São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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ESTEIRA LIVRE

Megaoperação conjunta com o Ministério Público foi realizada em cinco Estados; 23 pessoas foram presas

PF desmonta rede de tráfico em aeroporto

TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Vinte e três pessoas acusadas de integrar uma quadrilha internacional de tráfico de cocaína foram presas preventivamente ontem em uma megaoperação da Polícia Federal realizada em cinco Estados (São Paulo, Rio, Paraná, Espírito Santo e Minas). A ação foi batizada pela PF de " Esteira Livre".
Entre os presos estão quatro funcionários da Sata (Serviços Auxiliares de Transportes Aéreos), empresa que presta serviços para o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, na Ilha do Governador (zona norte). Todos foram denunciados ontem mesmo pelo Ministério Público.
No total, incluindo os foragidos e os que já estavam presos, 34 pessoas integrariam a quadrilha.
Pela investigação, o transporte da droga -procedente do Paraguai, da Bolívia e da Colômbia e destinado à Europa- era facilitado por funcionários da Sata. Por meio deles, as malas com cocaína chegariam aos aviões sem passar pela esteira com raio X (capaz de identificar a droga) nem pela PF.
Em Curitiba, foi preso um dos supostos fornecedores da cocaína, o nigeriano Olanrewaju Charles Ayokanmi Akinmulero. Foram apreendidos com ele US$ 42.130 e R$ 6.000 em notas, 16 gramas de cocaína, 20 gramas de maconha, uma balança de precisão, rolos de fita adesiva, uma seladora plástica, dez aparelhos de celular, um carro e registros de transferência bancária internacional.
Segundo a PF, ele vendia a droga para seis financiadores do esquema. Três foram presos ontem, um já estava detido e os outros dois, italianos, estão foragidos.
Entre os presos no Rio de Janeiro está o empresário Ricardo Dantas Valente, detido em casa, um imóvel de luxo em São Conrado (zona sul). No momento da operação, ele chegou a ligar para a Polícia Militar avisando que um grupo de assaltantes vestidos de policiais tentava invadir sua casa.
O delegado Herbert Mesquita afirmou que os financiadores contratavam dois homens que levavam a droga para dentro do estacionamento do aeroporto. De lá, sempre de acordo com o relato da polícia, a droga chegava a Waltair Julião Tostes, funcionário da Sata responsável pela escala dos funcionários no transporte das bagagens, e depois a aviões da Varig, TAP, Taag e Ibéria.
Tostes, conforme a investigação, marcava as malas (com um lenço, por exemplo) para que os funcionários soubessem quais não passariam pela fiscalização.
Três funcionários foram presos ontem: Luiz Arouca Marques, Marco de Almeida Dalate e Willians Santos da Silva. Eles receberiam cerca de US$ 5.000 cada, por mala com entorpecentes liberada.

Rota portuguesa
A principal entrada da droga na Europa, segundo a PF, é Portugal. "Há indícios de que Wilson Vasconcelos [contador aposentado de 72 anos, preso] é o principal interlocutor da quadrilha. Tem contatos com financiadores, transportadores da droga para o aeroporto do Rio e com os compradores europeus", disse o delegado.
Para a polícia, Vasconcelos esperava o carregamento em Portugal e vendia a droga em outros países europeus. Ele seria responsável também por obter armamento para criminosos do Rio.
Apesar de ser considerado o homem mais exposto da quadrilha pelo delegado, Vasconcelos morava em uma casa sem luxo na favela Ladeira dos Tabajaras (em Copacabana).
As investigações começaram há cerca de dois anos depois da prisão de Sônia Helena Soares Mello White, capturada com 38 quilos de cocaína em Portugal.
Da operação participaram 210 policiais do Rio, Brasília, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. As prisões ocorreram no Paraná (uma em Curitiba) e no Rio (três na Região dos Lagos, uma na Baixada Fluminense e 16 na capital).


Colaborou a Agência Folha

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