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VIOLÊNCIA
Morte de agente em rebelião provoca jogo de empurra-empurra entre Estado, prefeituras e Ministério Público
Crime na Febem provoca troca de acusações
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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Agente da Febem usa faixa preta em protesto após morte de colega |
GILMAR PENTEADO
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia após o assassinato de
um funcionário na unidade de
Franco da Rocha (Grande SP), a
crise na Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor)
motivou ontem um jogo de empurra-empurra entre Estado, Ministério Público e municípios.
Doze internos da unidade 31
maiores de 18 anos foram indiciados pelo homicídio qualificado de
Rogério Rosa, 32, pela tentativa de
homicídio contra Marco Antonio
Rodrigues Alves, 25 -que saiu
ontem do hospital-, por formação de quadrilha e dano ao patrimônio público. Eles foram transferidos ontem para o CDP (Centro de Detenção Provisória) de
Hortolândia (SP).
Mas a responsabilidade sobre a
situação que culminou no assassinato de Rosa virou ponto de disputa. O secretário estadual da
Educação -pasta que responde
pela Febem-, Gabriel Chalita, foi
o primeiro a apontar culpados.
Segundo ele, o Ministério Público e os municípios não têm colaborado. As prefeituras têm se recusado a receber unidades da Febem o que, para Chalita, explica a
falta de vagas. E o Ministério Público, diz, estaria preocupado em
só denunciar suposta prática de
tortura, sem cobrar das prefeituras a sua participação na recuperação dos jovens infratores.
No final de 1999, depois da rebelião na Febem Imigrantes, que
terminou na morte de quatro internos, o então governador Mário
Covas -morto em 2001- anunciou a construção de 30 unidades
de internação regionalizadas.
Mas, até o mês passado, apenas 15
saíram do papel. Segundo o governo, a resistência dos municípios em abrigar unidades da Febem prejudicou o processo de
descentralização.
Chalita também critica a Prefeitura de São Paulo por não assumir
o sistema de LA (liberdade assistida). A secretária municipal da Assistência Social, Aldaíza Sposati,
disse, no entanto, que espera desde março uma definição do Estado sobre a proposta de municipalização da LA. "Apresentamos
uma proposta de municipalização, que significa transferir responsabilidade e recurso financeiro, e até agora estamos esperando
uma resposta", afirmou.
Em janeiro, uma reunião entre
autoridades do município, do Estado e do Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente terminou com a promessa
de municipalizar a liberdade assistida -medida em que o jovem
fica em liberdade, mas é acompanhado por psicólogos e assistentes sociais. A expectativa era que a
prefeitura acompanhasse cerca de
6.000 menores infratores até junho, o que não aconteceu.
O governador Geraldo Alckmin
também dividiu responsabilidades ontem. Disse que a questão
dos menores infratores "é um
problema do governo federal, das
prefeituras, do Estado, da sociedade e das famílias".
Alckmin criticou também a resistência de alguns municípios em
ceder terrenos para a construção
de novas unidades.
O presidente da Febem, Paulo
Sérgio de Oliveira e Costa, citou o
caso de Santo André (Grande SP),
município administrado pelo PT,
cuja Câmara Municipal aprovou
na última terça-feira um projeto
reduzindo áreas para a instalação
de unidades da Febem e presídios.
Vereadores aprovaram projeto
que restringe a construção dessas
unidades a determinadas áreas, o
que, para o governo, inviabilizará
qualquer iniciativa. Em nota, o
prefeito João Avamileno (PT) disse que irá analisar o projeto antes
de decidir se irá sancioná-lo.
O presidente da Febem, que é
promotor licenciado, também
criticou o Ministério Público.
"Existe um histórico de denúncias infundadas", disse.
Segundo José Luiz Alicke, coordenador do Centro de Apoio a
Promotorias da Infância e Juventude, o governo quer "jogar a culpa nos outros de algo que é de sua
responsabilidade". "O Estado está
acuado pelas denúncias sobre
maus-tratos dos promotores, que
fazem um trabalho legítimo."
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