São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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CRIME
Ele diz que narcotráfico é a maior causa da violência no Estado, mas admite sucateamento da segurança pública
Governador culpa tráfico de drogas


da enviada especial a Vitória

"Nós estamos abrindo o armário e os esqueletos continuam caindo." A frase resume a situação que o governador do Espírito Santo, José Ignácio Ferreira (PSDB), descreve ao explicar como está tentando combater a violência.
Em entrevista à Folha, ele e seu secretário da Segurança, o mineiro José Resende, reconheceram que há grupos de extermínio agindo no Estado e que policiais fazem parte desses grupos. Mas a maior causa de violência, dizem, é a ação do narcotráfico.
O governador afirma que encontrou a segurança pública sucateada e que o policiamento ostensivo é falho. Mas ele pede um voto de confiança: "Esse é um governador que quer acertar."
Leia abaixo trechos da entrevista. (MG)

Folha - O que explica os altos índices de violência em Vitória e Grande Vitória?
José Ignácio Ferreira -
Até o dia 31 de dezembro, o que estava acontecendo? Nas prisões houve cerca de 900 fugas e motins ao longo dos quatro anos. Havia presídios que não tinham nem mais porta. Os presos entravam e saíam à vontade. Havia o seguinte ambiente: assaltos a bancos, arrastões nas ruas de Vitória, tiroteios no meio da rua. As cadeias eram como hotéis. Hoje, isso acabou. Quando chegamos, os presídios foram ocupados, sem violência. E esse foi um passo decisivo. O nosso principal problema é que pode haver o que for, mas sempre há o narcotráfico por trás.

Folha - E qual a sua política para enfrentá-lo?
Ferreira -
Não se enfrenta o narcotráfico com polícia na rua, gritando. Por isso é que o Exército tem que nos ajudar. Nós precisamos mais de inteligência que de força bruta. O Estado não pode e não vai admitir que algo esteja fora do nosso controle.

Folha - E como o senhor vai fazer isso? Vai chamar o Exército para subir morros, como no Rio?
Ferreira -
Não, subir morro não. Vamos chamá-lo para ajudar a montar os esquemas, na logística e na inteligência. E estamos descobrindo o bandido dentro da polícia. Porque na polícia tem bandido, mas graças a Deus a maioria é de gente de bem.

Folha - O que se diz é que o que está por trás disso tudo é o sucateamento da segurança pública.
Ferreira -
É, está sucateada. Estamos recuperando com grande sacrifício de recursos. Eu tenho por regra não sair atirando para trás, mas nós estamos abrindo o armário e os esqueletos continuam caindo.

Folha - E que há uma forte sensação de impunidade.
Ferreira -
Eu encontrei muitos crimes sem solução, mas lutamos contra isso.

José Resende - Só que encontramos muita falta de autoridade. Havia delegados respondendo por cinco homicídios. Agora nomeamos 40 delegados.

Folha - Então a polícia está mesmo envolvida nos crimes?
Ferreira -
Tem, no caso da Serra, tem, mas nós sabemos quem são e onde estão. E detectamos grupos de extermínio, formados por civis e policiais. Não vou mentir para você. Mas agora vamos para a parte repressiva.

Folha - O diagnóstico das pessoas que ouvimos é de que o tráfico, principal causa de homicídios, tem ramificações, formadas por grupos de extermínio, dos quais participam os policiais.
Ferreira -
É verdade, mas não são todos os grupos que têm policiais. A maioria dos policiais, gente de bem, está nas ruas.


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