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TEORIA DA EVOLUÇÃO
Edifício a ser inaugurado em julho de 2005 tem arquitetura futurista, com vidros espelhados e aros de aço
Foguete de vidro muda a cara da Paulista
MAYRA STACHUK
DA REPORTAGEM LOCAL
Primeiro eram os imponentes
casarões. Na seqüência vieram os
arranha-céus e as antenas de televisão. A partir de julho do ano que
vem, a avenida Paulista, cartão-postal e coração econômico de
São Paulo, terá o seu primeiro edifício futurista. O "foguete" de 87
metros de altura será feito de vidros espelhados e aros de aço.
Além da obra em si, que reflete
uma modernidade específica ainda pouco freqüente na cidade, o
prédio deve causar desconforto
por destoar da forma das outras
construções da avenida - ele ficará quase em frente ao hospital
Santa Catarina e ao lado da escola
Rodrigues Alves, ambos de visual
mais tradicional.
Além disso, a avenida Paulista é
um dos principais símbolos da capital e um dos lugares capazes de
despertar ciúme e resistência no
povo paulistano quando o assunto é mudança.
Mas, para o criador do "foguete", o arquiteto Ruy Ohtake (o
mesmo da "melancia gigante", o
hotel Unique da avenida Brigadeiro Luís Antônio), estranhamento não é a reação esperada.
Ele quer causar surpresa, sentimento que, acredita, é uma das
características da arquitetura brasileira. "Foi o que [Oscar] Niemeyer causou quando construiu Brasília", afirma o arquiteto, mencionando uma de suas referências.
"Assim como o Unique, alguns
podem não gostar. Paciência. O
importante é colocar o inesperado na paisagem."
Além da fachada inusitada, o
edifício de Ohtake terá outros diferenciais. O pé-direito do salão
de entrada terá 8,5 metros. O espaço, além da recepção, contará
com exposições constantes de
obras de arte. Ohtake diz que espera assim atrair comunidades,
gente. "Essa é a função da arquitetura contemporânea", afirma.
Serão 17 andares com salas de
1.030 m2 ou 515 m2. O aluguel das
salas menores está estimado em
R$ 38 mil. Na estrutura são cinco
elevadores, um heliponto e 30 vagas de garagem por andar.
Na opinião do presidente da Associação Paulista Viva, Nelson
Baeta Neves, com arquitetura
agradando ou não, o prédio deve
ser bem-vindo na avenida que,
para ele, é uma precursora de
construções inusitadas.
Neves cita como exemplo o prédio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),
que, na ocasião de sua constituição, na década de 70, foi apelidado de "ralador de queijo". "Hoje a
Paulista está preparada tecnologicamente para receber prédios
modernos como esse, que, até então, eram um privilégio da [avenida Luís Carlos] Berrini."
Sem comentários
Entre os arquitetos e urbanistas,
a maioria prefere não fazer comentários sobre o projeto. Nem
para elogiar nem para criticar. "É
uma contribuição positiva para a
Paulista. Gostar ou não é pessoal",
afirma o arquiteto Lúcio Gomes
Machado, conselheiro do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado
de São Paulo).
O professor de arquitetura e urbanismo da USP (Universidade
de São Paulo) Adilson Costa Macedo diz que a diversidade de formas é positiva para a avenida e já é
uma característica da cidade. Em
sua definição, a arquitetura de
Ruy Ohtake, como a de Niemeyer,
é a obra em si, não se preocupa
muito com o entorno.
"O principal assunto não deveria ser a estética, o fato de lembrar
um foguete ou um radiador, mas
a questão ambiental, de sustentabilidade. Um prédio todo espelhado aquece demais a rua."
Se daqui a 10 ou 20 anos a avenida estará tomada por "foguetes"
nenhum dos dois se arrisca a responder. "Até lá, certamente haverá outras demandas", afirma o
conselheiro do Condephaat.
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