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BARBARA GANCIA
A fé que não salva
Consigo entender os motivos que levaram o presidente
Lula a se encantar com George W.
Bush. Preferiria mil vezes sair para dançar com Bush filho do que
com John Kerry, que parece ter
sangue de basset hound correndo
nas veias.
Consigo concordar com boa
parte da cartilha econômica do
partido de Bush, que prega uma
menor interferência do Estado na
vida do contribuinte.
Consigo compreender os motivos que levaram Bush a rejeitar o
Protocolo de Kyoto, que prevê a
redução dos gases emitidos na atmosfera. Quando Bill Clinton se
comprometeu com o tratado e
com metas ambiciosas demais
para serem cumpridas, ele já tinha um pé fora da Casa Branca.
Consigo até encontrar boas justificativas para a guerra do Iraque. Considerando a instabilidade da área e sua importância estratégica, a noção de que os EUA
(com sólida aliança por trás) deveriam estar presentes no Oriente
Médio não me é ultrajante.
O que realmente não consigo
aceitar é que o presidente dos Estados Unidos use de sua fé na hora de legislar.
Como se já não bastassem a) o
programa para convencer jovens
a abdicar do sexo antes do casamento (que só serviu para promover a ignorância sobre métodos
de contracepção), b) a tentativa
de banir a união civil entre homossexuais e c) o fato de o presidente não ter feito nada para renovar a lei que bania o comércio
de armas de assalto (o "direito de
portar rifles AK-47" estaria expresso na Bíblia ou na Constituição?), Bush usou de sua crença religiosa para impedir a pesquisa
ilimitada com células-tronco.
Para ter uma noção do retrocesso que isso representa, basta dizer
que, em seu primeiro pronunciamento depois da morte do marido, por Alzheimer, Nancy Reagan
(que dizem ter sido a responsável
por levar Ronald Reagan do centro à direita do espectro político)
soltou os cachorros contra Bush.
A morte de Christopher Reeve,
que conheci em São Paulo, nos
anos 70, quando ele ainda não
era o Clark Kent, e sua menção
nos debates presidenciais, trouxe
o assunto à tona.
Para Bush, embriões fertilizados equivalem a vidas humanas.
Mas vem cá: um embrião fertilizado não precisa primeiro se alojar na parede do útero para só então ter chances de começar ou
não a se desenvolver?
As clínicas de fertilização guardam milhares de embriões fertilizados, que nunca chegarão a útero nenhum. Em vez de mantê-los
congelados eternamente, não seria "ciência sã" (termo de Bush)
utilizá-los para salvar vidas?
QUALQUER NOTA
Trocadilho
Em Fort Lauderdale, na Flórida, um amigo tapuia desta colunista empregou US$ 400 na
campanha do candidato democrata John Kerry. O dinheiro foi
gasto para comprar e distribuir
aos amigos cem adesivos com o
singelo lema: "Buck Fush".
Comodidade
Alguns camelôs do largo 13 já
estão aceitando pagamento
com cartão de crédito. Será que
isso significa que, em breve, veremos na televisão comerciais
com mensagens do tipo: "CD
pirata, R$ 5. Tênis Nike do Paraguai, R$ 30. Compras ao ar livre: não têm preço"?
E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
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