São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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SAÚDE

Causas do distúrbio podem estar associadas às alterações hormonais comuns no período e a fatores psicossociais, segundo médicos

Insônia afeta mulheres no pós-menopausa

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A dona-de-casa Maria Edelma da Silva, 54, não sabe o que é uma noite bem-dormida há 15 anos, quando entrou na menopausa. Desde então, ela acorda sucessivas vezes na madrugada incomodada com as "ondas de calor" e a transpiração excessiva.
Assim como ela, pelo menos 60% das mulheres na pós-menopausa se queixam de insônia -na população feminina adulta é de, no máximo, 40%. Outros distúrbios do sono, como apnéia, ronco, bruxismo e síndrome das pernas inquietas, também são freqüentes entre as mulheres nessa fase da vida.
As causas desses distúrbios são incertas, mas os médicos acreditam que elas estejam associadas às alterações hormonais -devido aos fogachos e à transpiração, por exemplo- e a fatores psicossociais, como a baixa auto-estima e as crises familiares.
Uma pesquisa realizada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com mulheres na pós-menopausa mostrou que, quando submetidas a exames polissonográficos, o índice de alterações no sono chega a 83%.
Segundo a ginecologista Helena Hachul de Campos, do departamento de psicobiologia da Unifesp, que fez o trabalho com tese de doutorado, a queixa de insônia melhorou com a reposição hormonal -estrogênios isolados ou associados à progesterona.
O uso da progesterona também propiciou diminuição da síndrome das pernas inquietas (movimento das pernas durante o sono) e da queixa de bruximo (ação de ranger os dentes). Já o estrogênio, afirma a médica, teve ação positiva nos episódios de apnéia (obstrução parcial ou total das vias aéreas durante o sono).
O estudo envolveu 33 mulheres que não apresentavam contra-indicações ao uso de terapia de reposição hormonal (TRH), tinham pelo menos um ano de amenorréia e não estavam usando TRH ou drogas hipnóticas.
Para Edmundo Baracat, presidente da Febrasgo (federação das sociedades de ginecologia e obstetrícia), que foi orientador da tese, quando comparados os resultados da TRH com o efeito placebo, as vantagens da reposição hormonal na redução dos distúrbios do sono ficam evidentes.
Mas tanto Baracat como Campos reconhecem que fatores psicossociais também estão relacionados aos distúrbios do sono das mulheres menopausadas. "Os filhos já casaram ou saíram de casa, há crises conjugais. As mudanças são grandes e simultâneas e, muitas vezes, levam a quadros de depressão e insônia", diz a médica.
O neurologista Luciano Ribeiro Pinto Júnior também partilha dessa opinião. Para ele, tirando as causas secundárias -ambiente barulhento, por exemplo- os fatores psicossociais são os que mais afetam o sono das mulheres. "A insônia é a ponta do iceberg."
Pinto Júnior afirma que o ideal é tratar a mulher insone de forma multidisciplinar, combatendo a raiz do problema. A terapia comportamental, avalia o médico, tem sido muito eficaz nesses casos. "Não adianta dar hipnóticos."
Segundo o neurologista, é comum as pessoas superdimensionarem o problema do sono, quando, muitas vezes, ele nem existe. Exemplo disso é que 40% dos pacientes que se queixam de insônia, quando submetidas à polissonografia, apresentam resultados absolutamente normais.
Em uma consulta médica tradicional, avalia o neurologista, nem sempre o especialista consegue captar problemas psicossociais.
O desafio agora de Campos é encontrar a melhor forma de tratar essas mulheres. Um grupo de trabalho multidisciplinar foi criado e passará a tratá-las com derivados da soja, terapia de reposição hormonal, fisioterapia, psicoterapia e indutores de sono.
Segundo Helena, o tratamento será iniciado com os derivados da soja -isoflavonas- que têm sido utilizados para o alívio de sintomas da menopausa.
Serão selecionadas mulheres entre 50 e 65 anos de idade -sem doenças concomitantes, que não estejam sendo medicadas com hormônios ou soja ou indutores de sono- com queixa de insônia.
As pacientes, explica a médica, farão exame de polissonografia (para confirmação da insônia) e outros testes, como exames de sangue, mamografia, ultra-sonografia e densitometria óssea.
As interessadas devem entrar em contato pelo tel. 0/xx/11/ 275.9420, de segunda a sexta das 9h às 12h, ou, pessoalmente, à r. Marselhesa, 524, São Paulo.

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