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AMBIENTE
Investimento é dirigido ao patrocínio de iniciativas de ONGs e a convênios com universidades, entre outros projetos
Empresas gastam R$ 1,2 bi para não ser vilãs
MARIANA VIVEIROS
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Na última década, elas ganharam destaque na mídia pelo envolvimento em grandes casos de
contaminação e poluição. Mas
Rhodia, Solvay, Petrobras, Shell e
Carbocloro (três indústrias químicas e duas petrolíferas) querem
superar a imagem de vilãs e, para
isso, contam com investimentos
em projetos ambientais e na "política da boa vizinhança" que giram em torno de 1% de seu faturamento anual, ou seja, cerca de
R$ 1,2 bilhão -50% mais que o
total gasto no ano passado pelo
Ministério do Meio Ambiente.
Além de aprimorar, otimizar e
tornar mais seguros seus processos de produção e operação e de
implantar programas de uso racional de insumos como água e
energia, as empresas patrocinam
iniciativas de ONGs e do poder
público, fecham convênios com
universidades, desenvolvem projetos de educação ambiental e têm
"portas abertas" para os que queiram conhecê-las de perto.
Entretanto, se, por um lado, dizem estar conseguindo melhorar
a imagem, ainda estão longe de
convencer os ambientalistas de
suas boas intenções. Os principais
questionamentos são por conta
do excesso de marketing em cima
das ações pró-ambiente, que são
consideradas insuficientes, e da
negligência, por outro lado, na remediação de passivos ambientais
e na indenização de trabalhadores
e comunidades afetados.
Depois de quase 20 anos, nenhum dos casos de contaminação
a que as entrevistadas têm seus
nomes ligados teve solução.
Às críticas, os responsáveis pela
área ambiental das indústrias respondem dizendo que o percentual por elas investido está dentro
dos padrões internacionais (que
variam entre 0,5% e 1% do faturamento); que a demora na solução
se dá por dificuldades técnicas e
pela necessidade de ter sempre licenças prévias dos órgãos de controle; e que o setor empresarial está hoje fazendo o máximo -dentro do que é econômica e tecnologicamente viável- para ser ambientalmente correto.
Percepção de valores
"Você vê todos preocupados
com a ecoeficiência. Podem até
dizer que o processo poderia ter
maior abrangência, maior velocidade, mas, se ele existe, é porque
um valor foi identificado", diz Rui
Fonseca, gerente-executivo de
Meio Ambiente da Petrobras.
A empresa é a eterna campeã
em multas ambientais e ré em
uma das maiores ações do país
-pelo derramamento de cerca
de 4 milhões de litros de óleo no
rio Iguaçu (PR). Ocupa, por outro
lado, o segundo lugar no "ranking" de investimentos: 1,1% da
receita, o que, segundo Fonseca, é
percentual similar ao destinado a
pesquisa e desenvolvimento.
"Quem está de fora vai sempre
achar que a indústria pode fazer
mais, mas ela vai fazer o que considera necessário e suficiente porque os recursos não são infinitos",
diz, por sua vez, Arpad Koszka,
gerente de Desenvolvimento Sustentável e Qualidade da Solvay.
A empresa, apontada como responsável pela contaminação por
substâncias cancerígenas de 100
mil toneladas de cal na área de
proteção de mananciais de Santo
André (Grande SP), destina 0,6%
do faturamento a projetos ambientais -o que é quase um terço
do total de investimentos anuais.
Solvay, Rhodia e Carbocloro
lembram que a indústria química
tem no programa Atuação Responsável seu maior "cobrador
ambiental". Criado no Canadá,
em meados dos anos 80, e implantado no Brasil a partir de 92,
ele dá a seus associados diretrizes
de gerenciamento ambiental.
"Visa também mostrar para a
sociedade as melhorias, porque
não adianta fazer investimentos
sem que haja o conhecimento do
público. Imagem é um valor para
qualquer empresa", diz Koszka.
Além dos projetos externos, boa
parte dos investimentos ambientais estão atrelados à expansão e
ao crescimento das indústrias, segundo o porta-voz da Rhodia,
Eduardo Octaviano. A introdução
de tecnologia limpa é o que torna
a empresa competitiva, diz.
Responsável pela deposição irregular de 12 mil toneladas de lixo
industrial tóxico na Baixada Santista, a Rhodia investe 1% do faturamento em ambiente.
A busca por melhores tecnologias esbarra às vezes, porém, no
custo -mesmo que adotá-las signifique, no caso da Carbocloro, se
livrar dos perigos de lidar diariamente com uma grande quantidade de mercúrio. A empresa justifica que é preciso ainda amortizar os investimentos feitos na
atual planta para só então gastar
os US$ 600 milhões que, sustenta,
custará o processo mais limpo.
Enquanto isso, é "campeã" no
percentual de faturamento gasto
com o ambiente (1,9%), mas também enfrenta problemas para dar
uma destinação adequada a 200
mil litros de terra contaminada
que chegou a depositar no aterro
de lixo doméstico de Cubatão.
Mesmo diante da possibilidade
de gastar muito com a melhoria
de processos e cuidados ambientais, prevenir ainda parece ser melhor que remediar. É o que diz
Luiz Maneschy, gerente de meio
ambiente da Shell.
Apesar de não divulgar quanto
espera gastar com seus dois sítios
contaminados em São Paulo (Vila
Carioca, na capital, e Paulínia, no
interior), a Shell vai desembolsar
R$ 25 milhões só em Paulínia. A
empresa gasta cerca de R$ 53 milhões em projetos ambientais,
0,5% do faturamento.
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