São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2007

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PM usa balas de borracha em protesto de estudantes

Alunos da Fundação Santo André invadiram reitoria; oficial que comandou ação foi afastado

Polícia foi chamada pela direção da faculdade; manifestantes ficaram espremidos em um corredor e vários ficaram feridos

Ricardo Trida
Manifestante apanha da PM anteontem em Santo André


ANDRÉ CARAMANTE
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Militar de São Paulo usou balas de borracha, bombas de efeito moral e spray com gás de pimenta para retirar, na noite de quinta-feira, cerca de 300 alunos que invadiram a reitoria do Centro Universitário Fundação Santo André, uma das mais importantes faculdades particulares do ABC.
A invasão da reitoria da faculdade ocorreu por volta das 19h30 de quinta. Quatro horas depois, cerca de 50 policiais da Força Tática (espécie de tropa especial) chegaram ao local para retirar os manifestantes, que protestavam contra o aumento das mensalidades -a instituição nega que tenha definido reajuste. A polícia foi chamada pela direção da faculdade.
Os estudantes se negaram a sair do local e, segundo eles, foram atingidos por bombas e tiros de borracha enquanto se espremiam em um corredor que dava acesso à reitoria. Vários alunos disseram que a ação da PM foi truculenta. "Eles nem conversaram. Só entraram e bateram na gente. A polícia foi opressora e arbitrária", disse a estudante de Ciências Sociais Suellen Rodrigues, 24, que foi levada à delegacia.
Por conta da ação, o comando da PM afastou o oficial que liderou os policiais: o tenente-coronel Jairo Bonifácio.
Vários alunos ficaram feridos no confronto -alguns fugiram da polícia, pulando para casas que ficam ao lado da faculdade.
Hélio Miguel Pereira, 31, aluno de história, foi atingido por cassetetes nas costas, pernas e na cabeça. Sangrando muito, ele disse que só não apanhou mais porque fugiu. "Pulei o muro", disse ele, que levou sete pontos na cabeça. "Foi terrível", afirmou o rapaz -que ontem à noite participou de uma assembléia em que os alunos decidiram entrar em greve.
Oito pessoas foram detidas e levadas para uma delegacia da cidade, onde acabaram acusadas de esbulho possessório (invasão, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, de terreno ou edifício alheio, segundo o Código Penal), dano e resistência à prisão.
Dos detidos, sete eram alunos da faculdade. O outro foi o advogado Lourival Scarebello, 45, que tentava ajudar nas negociações entre alunos e PMs. Todos foram liberados.
Segundo documentos policiais, só Fernando José Guergolet, 21, disse ter sido espancado pelos PMs. Ele foi o único que, até a conclusão desta edição, passou por exame de corpo de delito. Vilma Claudino Alves, 48, mãe do aluno de história Lucas, 21, porém, afirma que o filho foi agredido e está com o corpo dolorido. Ele registrou queixa apenas pelo sumiço de seus pertences, diz Vilma. Nenhum policial se feriu.
Segundo a PM, a retirada à força ocorreu após pelo menos cinco tentativas de negociações para que os alunos deixassem a reitoria. A PM vai investigar se alguns dos policiais da ação prestam serviços à fundação.


Colaborou WILLIAN VIEIRA


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