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entrevista
Carro e bicicleta são inconciliáveis, afirma sociólogo
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
É moralista a ideia de que
bastaria ao motorista ser
mais educado e cortês para
reduzir o número de mortes
de ciclistas e motociclistas
em São Paulo. A opinião é do
sociólogo Eduardo Biavati,
que dirigiu por 13 anos o programa de prevenção de acidentes da rede Sarah, famosa
no tratamento de traumas.
O que falta, na opinião de
Biavati, são estruturas viárias adequadas para a circulação de bicicletas e motos.
"Não dá para misturar bicicleta e carro na mesma rua. O
resultado são as mortes por
esmagamento", afirma. A solução, segundo ele, é criar ciclovias e faixas para moto.
Autor do livro "Rota de Colisão" em parceria com Heloisa Martins, Biavati diz na
entrevista a seguir que é irresponsabilidade incentivar
o uso de bicicleta em cidades
como São Paulo.
FOLHA - Em 2003, morreram 22
ciclistas em São Paulo. Em 2007,
foram 84 mortes. Por que aumentaram tanto essas mortes?
EDUARDO BIAVATI - As cidades
brasileiras não foram feitas
para bicicletas e motos. Tudo foi pensado para carros.
FOLHA - O que é possível fazer
para reduzir essas mortes?
BIAVATI - Não dá para misturar bicicleta e carro na mesma rua. Quando ocorrem
misturas díspares, de massas
muito diferentes, você aumenta demais o risco para o
mais frágil. É muito bonita
essa ideia de bicicletas e carros na mesma via, mas isso é
impossível em São Paulo.
FOLHA - Por quê?
BIAVATI - Porque você não
consegue oferecer o mesmo
grau de segurança para todos. Não dá para colocar caminhão, carro, moto e bicicleta no mesmo saco. Tem de
ter ciclovia e faixa para moto.
FOLHA - Especialistas criticaram
a criação de faixa exclusiva para
moto porque seria um incentivo
para um veículo individualista e
poluidor. Faz sentido essa crítica?
BIAVATI - Não. Se nada for
feito, em dois, três anos as
mortes de motociclistas vão
ultrapassar as de pedestres.
Moto é um dos veículos que
mais mata.
FOLHA - São Paulo tem 33,8 quilômetros de ciclovias. O que poderia ser feito para aumentar a
segurança dos ciclistas?
BIAVATI - A cidade precisaria
construir mais 300 quilômetros de ciclovias, o que não
vai ocorrer de uma hora para
outra. A prefeitura poderia
ter uma política de caminhos
alternativos, pela qual os ciclistas usariam as vias menos
congestionadas para evitar
os choques com carros. É irresponsável incentivar o uso
de bicicleta sem estrutura
viária adequada e sem alertar
os usuários para os riscos.
FOLHA - Há quem diga que não
haveria tantas mortes se os motoristas fossem mais educados.
BIAVATI - Essa visão é moralista. As pessoas morrem não
por falta de educação, mas
por causa da estrutura viária.
Você pode ser gentilíssimo e,
num piscar de olhos, atropelar um ciclista porque não o
enxergou. Os pedestres morrem não porque são ignorantes. É porque não dá para andar nas calçadas. Se todo
mundo fosse mais gentil, isso
não mudaria muito. É preciso mudar a filosofia das ruas,
separar carros de motos e bicicletas. Nessa redistribuição, acho que os carros devem perder espaço.
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