Presidente Bernardes, o preso negou relação com a facção e com os atentados

SÉRGIO VINÍCIUS
DA REPORTAGEM LOCAL

Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como o líder máximo da facção criminosa PCC, está triste com a atual onda de violência no Estado de São Paulo e quer paz o mais rápido possível. Foi o que informou à Folha o novo advogado de Marcola, Aírton Antônio Bicudo, que é ex-delegado de polícia (leia texto nesta página). Os dois se reuniram na quinta no Centro de Readaptação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernardes, no interior paulista. Bicudo substitui a advogada Maria Cristina Rachado, que teve seu registro profissional suspenso pela OAB por 90 dias, sob suspeita de ajudar o crime organizado. Ela é acusada de comprar, por R$ 200, a gravação de uma audiência reservada de dois delegados da Polícia Civil de São Paulo a parlamentares da CPI do Tráfico de Armas. Ela nega as acusações. A visita de Bicudo a Marcola foi o primeiro contato do advogado com o detento. A intenção, segundo o advogado, foi travar um contato inicial. Durante a visita, o advogado disse que informou sobre a situação de São Paulo a Marcola, que "sabia superficialmente o que estava ocorrendo". Leia os principais trechos da entrevista do advogado.
 

FOLHA - Qual foi o teor da conversa que o senhor teve com Marcola?
AÍRTON ANTÔNIO BICUDO
- Foi o primeiro contato que tive com ele. A doutora Maria Cristina Rachado, que é minha amiga pessoal, me deu uma procuração para representá-la diante do Marcos. Ficamos cerca de duas horas conversando.

FOLHA - O que ele disse sobre essa atual onda de violência?
BICUDO
- Ele sabia superficialmente o que estava ocorrendo. Depois que expus a situação, ele ficou triste e lamentou muito. Disse que, se dependesse dele, haveria paz. Disse ainda que a violência não leva a nada. Ele acredita que há outros meios de negociar com o Estado.

FOLHA - Ele disse quais são esses outros meios?
BICUDO
- Por vias legais. Por exemplo, a ação de advogados.

FOLHA - Marcola deu ordem para algum ataque nos últimos dias?
BICUDO
- Ele me disse que não tem poder para isso. Não tem nenhuma relação com qualquer tipo de entidade de crime organizado. Não coordena nenhuma facção e não é mais líder de qualquer entidade.

FOLHA - O que ele falou sobre uma eventual transferência para o presídio federal de Catanduvas (PR)?
BICUDO
- Perguntou minha opinião. Eu disse que, se a Justiça determinasse a transferência, ele, mesmo resignado, deveria aceitar. Ele concordou. Disse que o que for determinado, mesmo que a contragosto, aceitará pacificamente.

FOLHA - O senhor representará o Marcola judicialmente?
BICUDO
- Judicialmente haverá outra pessoa, mas não sei informar quem. A mim, caberá assessorá-lo em outras questões.

FOLHA - Que questões?
BICUDO
- Darei conselhos sobre como ele deve proceder, como no caso da transferência.

FOLHA - Como é para um ex-delegado assessorar um dos criminosos mais conhecidos do Brasil?
BICUDO
- Estou do lado da lei, mas acredito que há muita coisa errada no sistema carcerário do país. Quero melhorar isso.

FOLHA - Quais serão suas próximas ações em relação ao Marcola?
BICUDO
- Vamos nos encontrar em 20 dias. Até lá vou fazer um requerimento ao desembargador presidente do Tribunal de Justiça pedindo que os juízes-corregedores dos presídios aproximem-se mais das cadeias, para que possam sentir as reivindicações dos detentos.


Texto Anterior: Bomba é jogada em fórum, mas não explode
Próximo Texto: Perfil: Ex-delegado ocupava área estratégica
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.