|
Texto Anterior | Índice
Depois de 106 dias, alunos encerram greve na FFLCH
DA REPORTAGEM LOCAL
Em assembléia que durou cerca
de quatro horas e teve a presença
de mais de 1.100 alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP,
foi encerrada, nos primeiros minutos de hoje, uma das greves
mais longas da história da USP. A
paralisação durou 106 dias.
A decisão foi apertada: 637 votos a favor do fim da greve e 511
pela sua continuidade. Houve 28
abstenções. Antes da votação, cerca de 70 alunos discursaram.
A paralisação vinha enfraquecendo desde a semana passada,
quando os professores, que
apoiavam o movimento desde o
início, decidiram voltar ao trabalho, alegando que, se ele prosseguisse, a reposição teria de atropelar o calendário de 2003. Com o
reinício das aulas ainda hoje, o
ano letivo de 2002 deve acabar em
fevereiro do próximo ano.
Na última segunda, os estudantes que defendiam a greve fizeram
piquetes e interromperam as tentativas de retomada das aulas.
A paralisação, iniciada em 30 de
abril, expôs a crise vivida pela faculdade, a maior da USP, com
mais de 12 mil estudantes, cerca
de 20% de toda a universidade. A
principal reivindicação dos alunos era a contratação de 259 professores para a FFLCH, que tem a
pior relação aluno/professor da
USP -35 para 1, quando a média
da universidade é de 14 para 1.
A reitoria, que, inicialmente, autorizou a contratação de 26 professores, chegou à proposta final
de 92 docentes -68 para começar no primeiro semestre de 2003
e 24 no semestre seguinte. A negociação teve intervenções do governador Geraldo Alckmin e de
intelectuais, como o crítico Antonio Candido, o geógrafo Aziz
Ab'Saber, a filósofa Marilena
Chaui e os sociólogos Octavio
Ianni e Francisco de Oliveira.
Na assembléia de ontem, como
não foi possível fazer a contagem
com base no contraste visual, os
alunos foram divididos e tiveram
o voto marcado nas mãos. "É o tipo de votação questionável, principalmente no momento que decide o fim da greve", disse Marcelo José do Carmo, aluno de letras.
"A greve acabou, a luta continua." O grito de guerra revela
também o próximo desafio dos
estudantes: manter a mobilização
para discutir a política de contratações da USP, avalia Marcelo Silva Souza, 23, aluno de letras e
membro do Diretório Central Estudantil (DCE).
Estudantes que votaram pelo
fim do movimento faziam questão de dizer que a volta às aulas
não significará o fim das discussões pela melhoria da faculdade.
Cada um dos cinco cursos da
FFLCH pode acatar ou não a decisão. Filosofia, ciências sociais e
geografia já haviam anteriormente decidido voltar às aulas. A resistência é maior hoje em letras.
Texto Anterior: Clima: Inverno é o mais quente dos últimos 40 anos Índice
|