São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2010

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Mercúrio em área pública contamina crianças no interior

Elas levaram para a escola bolinhas de líquido prateado que acharam em terreno perto de casa, em Rosana (SP)

Crianças de dois e três anos podem ter dano neurológico irreversível e prefeitura recebeu multa; polícia investiga

CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando Solange Antunes, 30, entrou em sua casa, viu os móveis e o chão cobertos por bolinhas de um líquido prateado que seus filhos de oito e dez anos haviam achado num terreno municipal e derramaram ao brincar.
Poucos dias depois, no final de junho, eles e os outros quatro irmãos começaram a ter febre, diarreia, vômito e irritações na pele -estavam contaminados por mercúrio.
As crianças levaram as bolinhas para a escola e ajudaram inadvertidamente a espalhar uma contaminação que expôs mais de cem pessoas no distrito Primavera, em Rosana (748 km de SP).
Dois dos seis filhos de Solange, Lorraine e Estefane, de dois e três anos, apresentaram o quadro mais grave.
Ficaram 12 dias internadas, dois meses em casa e, em setembro, foram transferidas para Presidente Prudente e depois para o Hospital das Clínicas da Unicamp, para tratamento adequado, até o último dia 2.
Elas correm risco de ter danos neurológicos irreversíveis. O mercúrio é tóxico, causa danos ao sistema nervoso e pode ser fatal, se inalado em grande quantidade.
A família também teve que deixar a casa, interditada.
O secretário municipal de Saúde, David Rodrigues, diz que, dos 130 exames de pessoas com suspeita de contato, cerca de 50 o apresentaram na urina e, dessas, 12 tiveram um nível "crítico" de mercúrio no sangue e estão intoxicadas. Alguns resultados ainda não estão prontos.
O terreno onde as crianças acharam cerca de 20 frascos -ou 1,5 kg- de mercúrio metálico numa sacola de lixo era usado como depósito de entulho pela prefeitura.
Ao procurar saber o que ocorreu, parentes encontraram seringas, luvas e outros materiais de lixo hospitalar, que não poderiam estar ali.
A área foi interditada pela Cetesb (agência ambiental de SP), que disse que o local era aberto e sem controle de acesso e aplicou multa de R$ 82.116,42 à prefeitura.
Segundo Rodrigues, a polícia investiga quem despejou os frascos no local inadequado, mas ainda não há pistas. "Pela grande quantidade, é de clínica particular."
O secretário diz que oito fiscais da Vigilância Sanitária da cidade recolhem lixo hospitalar e o encaminham para a destinação correta.
Ele afirma que foi feita uma campanha nas escolas da cidade e a prefeitura conseguiu rastrear todas as pessoas que estiveram em contato com o metal tóxico, que foram visitadas e tratadas.


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