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IRREGULARIDADE
Legista confirma existência de esquema de retirada de órgãos para estudos e rituais de magia negra
IML é acusado de desviar órgãos de cadáveres
RONI LIMA
da Sucursal do Rio
O Rio não convive apenas com o
desvio ilegal de cadáveres de hospitais públicos para faculdades de
medicina. O médico-legista Paulo
Carneiro Ribeiro, 60, confirma a
existência de um esquema de retirada de órgãos de cadáveres que
são analisados no IML (Instituto
Médico Legal).
A retirada ilegal de órgãos não
serviria apenas para municiar estudos de legistas e de alunos de faculdades. Outro médico-legista
afirma que órgãos são furtados
também para uso em rituais de
magia negra.
Um dos fundadores do Departamento de Anatomia da Faculdade
de Medicina de Teresópolis (região serrana do Rio), criado em
1970, Ribeiro diz que a retirada de
órgãos de cadáveres no IML é uma
prática comum.
"Isso não é oficial, mas ocorre", afirma. Segundo ele, a retirada ilegal é facilitada porque familiares do morto ficam sem saber
que algum órgão foi retirado.
"Depois vai fechar (o corpo), e
fica por isso mesmo."
Mas, no caso, sustenta Ribeiro, o
desvio de órgãos para legistas e faculdades de medicina serve apenas para práticas educacionais,
não envolvendo dinheiro. Segundo ele, esse desvio é praticado normalmente por legistas que buscam
auxiliar colegas de forma gratuita.
Embora admita que possam
existir desvios de órgãos para rituais de magia negra, Ribeiro afirma desconhecer essa prática.
Não é o que diz um dos mais
conceituados médicos-legistas do
país, que pediu para não ter o seu
nome revelado.
Professor universitário, ele afirma que, há dois anos, estava tirando fotos de cadáveres dentro do
IML do Rio, no centro, quando foi
ameaçado de agressão por dois
homens, que eram conhecidos como "ratos de necrotério".
Segundo esse profissional, os
dois homens encheram bolsas de
supermercado com órgãos retirados de cadáveres, para vendê-los
mais tarde para macumbeiros. O
médico -que não trabalhava no
IML- apurou então que eram
dois ex-funcionários, que circulavam à vontade no prédio.
A Folha contatou uma
mãe-de-santo da Baixada Fluminense, que confirmou esse mercado ilegal de órgãos. Segundo ela
-que não quer o seu nome publicado-, é fácil comprar corações
no IML, em média por R$ 100.
Ela afirma que basta conhecer o
funcionário certo. No ritual de
magia negra, explica, o coração é
costurado com agulha e linhas
pretas e vermelhas, para se encomendar a morte de alguém.
Apesar de negar a venda de órgãos para colegas legistas e faculdades, Ribeiro afirma que, no caso
de corpos desviados de hospitais,
costuma-se pagar "uma cervejinha" para a sua liberação sem autorização.
Ele diz que essa "cervejinha"
seria de cerca de R$ 100. O pagamento de propinas para a liberação explicaria por que, em geral,
as faculdades públicas dispõem de
um número menor de corpos em
relação às privadas.
Segundo ele, nas faculdades públicas é mais difícil conseguir verba oficial para essa prática. Ribeiro diz que o dinheiro pago é pequeno, não sendo possível que o
técnico de hospital que libera corpos tenha "vida de rico".
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