São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

Próximo Texto | Índice

BEBÊ SEQUESTRADO

Acusação é baseada em depoimentos, não divulgados, de parentes de Vilma Martins Costa, que nega o crime

Mãe adotiva levou Pedrinho, afirma polícia

Edilson Rodrigues/"Correio Brasiliense"
Vilma, com Pedrinho ao fundo, sai de casa


LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Civil de Brasília divulgou ontem ter identificado como a autora do sequestro de Pedrinho sua própria mãe adotiva, Vilma Martins Costa, 47. Ela nega.
Há quase 17 anos, o recém-nascido foi levado de uma maternidade, em Brasília. O adolescente foi registrado como filho natural, com o nome de Osvaldo Martins Borges Júnior.
"Não tenho a menor dúvida de que tenha sido a Vilma", afirmou o delegado Hertz Andrade, que preside o inquérito que apura o desaparecimento do menino.
A polícia acusa Vilma com base em depoimentos que seriam do irmão e da irmã dela.
O irmão, que mora em Goiânia, teria dito anteontem, em depoimento, que levou Vilma de carro a Brasília em janeiro de 1986, mês em que o bebê chamado de Pedrinho pelos pais foi sequestrado.
A irmã teria completado a história dizendo que o irmão teria aguardado na porta do hospital e depois levado Vilma e um bebê, que teria sido "ganho", até o aeroporto.
A Polícia Civil, porém, não divulgou oficialmente os depoimentos nem os nomes das pessoas, que são considerados por dois delegados as principais testemunhas que apontariam Vilma como a sequestradora.

Outro lado
Por meio de seu advogado, Ezízio Barbosa, Vilma manteve a versão apresentada na última sexta-feira: o bebê foi entregue a seu marido, Osvaldo Martins Borges -que morreu no mês passado de câncer-, por uma gari de Brasília. A criança teria sido registrada como filho próprio para evitar a "burocracia" da adoção, ainda segundo sua versão.
A declaração foi uma correção ao depoimento que ela deu antes da divulgação do exame de DNA que confirmou a verdadeira identidade de Osvaldo Júnior, na última sexta-feira. Naquela ocasião, Vilma declarou que o jovem era seu filho natural.
A irmã, no depoimento dado à polícia, também teria dito que Vilma teria forjado a gravidez de Júnior "tomando remédios para ficar inchada" e que pelo menos uma das outras quatro filhas também seria adotada, possivelmente "da mesma forma que Pedrinho".
A polícia também localizou uma casa, localizada "em bairro afastado de Goiânia", que Vilma e o marido alugaram em 1986. Segundo o delegado Hertz Andrade, o local teria servido para "esconder" o bebê.
De acordo com o chefe da delegacia de homicídios, Julião Ribeiro, Vilma não tem bom relacionamento com os irmãos, de quem já foi patroa, mas isso não colocaria em dúvida o depoimento.

"Confissão"
Antes de conseguir as informações dos irmãos, os delegados Andrade e Ribeiro também conversaram com Vilma anteontem em Goiânia.
Eles usaram um depoimento de uma testemunha que estava no hospital em Brasília para pressioná-la. Maria Eugenia Abreu disse ter reconhecido Vilma como a mulher que saiu do hospital com uma sacola na qual estaria o bebê.
Segundo Andrade, depois de horas de conversa, "artimanhas" e "dissimulação", Vilma teria dito: "Vou dizer que fui eu, mas não digo mais nada". A declaração não tem valor legal, já que não foi dada em um depoimento formal.
O advogado de Vilma nega a "confissão" e disse que a frase dela foi: "Podem me crucificar. Eu não vou falar o que não fiz. Sou inocente e seja o que Deus quiser".
Ontem, Vilma evitou a imprensa. "Ela está doente e precisa descansar", disse Barbosa.
O crime de sequestro do bebê, chamado de "subtração de menor" no Código Penal, prescreveu em 1994, e os culpados não podem mais ser processados.
Mas Vilma ainda está sujeita à acusação pelo crime de ter criado e registrado o filho de outra pessoa como próprio, que tem pena de dois a seis anos.
Essa acusação independe de quem tirou a criança do hospital, e o prazo de prescrição desse crime só começou a contar na sexta, quando se soube que o registro de Júnior era falso.

Reencontro
No último domingo, Jayro Tapajós e Maria Auxiliadora Braule Pinto, os pais biológicos de Pedrinho, tiveram o primeiro encontro com o filho. As duas famílias se reuniram em Goiânia, onde o rapaz foi criado.
O encontro, que reuniu as duas famílias, a biológica e a adotiva, durou cerca de quatro horas e culminou com um almoço em uma churrascaria em Goiânia.


Próximo Texto: Para psicólogo, lei não rege afeto
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.