São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEORIA DA EVOLUÇÃO

Edifício a ser inaugurado em julho de 2005 tem arquitetura futurista, com vidros espelhados e aros de aço

Foguete de vidro muda a cara da Paulista

MAYRA STACHUK
DA REPORTAGEM LOCAL

Primeiro eram os imponentes casarões. Na seqüência vieram os arranha-céus e as antenas de televisão. A partir de julho do ano que vem, a avenida Paulista, cartão-postal e coração econômico de São Paulo, terá o seu primeiro edifício futurista. O "foguete" de 87 metros de altura será feito de vidros espelhados e aros de aço.
Além da obra em si, que reflete uma modernidade específica ainda pouco freqüente na cidade, o prédio deve causar desconforto por destoar da forma das outras construções da avenida - ele ficará quase em frente ao hospital Santa Catarina e ao lado da escola Rodrigues Alves, ambos de visual mais tradicional.
Além disso, a avenida Paulista é um dos principais símbolos da capital e um dos lugares capazes de despertar ciúme e resistência no povo paulistano quando o assunto é mudança.
Mas, para o criador do "foguete", o arquiteto Ruy Ohtake (o mesmo da "melancia gigante", o hotel Unique da avenida Brigadeiro Luís Antônio), estranhamento não é a reação esperada. Ele quer causar surpresa, sentimento que, acredita, é uma das características da arquitetura brasileira. "Foi o que [Oscar] Niemeyer causou quando construiu Brasília", afirma o arquiteto, mencionando uma de suas referências. "Assim como o Unique, alguns podem não gostar. Paciência. O importante é colocar o inesperado na paisagem."
Além da fachada inusitada, o edifício de Ohtake terá outros diferenciais. O pé-direito do salão de entrada terá 8,5 metros. O espaço, além da recepção, contará com exposições constantes de obras de arte. Ohtake diz que espera assim atrair comunidades, gente. "Essa é a função da arquitetura contemporânea", afirma.
Serão 17 andares com salas de 1.030 m2 ou 515 m2. O aluguel das salas menores está estimado em R$ 38 mil. Na estrutura são cinco elevadores, um heliponto e 30 vagas de garagem por andar.
Na opinião do presidente da Associação Paulista Viva, Nelson Baeta Neves, com arquitetura agradando ou não, o prédio deve ser bem-vindo na avenida que, para ele, é uma precursora de construções inusitadas.
Neves cita como exemplo o prédio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que, na ocasião de sua constituição, na década de 70, foi apelidado de "ralador de queijo". "Hoje a Paulista está preparada tecnologicamente para receber prédios modernos como esse, que, até então, eram um privilégio da [avenida Luís Carlos] Berrini."

Sem comentários
Entre os arquitetos e urbanistas, a maioria prefere não fazer comentários sobre o projeto. Nem para elogiar nem para criticar. "É uma contribuição positiva para a Paulista. Gostar ou não é pessoal", afirma o arquiteto Lúcio Gomes Machado, conselheiro do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo).
O professor de arquitetura e urbanismo da USP (Universidade de São Paulo) Adilson Costa Macedo diz que a diversidade de formas é positiva para a avenida e já é uma característica da cidade. Em sua definição, a arquitetura de Ruy Ohtake, como a de Niemeyer, é a obra em si, não se preocupa muito com o entorno.
"O principal assunto não deveria ser a estética, o fato de lembrar um foguete ou um radiador, mas a questão ambiental, de sustentabilidade. Um prédio todo espelhado aquece demais a rua."
Se daqui a 10 ou 20 anos a avenida estará tomada por "foguetes" nenhum dos dois se arrisca a responder. "Até lá, certamente haverá outras demandas", afirma o conselheiro do Condephaat.


Texto Anterior: Balança desregulada: SP lidera ranking de idosos "gordinhos"
Próximo Texto: Vila Madalena tem centro para informar turista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.