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São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2003

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Violência faz 89% ficarem com "pé atrás"

DA REPORTAGEM LOCAL

A sensação de insegurança que aflige os moradores de São Paulo ultrapassa as barreiras de classe social, sexo e cor e reflete-se numa desconfiança geral: 89% das pessoas considera prudente ficar "sempre com um pé atrás" em relação aos outros. Só 11% acham possível confiar nos demais.
Esse é um dos resultados do Perfil da Vítima de Violência em São Paulo, realizado pela ONG Instituto Futuro Brasil. Segundo o estudo, metade dos moradores de São Paulo sofreu alguma violência no último ano.
No caso de agressões físicas ou verbais, apenas 21% das vítimas registraram boletim de ocorrência. Um dos motivos, apontado por 25% dos entrevistados que não notificaram a polícia, foi o medo de represálias.
Mas o temor não atinge só as vítimas. Dentre os entrevistados que declararam nunca ter sofrido nenhum tipo de agressão, furto ou roubo, 26,7% dizem ter dificuldade para dormir devido à violência. "O efeito perverso do crime é que ele afeta estilos de vida, a circulação e a capacidade que as pessoas têm de usufruir a cidade", afirma o sociólogo Leandro Piquet Carneiro, um dos coordenadores da pesquisa.
Segundo ele, as vítimas de roubos e furtos em São Paulo são, de modo geral, homens entre 24 e 34 anos, pertencentes às classes A e B, que costumam ter uma vida social ativa. As mulheres e idosos, embora mais vulneráveis, têm uma participação menor nesses índices. A explicação, segundo Carneiro, é justamente o temor.
"As pessoas que mais têm medo são as que sofrem menor risco de vitimização, como mulheres e pessoas idosas. Devido à própria fragilidade física, elas adotam procedimentos de proteção e são mais precavidas."
A pesquisa foi apresentada ontem ao secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho. Segundo o secretário, um dos pontos mais importantes do estudo foi a constatação de que os boletins de ocorrência constituem uma subnotificação da criminalidade. "Nós nos pautamos pelos BOs e a mídia também. E quando a gente estimulava o aumento do registro de ocorrências, esse dado aumentava a sensação de insegurança da população. Havia uma falsa percepção de todos e isso fazia as metas serem fixadas de forma errada. Essa pesquisa diz ao governo que o certo é investir em ações sociais que têm efeito na criminalidade."


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