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Ações afetam captação de investimentos
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria lança seus resíduos
no rio, ameaçando peixes, e, no
quintal, mantém um viveiro onde
cuida de plantas, pássaros e tartarugas. O que pode parecer um paradoxo vem sendo empregado
como estratégia de marketing
ambiental por várias empresas.
Melhor isso do que nada, dizem
alguns especialistas. Mas a prática
revela que o Brasil ainda precisa
amadurecer muito nessas questões. "Uma indústria química não
tem que ficar criando peixinhos
nem tentando se mostrar boazinha; tem que fazer a coisa certa",
diz Marco Antonio Fujihara, diretor de sustentabilidade da Pricewaterhouse. A "coisa certa" custa
caro, mas é cada vez mais exigida
no mercado internacional.
Segundo Fujihara, a Dow Jones
tem uma bolsa paralela de "sustentabilidade" onde apenas quatro empresas brasileiras conseguiram entrar. A Price criou um
departamento que audita as relações de sustentabilidade sociais,
ambientais e econômicas. O resultado tem cada vez mais importância na imagem da empresa e
na captação de investimentos.
"Hoje os investidores querem
segurança. Ninguém investirá numa empresa que adota trabalho
escravo infantil ou pode amanhecer cercada por militantes de
ONGs", diz. Segundo Fujihara,
menos de uma centena de empresas no Brasil fazem auditorias de
sustentabilidade. "Aqui ainda
existe a visão romântica de que
ambiente é passarinho voando. O
importante é adotar processos
limpos, é transparência." Para ele,
a "fase dos ISO já acabou".
O certificado ISO 14.001 atesta
que uma determinada empresa
teve seus processos e procedimentos aprovados quanto às
questões de meio ambiente. No
Brasil, em 1997, apenas 60 indústrias tinham esse ISO. "Hoje são
mais de mil", diz Angelo Albiero
Filho, diretor do Departamento
de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Fiesp. "Cerca de 70% dessas indústrias estão
no Estado de São Paulo."
"A consciência do empresário
sobre o meio ambiente cresceu
muito nos últimos anos", diz. Vai
ter que crescer mais, segundo ele.
Do contrário, os produtos brasileiros terão dificuldade de ganhar
espaço num mundo globalizado.
No Brasil, embora a consciência
ainda seja "incipiente", a legislação é considerada de Primeiro
Mundo. "O ordenamento jurídico é excelente, mas a maioria das
empresas poluidoras, quando
consegue, disfarça ou nega que
está poluindo", diz Rubens Mazon, professor de gestão ambiental da Fundação Getúlio Vargas.
São poucas aquelas que se
adiantam e tentam resolver o problema por conta própria, afirma.
O professor Fernando Lefevre,
especialista em comunicação na
Faculdade de Saúde Pública da
USP, observa que o marketing
tem grande impacto sobre as pessoas e o mercado. "Cabe aos órgãos públicos e ONGs vigiar o
comportamento das empresas."
Foi para exercer esse controle
que o Greenpeace elaborou um
relatório de crimes ambientais cometidos por grandes empresas no
Brasil -do qual constam 17 casos
de contaminação- e o usa para
cobrar "a verdadeira responsabilidade ambiental corporativa".
Nos dez "princípios de Bhopal",
a ONG diz, por exemplo, que as
companhias devem se adiantar,
assumir seus passivos e indenizar
os atingidos pelo dano ambiental,
garantindo à população todas as
informações sobre o caso e a participação no seu encaminhamento. Bhopal é uma cidade indiana
onde, em 84, o vazamento de um
gás tóxico de uma fábrica da
Union Carbide matou 7.500 pessoas em uma noite. Até hoje a região está contaminada.
(AB e MV)
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