São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2006

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Tema da 27ª Bienal de São Paulo, convivência vira o grande desafio do século

DEBORAH GIANNINI
DA REVISTA DA FOLHA

Desde compartilhar o banheiro com o cônjuge até tolerar o aroma da comida do vizinho estrangeiro -o convívio tornou-se um dos maiores desafios do século 21.
É possível coabitar sem excluir as liberdades individuais? O assunto inspira a 27ª Bienal de São Paulo, cujo tema é "Como Viver Junto".
Embora a tendência seja as pessoas se agruparem em moradias coletivas, como edifícios e condomínios, a valorização do individualismo e da privacidade cresce na mesma medida. A opinião é da psicóloga social Ana Bock, professora da PUC-SP. "A grande dificuldade de viver junto nasce dessa contradição."
Para a antropóloga Liana Trindade, livre docente da USP, as pessoas tendem a enxergar o outro como rival, seja o colega de trabalho, o vizinho, o parente e até o marido. "O individualismo é uma demanda do capitalismo atual."
Na vida em família, antigamente, os problemas de convivência eram resolvidos por meio da autoridade paterna. "O pai decidia o que todos iam comer, por exemplo, e não havia discussão", lembra Ana. Menos hierárquica, a família, assim como outros grupos sociais, busca regras coletivas. "As normas serão construídas a partir das discussões."
Cada grupo desenvolve o seu sistema de sobrevivência. Em um apartamento só de modelos, a governanta Valdeci Alves Santos é quem dita as regras. "Sou linha dura, por isso existe esse apartamento. Quem não me respeitar sai", diz. Sua principal função é controlar o horário das meninas, que devem estar em casa às 20h30, e impedir a entrada de homens.
Já o contador Angel e a advogada Rosana são chefes de uma família com 18 rebentos -11 deles vivem no casarão. A mãe comanda a tropa com calma e leveza. Um dos segredos é não valorizar bobagens, como o leite derramado na mesa. Privacidade? "Ah, isso não tem por aqui", diz Alexsandra, 23. "Mas tem amor e diversão de sobra", conclui.
Em clima de irmandade, coabitam os moradores de 16 casas na vila Ângela, na Barra Funda. "Não existe estatuto, nosso único código é a porta. Se está aberta, significa "sejam bem-vindos". Quando fechada, quer dizer que o morador quer sossego", explica a atriz Carlota Joaquina, 41.


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