São Paulo, domingo, 15 de novembro de 1998

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ENSINO FRANKENSTEIN
Mudanças no ensino devem reduzir repetência, que, em 96, causou ao país prejuízo de R$ 4,7 bi
Queda da reprovação compensará custos

da Sucursal de Brasília

Treinar professores para dar aulas no sistema de ciclos, criar material didático próprio em substituição aos livros, aumentar a rede física para atender alunos a partir dos 6 anos. Esses são alguns dos gastos que Estados e municípios têm para fazer as mudanças propostas pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação).
O governo federal também tem aumento de custos. O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), por exemplo, precisará implantar uma nova metodologia de censo escolar.
Embora as mudanças custem caro, a economia decorrente da redução no número de reprovações termina compensando os custos iniciais das transformações.
Cada vez que um aluno é reprovado, os cofres públicos perdem R$ 577. Em 96, ano em que a LDB foi aprovada, o Brasil perdeu R$ 4,7 bilhões por conta da reprovação e do abandono escolar.
Esse dinheiro pode ser economizado com a adoção das mudanças propostas pela LDB, porque a substituição das séries por ciclos reduz o número de reprovados.
No Distrito Federal, que sempre teve uma das mais altas taxas de reprovação do país, as mudanças começaram a surtir efeito.
Em 94, o índice de aprovação no ensino fundamental era de 70,1%. Em 97, pulou para 76,4%.
Mas o MEC alerta que, ao eliminar a reprovação com a introdução dos ciclos, os Estados têm de estar conscientes de que é preciso dar condições ao professor de avaliar continuamente o aluno. "Não basta acabar com a repetência, pois o aluno continuará sem aprender nada", diz Maria Helena Guimarães, presidente do Inep.
O treinamento de professores foi uma das questões cruciais das mudanças implementadas no Distrito Federal. Como os conteúdos passaram a ser trabalhados de forma interdisciplinar, os professores tiveram de voltar à sala de aula para aprender de novo como ensinar.
"Por enquanto, ainda estamos gastando muito com o treinamento dos professores para se adequarem às mudanças", diz Antonio Ibañez, secretário da Educação do Distrito Federal.
A ex-professora de 5ª série Rejane Gomide, formada em geografia, até o ano passado só dava aulas de história e geografia.
Quando assumiu a turma de 11 anos da 2ª fase da Escola Classe 27 (equivalente à 5ª série), teve de ensinar também matemática, ciências e português. "No início, achei que não iria conseguir. Mas os outros professores me ajudaram e hoje não troco o sistema de fase por nada", diz.
O problema de Rejane é semelhante ao de muitos professores que foram preparados para ensinar apenas uma disciplina e, com a implantação dos ciclos, se viram obrigados a virar generalistas. (DF)


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