São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 2001

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TEMPORAL

Quando foram atingidos por raio, amigos estavam em área isolada; família de vítima diz que vai processar Estado

Vi a perna pegando fogo, diz sobrevivente

DA REPORTAGEM LOCAL

Minutos antes de morrer, Daniel Souza dos Santos, 15, pediu a seus dois amigos para saírem do quiosque onde se abrigavam, no parque Villa-Lobos. "Ele parecia assustado com os raios. Mas não deu tempo de ir embora", afirma José Adauton Euflausino da Fonseca, 14, que chegou a desmaiar, mas sobreviveu às descargas.
"Ouvi um estouro. Quando acordei, vi a perna do Daniel pegando fogo. O Osmann estava com os olhos virados", conta.
Santos, Fonseca e Osmann de Melo Ramos, 15, que permanecia internado ontem à noite no Hospital Professor Mário Degni, sem correr risco de morte, tinham ido ao parque, pela primeira vez, praticar capoeira. Eles faziam aulas desse esporte havia três meses.
Os três saíram de suas casas, no Rio Pequeno (zona sudoeste de São Paulo), por volta das 14h. Depois de caminhar uma hora, chegaram ao Villa-Lobos.
Quando foram atingidos pelo raio, eles estavam em uma área isolada. Por isso não receberam socorro imediato. Ao acordar, Fonseca ainda deu tapas no rosto de Ramos. "Como ele não respondia, resolvi sair correndo."
Sentindo dor nas pernas e tonturas, ele caiu duas vezes no meio do caminho, antes de encontrar um ciclista que o ajudou.
Os três se conheciam do bairro onde moravam, que concentra casas de classe média baixa e barracos. Até o ano passado, estudavam na mesma escola. Santos cursaria o segundo colegial.
Mais de cem moradores do Rio Pequeno reservaram um ônibus para ir ao enterro de Santos ontem à tarde, no Embu (Grande São Paulo). Jorge Francisco dos Santos, pai de Daniel, disse que vai processar o Estado. "Deveria haver mais proteção no parque."

Futebol
Moradora de Osasco (Grande São Paulo), a outra vítima fatal, Renata Baudívia, 12, tinha ido ao parque acompanhada de três primos e dois tios.
O grupo estava no campo de futebol do parque na hora da chuva. Todos começaram a correr no descampado quando um raio atingiu a menina.
Ontem, no velório, os pais de Renata não quiseram dar declarações. O bancário Ademir Matias Maia, 36, primo da menina, disse que a família questiona a segurança do Villa-Lobos. "É preciso saber se há pára-raios suficientes para a dimensão do parque."
Segundo Maia, nenhum funcionário orientou os frequentadores para que saíssem do descampado. "A família vai querer apurar a responsabilidade do parque na história", disse Maia.





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