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São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

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Ações afetam captação de investimentos

DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria lança seus resíduos no rio, ameaçando peixes, e, no quintal, mantém um viveiro onde cuida de plantas, pássaros e tartarugas. O que pode parecer um paradoxo vem sendo empregado como estratégia de marketing ambiental por várias empresas.
Melhor isso do que nada, dizem alguns especialistas. Mas a prática revela que o Brasil ainda precisa amadurecer muito nessas questões. "Uma indústria química não tem que ficar criando peixinhos nem tentando se mostrar boazinha; tem que fazer a coisa certa", diz Marco Antonio Fujihara, diretor de sustentabilidade da Pricewaterhouse. A "coisa certa" custa caro, mas é cada vez mais exigida no mercado internacional.
Segundo Fujihara, a Dow Jones tem uma bolsa paralela de "sustentabilidade" onde apenas quatro empresas brasileiras conseguiram entrar. A Price criou um departamento que audita as relações de sustentabilidade sociais, ambientais e econômicas. O resultado tem cada vez mais importância na imagem da empresa e na captação de investimentos.
"Hoje os investidores querem segurança. Ninguém investirá numa empresa que adota trabalho escravo infantil ou pode amanhecer cercada por militantes de ONGs", diz. Segundo Fujihara, menos de uma centena de empresas no Brasil fazem auditorias de sustentabilidade. "Aqui ainda existe a visão romântica de que ambiente é passarinho voando. O importante é adotar processos limpos, é transparência." Para ele, a "fase dos ISO já acabou".
O certificado ISO 14.001 atesta que uma determinada empresa teve seus processos e procedimentos aprovados quanto às questões de meio ambiente. No Brasil, em 1997, apenas 60 indústrias tinham esse ISO. "Hoje são mais de mil", diz Angelo Albiero Filho, diretor do Departamento de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Fiesp. "Cerca de 70% dessas indústrias estão no Estado de São Paulo."
"A consciência do empresário sobre o meio ambiente cresceu muito nos últimos anos", diz. Vai ter que crescer mais, segundo ele. Do contrário, os produtos brasileiros terão dificuldade de ganhar espaço num mundo globalizado.
No Brasil, embora a consciência ainda seja "incipiente", a legislação é considerada de Primeiro Mundo. "O ordenamento jurídico é excelente, mas a maioria das empresas poluidoras, quando consegue, disfarça ou nega que está poluindo", diz Rubens Mazon, professor de gestão ambiental da Fundação Getúlio Vargas.
São poucas aquelas que se adiantam e tentam resolver o problema por conta própria, afirma.
O professor Fernando Lefevre, especialista em comunicação na Faculdade de Saúde Pública da USP, observa que o marketing tem grande impacto sobre as pessoas e o mercado. "Cabe aos órgãos públicos e ONGs vigiar o comportamento das empresas."
Foi para exercer esse controle que o Greenpeace elaborou um relatório de crimes ambientais cometidos por grandes empresas no Brasil -do qual constam 17 casos de contaminação- e o usa para cobrar "a verdadeira responsabilidade ambiental corporativa".
Nos dez "princípios de Bhopal", a ONG diz, por exemplo, que as companhias devem se adiantar, assumir seus passivos e indenizar os atingidos pelo dano ambiental, garantindo à população todas as informações sobre o caso e a participação no seu encaminhamento. Bhopal é uma cidade indiana onde, em 84, o vazamento de um gás tóxico de uma fábrica da Union Carbide matou 7.500 pessoas em uma noite. Até hoje a região está contaminada. (AB e MV)



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