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PM usa balas de borracha em protesto de estudantes
Alunos da Fundação Santo André invadiram reitoria; oficial que comandou ação foi afastado
Polícia foi chamada pela direção da faculdade; manifestantes ficaram espremidos em um corredor e vários ficaram feridos
Ricardo Trida
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Manifestante apanha da PM anteontem em Santo André |
ANDRÉ CARAMANTE
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Militar de São Paulo
usou balas de borracha, bombas de efeito moral e spray com
gás de pimenta para retirar, na
noite de quinta-feira, cerca de
300 alunos que invadiram a reitoria do Centro Universitário
Fundação Santo André, uma
das mais importantes faculdades particulares do ABC.
A invasão da reitoria da faculdade ocorreu por volta das
19h30 de quinta. Quatro horas
depois, cerca de 50 policiais da
Força Tática (espécie de tropa
especial) chegaram ao local para retirar os manifestantes, que
protestavam contra o aumento
das mensalidades -a instituição nega que tenha definido
reajuste. A polícia foi chamada
pela direção da faculdade.
Os estudantes se negaram a
sair do local e, segundo eles, foram atingidos por bombas e tiros de borracha enquanto se espremiam em um corredor que
dava acesso à reitoria. Vários
alunos disseram que a ação da
PM foi truculenta. "Eles nem
conversaram. Só entraram e
bateram na gente. A polícia foi
opressora e arbitrária", disse a
estudante de Ciências Sociais
Suellen Rodrigues, 24, que foi
levada à delegacia.
Por conta da ação, o comando da PM afastou o oficial que
liderou os policiais: o tenente-coronel Jairo Bonifácio.
Vários alunos ficaram feridos
no confronto -alguns fugiram
da polícia, pulando para casas
que ficam ao lado da faculdade.
Hélio Miguel Pereira, 31, aluno de história, foi atingido por
cassetetes nas costas, pernas e
na cabeça. Sangrando muito,
ele disse que só não apanhou
mais porque fugiu. "Pulei o muro", disse ele, que levou sete
pontos na cabeça. "Foi terrível", afirmou o rapaz -que ontem à noite participou de uma
assembléia em que os alunos
decidiram entrar em greve.
Oito pessoas foram detidas e
levadas para uma delegacia da
cidade, onde acabaram acusadas de esbulho possessório (invasão, com violência a pessoa
ou grave ameaça, ou mediante
concurso de mais de duas pessoas, de terreno ou edifício
alheio, segundo o Código Penal), dano e resistência à prisão.
Dos detidos, sete eram alunos da faculdade. O outro foi o
advogado Lourival Scarebello,
45, que tentava ajudar nas negociações entre alunos e PMs.
Todos foram liberados.
Segundo documentos policiais, só Fernando José Guergolet, 21, disse ter sido espancado pelos PMs. Ele foi o único
que, até a conclusão desta edição, passou por exame de corpo
de delito. Vilma Claudino Alves, 48, mãe do aluno de história Lucas, 21, porém, afirma
que o filho foi agredido e está
com o corpo dolorido. Ele registrou queixa apenas pelo sumiço de seus pertences, diz Vilma. Nenhum policial se feriu.
Segundo a PM, a retirada à
força ocorreu após pelo menos
cinco tentativas de negociações
para que os alunos deixassem a
reitoria. A PM vai investigar se
alguns dos policiais da ação
prestam serviços à fundação.
Colaborou WILLIAN VIEIRA
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