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CRIME
Ele diz que narcotráfico é a maior causa da violência no Estado, mas admite sucateamento da segurança pública
Governador culpa tráfico de drogas
da enviada especial a Vitória
"Nós estamos abrindo o armário e os esqueletos continuam
caindo." A frase resume a situação que o governador do Espírito
Santo, José Ignácio Ferreira
(PSDB), descreve ao explicar como está tentando combater a violência.
Em entrevista à Folha, ele e seu
secretário da Segurança, o mineiro José Resende, reconheceram
que há grupos de extermínio
agindo no Estado e que policiais
fazem parte desses grupos. Mas a
maior causa de violência, dizem, é
a ação do narcotráfico.
O governador afirma que encontrou a segurança pública sucateada e que o policiamento ostensivo é falho. Mas ele pede um voto
de confiança: "Esse é um governador que quer acertar."
Leia abaixo trechos da entrevista.
(MG)
Folha - O que explica os altos
índices de violência em Vitória e
Grande Vitória?
José Ignácio Ferreira - Até o dia
31 de dezembro, o que estava
acontecendo? Nas prisões houve
cerca de 900 fugas e motins ao
longo dos quatro anos. Havia presídios que não tinham nem mais
porta. Os presos entravam e
saíam à vontade. Havia o seguinte
ambiente: assaltos a bancos, arrastões nas ruas de Vitória, tiroteios no meio da rua. As cadeias
eram como hotéis. Hoje, isso acabou. Quando chegamos, os presídios foram ocupados, sem violência. E esse foi um passo decisivo.
O nosso principal problema é que
pode haver o que for, mas sempre
há o narcotráfico por trás.
Folha - E qual a sua política para enfrentá-lo?
Ferreira - Não se enfrenta o narcotráfico com polícia na rua, gritando. Por isso é que o Exército
tem que nos ajudar. Nós precisamos mais de inteligência que de
força bruta. O Estado não pode e
não vai admitir que algo esteja fora do nosso controle.
Folha - E como o senhor vai fazer isso? Vai chamar o Exército
para subir morros, como no Rio?
Ferreira - Não, subir morro não.
Vamos chamá-lo para ajudar a
montar os esquemas, na logística
e na inteligência. E estamos descobrindo o bandido dentro da polícia. Porque na polícia tem bandido, mas graças a Deus a maioria
é de gente de bem.
Folha - O que se diz é que o
que está por trás disso tudo é o
sucateamento da segurança pública.
Ferreira - É, está sucateada. Estamos recuperando com grande
sacrifício de recursos. Eu tenho
por regra não sair atirando para
trás, mas nós estamos abrindo o
armário e os esqueletos continuam caindo.
Folha - E que há uma forte
sensação de impunidade.
Ferreira - Eu encontrei muitos
crimes sem solução, mas lutamos
contra isso.
José Resende - Só que encontramos muita falta de autoridade.
Havia delegados respondendo
por cinco homicídios. Agora nomeamos 40 delegados.
Folha - Então a polícia está
mesmo envolvida nos crimes?
Ferreira - Tem, no caso da Serra, tem, mas nós sabemos quem
são e onde estão. E detectamos
grupos de extermínio, formados
por civis e policiais. Não vou
mentir para você. Mas agora vamos para a parte repressiva.
Folha - O diagnóstico das pessoas que ouvimos é de que o
tráfico, principal causa de homicídios, tem ramificações, formadas por grupos de extermínio,
dos quais participam os policiais.
Ferreira - É verdade, mas não
são todos os grupos que têm policiais. A maioria dos policiais, gente de bem, está nas ruas.
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