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Tema da 27ª Bienal de São Paulo, convivência vira o grande desafio do século
DEBORAH GIANNINI
DA REVISTA DA FOLHA
Desde compartilhar o banheiro com o cônjuge até tolerar o aroma da comida do
vizinho estrangeiro -o convívio tornou-se um dos maiores desafios do século 21.
É possível coabitar sem excluir as liberdades individuais? O assunto inspira a 27ª
Bienal de São Paulo, cujo tema é "Como Viver Junto".
Embora a tendência seja as
pessoas se agruparem em
moradias coletivas, como edifícios e condomínios, a valorização do individualismo e da
privacidade cresce na mesma
medida. A opinião é da psicóloga social Ana Bock, professora da PUC-SP. "A grande
dificuldade de viver junto
nasce dessa contradição."
Para a antropóloga Liana
Trindade, livre docente da
USP, as pessoas tendem a enxergar o outro como rival, seja o colega de trabalho, o vizinho, o parente e até o marido.
"O individualismo é uma demanda do capitalismo atual."
Na vida em família, antigamente, os problemas de convivência eram resolvidos por
meio da autoridade paterna.
"O pai decidia o que todos iam
comer, por exemplo, e não
havia discussão", lembra Ana.
Menos hierárquica, a família,
assim como outros grupos sociais, busca regras coletivas.
"As normas serão construídas a partir das discussões."
Cada grupo desenvolve o
seu sistema de sobrevivência.
Em um apartamento só de
modelos, a governanta Valdeci Alves Santos é quem dita as
regras. "Sou linha dura, por
isso existe esse apartamento.
Quem não me respeitar sai",
diz. Sua principal função é
controlar o horário das meninas, que devem estar em casa
às 20h30, e impedir a entrada
de homens.
Já o contador Angel e a advogada Rosana são chefes de
uma família com 18 rebentos
-11 deles vivem no casarão. A
mãe comanda a tropa com
calma e leveza. Um dos segredos é não valorizar bobagens,
como o leite derramado na
mesa. Privacidade? "Ah, isso
não tem por aqui", diz Alexsandra, 23. "Mas tem amor e
diversão de sobra", conclui.
Em clima de irmandade,
coabitam os moradores de 16
casas na vila Ângela, na Barra
Funda. "Não existe estatuto,
nosso único código é a porta.
Se está aberta, significa "sejam bem-vindos". Quando fechada, quer dizer que o morador quer sossego", explica a
atriz Carlota Joaquina, 41.
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