|
Próximo Texto | Índice
AMBIENTE
Cobrança atingirá quem usa recursos de rios, represas e aqüíferos subterrâneos; Sabesp vai avaliar impacto da medida na tarifa
São Paulo cobrará pela utilização da água
FABIO SCHIVARTCHE
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Após cinco anos de discussão, a
Assembléia Legislativa de São
Paulo aprovou anteontem projeto
de lei que prevê a cobrança pelo
uso da água no Estado.
Hoje, indústrias, setores do
agronegócio e o consumidor doméstico já pagam pela distribuição da água. Agora, serão tarifados também pela sua captação,
utilização e disposição dos resíduos liberados na forma de
efluentes líquidos.
O valor fixado em lei é de no
máximo um centavo para cada
mil litros. Mas pode mudar após
regulamentação do governador
Geraldo Alckmin (PSDB), prevista para março de 2006.
O consumo médio mensal de
uma pessoa é de 5,1 mil litros. Há
indústrias que usam dezenas de
milhares de litros por dia.
A Sabesp, a empresa responsável pela distribuição de água em
368 municípios do Estado de São
Paulo, disse que ainda está avaliando a nova cobrança e de que
forma ela vai impactar a tarifa final ao consumidor.
A cobrança atingirá quem utilizar água de rios, represas e aqüíferos subterrâneos -inclusive poços. Os recursos arrecadados serão investidos em obras de melhoria da qualidade e de aumento
da oferta de água na mesma região de onde veio o dinheiro.
Tarifando a utilização, até hoje
gratuita, o governo estadual espera incentivar a utilização racional
desse recurso vital cuja escassez já
provoca crises de abastecimento
no Brasil e até conflitos diplomáticos em países do Oriente Médio.
A cobrança pelo uso dos recursos hídricos já é feita na Europa há
quase 30 anos e desde 2003 na bacia do rio Paraíba do Sul, que pertence ao governo federal e abrange 180 municípios de São Paulo,
do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Já foram arrecadados R$ 15
milhões, dinheiro usado em campanhas de educação ambiental,
tratamento de esgoto e controle
de erosão.
"Essa é a nossa intenção: evitar
o desperdício e usar a verba da cobrança para melhorar a qualidade
da água", diz o secretário dos Recursos Hídricos, Mauro Arce.
No Vale do Paraíba, a cobrança
gerou um impacto pequeno na tarifa dos consumidores: entre R$
0,02 e R$ 0,03, segundo o superintendente regional da Sabesp, Benedito Felipe Oliveira Costa.
Para Wilde Cardoso, especialista em recursos hídricos da ANA
(Agência Nacional de Águas), a
cobrança instituída em São Paulo
é necessária para garantir o uso
racional da água e evitar o desperdício e a poluição dos rios e lagos.
Ele diz que cerca de 40% da água
distribuída em todo o país é desperdiçada em vazamentos dentro
da cidade. Ele crê que, a partir do
momento que as empresas passarem a pagar pela captação da
água, elas investirão mais no
combate às perdas.
"São Paulo é muito carente em
recursos hídricos. Os rios ou estão
poluídos ou são muito pequenos.
Se o Estado não cuidar da água,
pode ficar sem", afirmou o especialista, que prevê para janeiro a
cobrança pela captação de água
na região do rio Piracicaba, bacia
que pertence à União e abrange 60
municípios nos Estados de São
Paulo e Minas Gerais.
Concessões
O texto foi aprovado no plenário da Assembléia, com apoio das
bancadas do PSDB, PT, PTB, PL e
PV. Votaram contra deputados
do PMDB, do PFL e do PSB.
A lei, de autoria do então governador Mario Covas, foi debatida
por cinco anos na Assembléia.
Enfrentava resistência de deputados que defendiam os mesmos interesses de grupos industriais
(principalmente a de bebidas) e
do agronegócio e só foi aprovada
após concessões.
A cobrança pelo uso de água para irrigação em agricultura, por
exemplo, só começará a ser feita
em 2010. Também foi estabelecido um limite para a cobrança dos
resíduos lançados -o valor não
poderá ser mais de três vezes a soma da captação e do uso.
Próximo Texto: Morador de baixa renda não será afetado Índice
|