São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2008

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PMs são suspeitos de obrigar estudante a beber lança-perfume

Rapaz morreu, segundo investigação, após ser abordado por policiais e ser obrigado a beber produto e correr

Toxicologista diz que, se ingerida, substância pode acelerar freqüência cardíaca; principal testemunha diz ter sido ameaçada por policiais

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Seis policiais militares que atuam em Itaquera (zona leste) são suspeitos de, durante abordagem, terem obrigado um estudante de 18 anos a beber lança-perfume. O rapaz morreu. Os PMs são investigados pela Polícia Civil e pela Corregedoria da Polícia Militar. Marcos Paulo Lopes de Souza, 18, morreu na madrugada de segunda.
O lança-perfume é uma droga composta por éter, cloreto de etila, clorofórmio e essência perfumada, bastante usada entre os adolescentes para obter sensação de entorpecimento.
Ela destrói células do cérebro e pode levar o usuário a ter desmaios ou, em caso extremos, até a morte após parada cardíaca, segundo Anthony Wong, toxicologista da USP. Caso ingerido, pode acelerar a freqüência cardíaca. A pessoa submetida a um grande esforço físico após a ingestão sofre os efeitos potencializados. Nesse caso, Souza foi obrigado a correr.
Duas testemunhas narraram aos investigadores que Souza estava acompanhado de outro jovem, identificado como John. Ele está desaparecido.
Pelo relato, os dois cheiravam lança-perfume numa rua a poucos metros do prédio onde estão o 103º Distrito Policial (Cohab 2 Itaquera) e a 7ª Seccional Leste, quando um carro Blazer da PM, com a inscrição "Tático Móvel", os abordou.
Segundo uma testemunha, John, após ter sido liberado, passou a correr desesperadamente e a gritar que os PMs haviam os obrigado a beber lança-perfume, os ameaçaram de morte e os obrigaram a correr. Souza recebeu os primeiros socorros de um morador do conjunto de prédios da rua. Ele tinha a pulsação fraca.
O laudo sobre a causa da morte do jovem ainda não foi concluído pela perícia.
Policiais civis do 103º DP foram chamados para ajudar no socorro, mas ele chegou morto ao hospital. O corpo não tinha sinais aparentes de agressões.
O boletim de ocorrência registra "morte suspeita".
A principal testemunha da abordagem policial revelou aos policiais do 103º DP que os PMs sob investigação o ameaçaram.
Ao ser levada por dois oficiais da PM para uma sessão de reconhecimento no 39º Batalhão, a testemunha relatou que PMs disseram para ele tomar cuidado com o que iria dizer para não ter o mesmo fim que Souza.


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