São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 2001

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VIOLÊNCIA

Desde a madrugada de sábado, seis pessoas morreram na favela Gogó da Ema; polícia diz que há batalha entre grupos rivais

Guerra do tráfico provoca mais duas mortes

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Policiais militares encontraram na manhã de ontem os corpos de dois adolescentes mortos a tiros na favela Gogó da Ema, em Guadalupe, na zona norte do Rio. Com isso, sobe para seis o número de mortos durante confrontos entre traficantes de drogas na área desde a madrugada de sábado.
Os adolescentes Fábio Silva da Rosa e Diego Carneiro, ambos de 16 anos, foram encontrados por moradores da favela, por volta das 9h, dentro de uma casa.
De acordo com um PM do 14º Batalhão, que não quis se identificar, os dois, que estavam com as mãos amarradas por fios de náilon, foram espancados e mortos a tiros de pistola calibre 9 mm. Segundo o policial, cada um tinha mais de cinco marcas de tiros.
Os mortos foram levados para o IML (Instituto Médico Legal). Até o início da noite de ontem, nenhum parente havia aparecido para identificá-los.
Moradores do Gogó da Ema contaram à polícia que os menores integravam a facção criminosa CV (Comando Vermelho) e teriam sido mortos por rivais do morro do Chapadão, dominado pelo Terceiro Comando (organização inimiga do CV).
Na madrugada de sábado, quatro pessoas de uma mesma família foram baleadas e mortas durante tiroteio numa rua que dá acesso ao Gogó da Ema. Glauco Jorge Amorim, 34, Madenilva Silva Santos, 45, e M.S.S, 15, morreram na hora, após serem alvejados por tiros de fuzil e pistola.
Rosa Maria do Carmo, 36, atingida por cinco tiros, chegou a ser operada no hospital Carlos Chagas, mas morreu horas depois.
A polícia, que investiga a relação entre as mortes, diz que os quatro podem ter sido mortos por vingança. "Testemunhas contaram que os quatro teriam se recusado a colaborar com traficantes, que exigiam que a casa onde a família morava fosse usada como local para armazenar armas e drogas", disse o comandante do 14º Batalhão, coronel Carlos Carrijo.
Segundo policiais da 39ª Delegacia de Polícia, as mortes dos dois adolescentes de ontem também estão ligadas ao tráfico.
"Gogó da Ema e Chapadão são divididas apenas por uma rua. Não são raras as invasões de traficantes para tentar tomar o poder na favela rival. Durante essas invasões, ocorrem tiroteios em que traficantes acabam morrendo", explicou Carrijo.
Por causa do final de semana violento, o comandante da Polícia Militar, coronel Wilton Ribeiro, ordenou uma operação na favela.
Cerca de 50 homens do 14º BPM foram para o Gogó da Ema no início da tarde de ontem. "Não é uma ocupação, é uma operação que não tem previsão para terminar", afirmou Ribeiro.
Segundo o comandante do batalhão, a situação na favela ontem era considerada tranquila. O comércio funcionava normalmente e, até as 17h30, nenhum suspeito havia sido preso.
A favela Gogó da Ema é considerada muito violenta pela polícia. Em outubro de 1999, seis pessoas foram mortas, entre elas um PM foi degolado durante invasão de traficantes do Chapadão. A cabeça do sargento Marco Antônio de Oliveira só foi achada pela polícia uma semana depois.
As mortes foram uma represália à invasão de traficantes do Gogó da Ema no morro do Chapadão.




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