São Paulo, sábado, 15 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Cakoff lutou contra censura e impôs sua visão reveladora

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Em matéria de Leon Cakoff, impossível não ser pessoal. Eu o conheci quando trabalhava no "Diário da Noite" e dividia a coluna de cinema com Renato Petri.
"Tom e Mix" era o nome que já enunciava ser uma coluna feita de revólver em punho, pronta para a briga.
Não sei o quanto brigou quando foi trabalhar no Masp nas primeiras Mostras.
Antes até que isso acontecesse, já promovera uma bela retrospectiva do cinema português, por exemplo. Logo que pôde, Leon tornou o evento independente.
Desde então deixou de ser "a mostra do Masp" para ser "a mostra do Cakoff". Era assim que a tratávamos. Era justo que fosse. Quem chegou há pouco tempo não tem ideia do que era organizá-la.
Tratava-se de lutar contra a ditadura, a censura, a burocracia, a falta de dinheiro... Às vezes tudo isso junto.
Os riscos eram muitos. No comando da Mostra, Leon impôs sua visão: defendia um cinema humanista, progressista, resistente quando preciso, sempre vivo.
Nunca deixou de defender seus pontos de vista. O que lhe valeu a fama de tirano e briguento. Pode ser que tenha sido mesmo. Mas é graças a isso que a Mostra não é uma coisa amorfa: seu ponto de vista está lá, sempre esteve.
Às vezes precisava ameaçar dar fim no evento para que Estado e prefeitura se mobilizassem. No dia certo, estava tudo lá.
Houve um tempo em que, por conta da concorrência com o Festival do Rio, precisou trabalhar com cineastas obscuros de lugares distantes. Não os que ganhavam festivais, mas que às vezes ganhariam mais tarde, como o húngaro Béla Tarr.
Do que mostrou muita coisa ficou na poeira. Mas como esquecer os magníficos cineastas que revelou? Alguns deles: Manoel de Oliveira, Abbas Kiarostami, Amos Gitai.
Sem falar das retrospectivas: Roger Corman, cinema iraniano, Satyajit Ray, Eizo Sugawa, cinema sueco... É impossível nomear tudo.
Seja pelos filmes que trouxe, livros que lançou e filmes que distribuiu e mais recentemente começou a produzir, Leon Cakoff se tornou um personagem mais que relevante não só do cinema como da cultura. Vivencio seu desaparecimento como uma catástrofe, pessoal, mas, sobretudo, para o ar que São Paulo respira.


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