São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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Depois de 106 dias, alunos encerram greve na FFLCH

DA REPORTAGEM LOCAL

Em assembléia que durou cerca de quatro horas e teve a presença de mais de 1.100 alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, foi encerrada, nos primeiros minutos de hoje, uma das greves mais longas da história da USP. A paralisação durou 106 dias.
A decisão foi apertada: 637 votos a favor do fim da greve e 511 pela sua continuidade. Houve 28 abstenções. Antes da votação, cerca de 70 alunos discursaram.
A paralisação vinha enfraquecendo desde a semana passada, quando os professores, que apoiavam o movimento desde o início, decidiram voltar ao trabalho, alegando que, se ele prosseguisse, a reposição teria de atropelar o calendário de 2003. Com o reinício das aulas ainda hoje, o ano letivo de 2002 deve acabar em fevereiro do próximo ano.
Na última segunda, os estudantes que defendiam a greve fizeram piquetes e interromperam as tentativas de retomada das aulas.
A paralisação, iniciada em 30 de abril, expôs a crise vivida pela faculdade, a maior da USP, com mais de 12 mil estudantes, cerca de 20% de toda a universidade. A principal reivindicação dos alunos era a contratação de 259 professores para a FFLCH, que tem a pior relação aluno/professor da USP -35 para 1, quando a média da universidade é de 14 para 1.
A reitoria, que, inicialmente, autorizou a contratação de 26 professores, chegou à proposta final de 92 docentes -68 para começar no primeiro semestre de 2003 e 24 no semestre seguinte. A negociação teve intervenções do governador Geraldo Alckmin e de intelectuais, como o crítico Antonio Candido, o geógrafo Aziz Ab'Saber, a filósofa Marilena Chaui e os sociólogos Octavio Ianni e Francisco de Oliveira.
Na assembléia de ontem, como não foi possível fazer a contagem com base no contraste visual, os alunos foram divididos e tiveram o voto marcado nas mãos. "É o tipo de votação questionável, principalmente no momento que decide o fim da greve", disse Marcelo José do Carmo, aluno de letras.
"A greve acabou, a luta continua." O grito de guerra revela também o próximo desafio dos estudantes: manter a mobilização para discutir a política de contratações da USP, avalia Marcelo Silva Souza, 23, aluno de letras e membro do Diretório Central Estudantil (DCE).
Estudantes que votaram pelo fim do movimento faziam questão de dizer que a volta às aulas não significará o fim das discussões pela melhoria da faculdade.
Cada um dos cinco cursos da FFLCH pode acatar ou não a decisão. Filosofia, ciências sociais e geografia já haviam anteriormente decidido voltar às aulas. A resistência é maior hoje em letras.


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