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CRIME
Com 140,4 homicídios por 100 mil habitantes, taxa de município da Grande SP é 5 vezes superior à média
Diadema é a cidade mais violenta do país
da Reportagem Local
Diadema, na Grande São Paulo,
é a cidade mais perigosa do Brasil.
Em 1997, foram 140,4 homicídios
para cada grupo de 100 mil habitantes. Números divulgados pelo
Datasus (Ministério da Saúde) na
Internet mostram que é a maior
taxa do país, mais de cinco vezes
superior à média brasileira.
Naquele ano Diadema deixou
de ser apenas o "D" do ABC paulista: ganhou fama pelas cenas,
mostradas na TV, do PM Otávio
Gambra atirando para matar o
conferente Mário Josino, após vários soldados cometerem torturas
e extorsões na favela Naval.
Não foi um caso isolado: 460
moradores de Diadema morreram assassinados em 1997. Uma
chance em 714. Parece até que o
risco é pequeno. Mas não é.
Compare-se essa probabilidade
com a de um morador de Uberlândia (MG), uma cidade do mesmo porte, ser vítima de homicídio: uma em 143 mil. Ou seja, o
mineiro está 200 vezes mais seguro. E não é força de expressão.
Mesmo perto da de outros municípios violentos, a taxa de Diadema se destaca. Ela é 25% maior
do que a de Floresta, em Pernambuco, dono da segunda maior taxa de assassinatos do país.
Além de recordista brasileira,
Diadema está entre os lugares
mais violentos do mundo. Não há
cidade nos EUA, por exemplo,
que se equipare a ela.
Gary (Indiana), a sudeste de
Chicago, é a campeã norte-americana. Com 84,1 homicídios/100
mil, tem uma taxa 40% menor do
que sua equivalente tupiniquim.
Se ficasse no Brasil, Gary estaria
em 11º lugar no ranking da violência, logo atrás de Serra Talhada,
município do sertão pernambucano conhecido por ser terra do líder do PFL na Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira.
Em todos os aspectos a comparação com os EUA é desfavorável:
35% menor do que a norte-americana, a população brasileira é vítima do dobro de assassinatos.
São 40,4 mil crimes fatais por
ano no Brasil contra 21 mil no país
famoso por seus assassinos em série. Como resultado, a taxa de homicídio brasileira, de 25/100 mil
habitantes, é mais de três vezes
superior aos 7,4/100 mil dos EUA.
Mas nem sempre foi assim. Há
20 anos, a situação era o contrário: havia o dobro de homicídios
(22,2 mil) norte-americanos do
que brasileiros (11,1 mil).
No intervalo de apenas uma geração, enquanto o risco caiu lentamente de um lado, do outro, os
assassinatos quadruplicaram.
O resultado pode ser visto cotidianamente na periferia das metrópoles brasileiras: só em São
Paulo, cerca de 15 pessoas são
mortas a cada dia. A taxa anual,
de 54,7 homicídios/100 mil habitantes, é cinco vezes superior à da
maior cidade norte-americana,
Nova York (10,5/100 mil).
Centros propulsores da economia do país, as regiões metropolitanas concentram também a violência. Nelas vivem apenas 32%
dos brasileiros, mas ocorrem 62%
dos assassinatos: cerca de 25 mil
por ano, ou 50/100 mil habitantes.
As metrópoles tendem a acentuar os contrastes sociais. É onde
convivem a parcela mais rica da
população e o maior contingente
de desempregados.
É onde se encontram o maior
mercado consumidor e uma
enorme quantidade de mão-de-obra disponível para qualquer
empreitada, desde o narcotráfico
até o contrabando de armas.
É, como mostram os casos de
Vitória (ES) e Diadema, onde a
polícia é mais violenta e, por vezes, também criminosa.
A esse cenário de exclusão social
exacerbada somam-se ingredientes como falta de opções de lazer,
abundância de bares clandestinos
pela periferia e disseminação do
uso de armas de fogo.
A combustão ocorre nos limites
mais pobres das metrópoles, onde as taxas de homicídio são até 12
vezes mais altas do que a dos bairros centrais. Distritos paulistanos
como Jardim Paulista e Consolação desfrutam taxas de assassinato menores do que Nova York.
Encravada entre as periferias de
São Paulo e de São Bernardo do
Campo, Diadema é o melhor
exemplo dessa centrifugação dos
assassinatos. Mas a irradiação da
violência não parece parar por aí.
Seguindo o fluxo de mercadorias e serviços, o crime tende a diminuir à medida que se afasta da
metrópole.
Três cidades do Vale do Paraíba,
com perfil socioeconômico semelhante, são um bom exemplo.
A 68 quilômetros de São Paulo,
Jacareí tem uma taxa de 67,6 assassinatos por 100 mil habitantes.
Cerca de 30 quilômetros adiante,
em São José dos Campos, a taxa já
é de 46,6/100 mil. E cai para 16,6/
100 mil quando chega ao quilômetro 134, em Taubaté.
(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)
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