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Violência faz 89% ficarem com "pé atrás"
DA REPORTAGEM LOCAL
A sensação de insegurança que aflige os moradores de São Paulo ultrapassa as barreiras de classe social, sexo e cor e reflete-se numa desconfiança geral: 89% das pessoas considera prudente ficar "sempre com um pé atrás" em relação aos outros. Só 11% acham possível confiar nos demais.
Esse é um dos resultados do
Perfil da Vítima de Violência em
São Paulo, realizado pela ONG
Instituto Futuro Brasil. Segundo o
estudo, metade dos moradores de
São Paulo sofreu alguma violência no último ano.
No caso de agressões físicas ou
verbais, apenas 21% das vítimas
registraram boletim de ocorrência. Um dos motivos, apontado
por 25% dos entrevistados que
não notificaram a polícia, foi o
medo de represálias.
Mas o temor não atinge só as vítimas. Dentre os entrevistados
que declararam nunca ter sofrido
nenhum tipo de agressão, furto
ou roubo, 26,7% dizem ter dificuldade para dormir devido à violência. "O efeito perverso do crime é
que ele afeta estilos de vida, a circulação e a capacidade que as pessoas têm de usufruir a cidade",
afirma o sociólogo Leandro Piquet Carneiro, um dos coordenadores da pesquisa.
Segundo ele, as vítimas de roubos e furtos em São Paulo são, de
modo geral, homens entre 24 e 34
anos, pertencentes às classes A e
B, que costumam ter uma vida social ativa. As mulheres e idosos,
embora mais vulneráveis, têm
uma participação menor nesses
índices. A explicação, segundo
Carneiro, é justamente o temor.
"As pessoas que mais têm medo
são as que sofrem menor risco de
vitimização, como mulheres e
pessoas idosas. Devido à própria
fragilidade física, elas adotam
procedimentos de proteção e são
mais precavidas."
A pesquisa foi apresentada ontem ao secretário da Segurança
Pública, Saulo de Castro Abreu
Filho. Segundo o secretário, um
dos pontos mais importantes do
estudo foi a constatação de que os
boletins de ocorrência constituem uma subnotificação da criminalidade. "Nós nos pautamos
pelos BOs e a mídia também. E
quando a gente estimulava o aumento do registro de ocorrências,
esse dado aumentava a sensação
de insegurança da população. Havia uma falsa percepção de todos
e isso fazia as metas serem fixadas
de forma errada. Essa pesquisa
diz ao governo que o certo é investir em ações sociais que têm
efeito na criminalidade."
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