São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

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BARBARA GANCIA

Uma questão de bom senso


Que tipo de flexibilidade se pode esperar de gente que não admite que Fidel Castro é um ditador sanguinário?


EM UM MUNDO perfeito, teria sido por convicção que o presidente Lula parafraseou a manjada frase de George Bernard Shaw, que todo colegial inglês aprende no ensino médio, de que homens normais são socialistas na juventude, liberais na idade adulta e conservadores na velhice.
Mas não foi a persuasão íntima que moveu Lula a dizer, textualmente, que, "se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problemas. Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também tem problemas". O presidente disparou a gracinha diante de uma platéia de adultos e velhos sem "problemas", todos muito felizes em pertencer ao establishment. E o fez justamente no momento em que articula as alianças para o segundo mandato.
Em um mundo perfeito, um presidente que manda rótulos às favas seria aplaudido. Mas, como sabemos que o maior aliado de Lula no próximo governo será o saco de gatos do PMDB, o cinismo da boutade só pode ser encarado pelo que é -oportunismo do mais deslavado. Por outro lado, não há nada de errado com o conceito de George Bernard Shaw. De fato, a maioria das pessoas esclarecidas tende a querer consertar o mundo na juventude e vai aprendendo a ser mais pragmática ao longo da vida. É uma questão de bom senso, e Lula não disse nada que todos já não soubessem.
É aí que entra a figura do "perfeito idiota latino-americano", aquele personagem do livro de Alvaro Vargas Llosa que tanto me encanta. A reação da esquerda tapuia à afirmação de Lula foi desproporcional. E previsivelmente melindrada. Mas, hélas, que tipo de flexibilidade se pode esperar de gente que pensa como Plínio de Arruda Sampaio, Chico de Oliveira e Oscar Niemeyer? Se eles não conseguem nem mesmo admitir que Fidel Castro é um ditador sanguinário e que o regime soviético produziu injustiça, corrupção e a falência do Estado, como é que se pode pedir que dêem risada de si mesmos?
Alô, Plínio de Arruda Sampaio!
Andropausa é uma fase da vida. Ou então uma condição mental que acomete quem não consegue se desvencilhar de dogmas que caíram por terra junto com o Muro de Berlim.

Fera ferida
Coisa mais antipática a atitude de Roberto Carlos de processar Paulo César de Araújo, autor do livro "Roberto Carlos em Detalhes". Vamos e venhamos, RC já deveria estar acostumado aos percalços da fama. Sobretudo ele, que se diz tão espiritualizado. Pelo que li, o autor pesquisou o livro a fundo e é um apaixonado pela Jovem Guarda. Escreveu a obra em homenagem ao rei, e o livro não traz nenhuma revelação que mereça destaque.
Processá-lo não passa de um capricho de Roberto Carlos, celebridade sabidamente caprichosa que, em outros tempos, quando ainda não admitia ser vítima de uma compulsão (TOC), contratou os serviços do brilhante advogado Saulo Ramos para processar Ruy Castro, que assinara reportagem na "Playboy" falando da perna mecânica do rei. Ruy, que apenas cumpriu seu trabalho de jornalista, foi condenado criminalmente e deixou de ser réu primário.

barbara@uol.com.br


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