São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2005

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JUVENTUDE ENCARCERADA

De madrugada, 387 agentes recém-treinados foram colocados no lugar dos funcionários de 5 complexos

Alckmin mede forças e greve na Febem é antecipada

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) fez na madrugada de ontem uma operação para medir forças com os servidores da Febem de São Paulo, medida que antecipou a greve da categoria programada para terça-feira.
Numa ação surpresa, a administração estadual convocou 387 agentes recém-treinados durante 45 dias e determinou a estréia deles no controle de cinco complexos -Tatuapé, Vila Maria, Raposo Tavares, Brás e Franco da Rocha, que abrigam 4.500 internos, mais de 70% do total no Estado.
A entrada do grupo nas unidades foi acompanhada da retirada dos 515 funcionários em serviço. Não houve critério de seleção. Todos saíram. Muitos se revoltaram.
"Foi para demonstrar que quem manda na Febem é o governo do Estado. Foi uma preparação para uma eventual greve total", afirmou Alexandre de Moraes, secretário de Justiça, nomeado presidente da Febem em agosto.
A paralisação a partir de terça havia sido anunciada ontem pelo sindicato dos servidores, como uma reação à prisão pedida pelo governo do Estado de 23 funcionários da Vila Maria (zona norte), acusados de torturar os menores.
A operação surpresa levou a entidade a realizar uma assembléia ontem de manhã e anunciar, por volta das 11h, que a greve começava naquele momento. O diretor do sindicato Antônio Gilberto da Silva afirmou que os novos agentes estavam apavorados. "Os caras não estavam preparados, vão acabar morrendo lá dentro."
O secretário de Alckmin e presidente da Febem disse que todo mundo que fizer greve será demitido, porque considera a mobilização "ilegal" e "abusiva", "para defender torturadores".
Pela manhã, a gestão Alckmin determinou a normalização dos serviços por quem entrava no novo turno nos cinco complexos. Moraes negou que tenha sido um recuo pela falta de controle.
Afirmou que, considerando todos os turnos, um total de 600 agentes de segurança e 300 de educação recém-treinados se juntou aos demais 9.000 funcionários da Febem, que serão divididos e separados nessas duas funções.
Os novos servidores, que vão passar por sistema de rodízio nas unidades, custarão R$ 17 milhões anuais ao Estado. O secretário diz que foram gastos R$ 21 milhões no ano passado com hora extra.
"Eles certamente não têm a experiência dos bons funcionários, mas não têm os vícios dos maus", disse Moraes. Ele citou uma publicação de ontem do "Diário Oficial" autorizando a Febem a eliminar cargos, além da contratação emergencial por 180 dias.
O secretário disse não acreditar que as mudanças na Febem causem intranqüilidade. Negou que a retirada dos funcionários de madrugada tenha sido desrespeitosa, abrangendo até aqueles considerados bons agentes. "Tenho certeza que eles vão entender."
Depois das medidas anunciadas por Moraes e do anúncio da greve no final da manhã, ao menos quatro das 39 unidades da Febem -duas do Tatuapé e duas de Franco da Rocha- tinham clima de tensão durante a tarde, já que muitos dos funcionários estavam parados e não havia novos agentes em quantidade equivalente.
Ontem à tarde, na Febem Tatuapé, um grupo de monitores tentava convencer os funcionários novos a não entrar no local, pois haveria risco de rebelião.


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