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Anoréxica, modelo morre aos 21 com 40 kg
Na véspera de embarcar para Paris, Ana Carolina foi internada com insuficiência renal, que evoluiu para infecção generalizada
A garota já tinha passado temporadas desfilando na China, na Turquia e no Japão; prima diz que ela comia maçãs e tomates
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A viagem para fazer fotos em
Paris estava marcada para o dia
seguinte, mas, desta vez, a modelo Ana Carolina Reston Macan teve primeiro de acertar as
contas com sua saúde.
Internada no dia 25 de outubro com insuficiência renal,
Carolina estava tão debilitada
por causa de uma anorexia nervosa que sua pressão arterial
despencou, ela passou a ter dificuldade de respirar e seu quadro geral evoluiu para uma infecção generalizada.
Carol morreu ontem aos 21
anos, com cerca de 40 quilos
-em 1,74 m de altura. Quando
fez o book, seu quadril media 85
cm, mas isso foi na época em
que ainda era "gordinha".
Seu caso é um clássico. Nascida em Jundiaí numa família
de classe média, ela sonhava
em ser modelo desde criança:
por sorte (ou azar), ela venceu
um concurso realizado no interior; pouco depois foi descoberta por uma olheira de agência e,
logo, começou a "modelar". Tinha, então, 13 anos.
"Só a deixei viajar para o exterior sem eu ir junto depois
dos 17. O que eu podia fazer?
Não tinha dinheiro para pagar a
minha passagem", conta a mãe,
Míriam Reston, 58, ex-ourives
que há cinco anos virou vendedora de rua. "Me roubaram
quatro quilos de ouro em casa."
Nesse contexto, não era fácil
dar atenção a uma menina que,
com 17 anos, não parecia preparada para passar temporadas
de três ou quatro meses em países distantes como China, Turquia, México e Japão.
Amigos reunidos ontem na
saída do cemitério de Pirapora
do Bom Jesus (Grande SP) contavam que, no México, Carol
enfrentou falta de trabalho, foi
abandonada pela agência e já
não tinha dinheiro para comprar o tíquete de volta.
Ali, foi "adotada" por sua última agência, a L'Equipe, que a
enviou do México para o Japão.
"A Carol chegou a fazer um catálogo para o (Giorgio) Armani,
mas, pouco depois, a correspondente da agência lá me ligou dizendo que ela estava magra demais. Isso me pareceu
preocupante vindo de uma profissional acostumada a lidar
com modelos. Achamos melhor
trazê-la de volta", conta a dona
da L'Equipe, Lica Kohlrausch.
A empresária diz que não
percebeu, ao olhar para a menina na volta, nenhum sinal físico
de anorexia.
"Esses casos são mais raros
do que se propaga. Eu tive apenas uma menina anoréxica, em
1986, e nunca mais."
De acordo com a psicóloga
Maria Beatriz Meirelles Leite,
que há quatro anos presta serviço a agências de modelos como Ford e Marilyn, "cerca de
20% das meninas que chegam a
ir para o hospital morrem".
Ela explica que, quando a
modelo chega ao psicanalista,
já passou por um clínico e teve
o Índice de Massa Corporal
(IMC) aferido. "A essa altura, o
indicado é uma terapia intensiva. O passo seguinte é convencer uma adolescente a freqüentar um psicólogo. A maioria
sente vergonha, e existe um
preconceito. Elas não querem
se achar "doentes"."
A mãe de Carol e amigos próximos dizem que a modelo chegou a ser atendida por especialistas e fez tratamento, mas resistia a aceitar que estava doente. "Ela não gostava se pedíamos que comesse. Quando comia, era pouco e, logo depois,
entrava no banheiro", conta a
prima Geise Strauss, 30, com
quem Carol morava em suas
temporadas no Brasil.
Maça e tomate
Nos últimos tempos, a modelo vomitava o (pouco) que comia. Quando se pergunta o que,
exatamente, ela comia, a resposta de Geise é: "Ela gostava
muito de maçã. Adorava tomates também".
Difícil viver só disso, especialmente se ainda se tem de
complementar o orçamento fazendo um bico à noite como
promoter de boate, distribuindo panfletos para atrair frequentadores. "O que ela mais
queria era me ajudar", conta
Míriam, a mãe, que luta também com o recente diagnóstico
do marido doente de Mal de Alzheimer.
De acordo com o namorado
de Carolina, o também modelo
Bruno Setti, 19, a menina costumava dizer: "Passo por isso
(distribuir folhetos) para ajudar minha mãe."
Para a mãe de Bruno, Viviane
Setti, 42, todas as modelos deveriam ser alertadas, pelas
agências, do perigo da anorexia.
"Uma empreiteira não se responsabiliza pelo empregado da
obra que trabalha sem capacete?", compara.
Viviane explica que não se
trata de uma campanha contra
as agências, mas a favor das
modelos em uma tragédia recorrente. "Não há nada de glamouroso em um fim assim."
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