MARY PERSIA
SÉRGIO ROXO
DO "AGORA"

A derrocada petista nas urnas de São Paulo chegou aos gramados. O Barcelona Esportivo Capela, time de futebol no qual a família Tatto resolveu investir no ano passado em busca de visibilidade, deve deixar São Paulo.
Aliada à perda de cerca de 40 cargos na Subprefeitura da Capela do Socorro (zona sul), a transferência da primeira equipe a aparecer na cidade em duas décadas ilustra o desmonte da chamada "Tattolândia", na zona sul.
Os Tatto, representados principalmente pelo vereador Arselino (ex-presidente da Câmara) e por Jilmar (ex-secretário de Abastecimento, Governo e Transportes), formavam o clã mais poderoso na cidade durante a administração de Marta Suplicy (PT).
Originários das Comunidades Eclesiais de Base, da Igreja Católica, a família radicada na Capela agiu nos bastidores, influenciou decisões, participou de projetos importantes (como a implantação do bilhete único) e indicou ocupantes de cargos na subprefeitura local e na administração petista em geral.
Com a derrota de Marta, os Tatto perderam poder e influência. Coincidentemente ou não, em dezembro, Alceu Tatto (quarto filho da família) deixou a presidência do "Barça" paulistano seis meses após assumir, e o clube passou a negociar a mudança de sede.
O Barcelona estreou no ano passado no Paulista da Série B-2 e não passou da primeira fase. Os jogos organizados pela equipe ocorriam no Capelão. O estádio era alugado e foi construído com apoio financeiro da subprefeitura local, comandada por Tadeu Dias Pais, indicado pelos Tatto.
A participação que resta dos Tatto no Barça está próxima do fim. Alceu está negociando a venda de sua parte (50%) na sociedade da equipe. "O time tem de ficar com alguém que tenha experiência no futebol. O custo financeiro é muito alto", disse Alceu, dono de um escritório de contabilidade.
Pessoas ligadas à diretoria do time, entretanto, afirmam que o real motivo do desligamento de Alceu foi a derrota de Marta. Segundo um funcionário que pede para não ter o nome revelado, a continuidade da família Tatto no Barça dependia da reeleição da prefeita. A intenção seria usar a equipe como palanque eleitoral. Alceu nega.

Contra-ataque
No dia 1º de janeiro, o vereador reeleito Arselino até ensaiou um contra-ataque dos Tatto ao ajudar na votação que elegeu o tucano dissidente Roberto Tripoli presidente da Câmara Municipal. Conseguiu ainda ser escolhido para a primeira secretaria da Casa (segundo cargo na hierarquia).
Mas a resposta tucana foi imediata, com o anúncio da exoneração de todos os cargos de confiança em subprefeituras. Os Tatto controlavam cerca de 40 postos na Subprefeitura da Capela do Socorro. Muitos funcionários, inclusive, já tinham pedido até mesmo exoneração.

Equipe
Atibaia (60 km de SP), Cotia e Embu (ambas na Grande SP) são as possíveis novas sedes do Barcelona Esportivo Capela Ltda. A equipe procura um local para seus jogos no Paulista da Série B deste ano. As negociações estão em andamento, mas o martelo ainda não foi batido.
Em 2004, para construir o estádio do Capelão, o time utilizou um espaço nas dependências do Sociedade Esportiva Barcelona, clube comunitário mantido com doações de usuários e empresários da região sem ligação com a equipe de futebol.
Para construir o Capelão, a equipe contou com ajuda da subprefeitura local, que mandou parte do material -areia e blocos. O ex-presidente Alceu Tatto nega que o auxílio tenha importância relevante. "Se tivesse apoio financeiro, seria mais fácil. Mas não teve ajuda em dinheiro, porque isso não pode."
A mudança de sede faz parte de um plano do novo presidente, Paulo Moura, para cortar despesas. "A Federação Paulista de Futebol exige toda uma infra-estrutura, como arquibancadas. No ano passado, tivemos de alugar uma, e isso é muito caro. Procuramos um local que possa ser nosso, onde possamos fixar a nossa infra-estrutura. A meta é comprar um espaço em 2006", disse o cartola, que assumiu em dezembro.


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