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ENTREVISTA
HC decide descentralizar administração dos institutos
DA REPORTAGEM LOCAL
O novo superintendente do
Hospital das Clínicas de São Paulo, o médico e administrador hospitalar José Manoel de Camargo
Teixeira, 55, pretende descentralizar a gestão dos seis institutos do
complexo hospitalar como forma
de otimizar o atendimento e a
captação externa de recursos.
Para Teixeira, a única maneira
de evitar a sobrecarga de ligações
que acabam impossibilitando
muitas marcações de consultas
no HC é a descentralização do
atendimento, fazendo com que a
rede de serviços de saúde como
um todo trabalhe de forma coordenada. A seguir, alguns trechos
da entrevista dada à Folha.
(CC)
Folha - A exemplo do Incor, há outros institutos dentro do HC que
devem tomar o mesmo rumo, ou
seja, ter autonomia para captar e
gerir os seus próprios recursos?
José Manoel de Camargo Teixeira
- Uma das propostas da atual gestão da Faculdade de Medicina e
da superintendência do HC é
uma administração bastante descentralizada. Essa autonomia é algo próprio e necessário para a
melhoria gerencial das instituições. Somente com uma maior
descentralização de decisão, com
maior autonomia de execução,
com uma maior evidência das
particularidades de cada um desses institutos é que se torna possível que o conjunto trabalhe de
maneira mais adequada, que a
gente consiga maximizar e otimizar os resultados. Essa é uma forma de melhorar a eficiência e a
eficácia do complexo HC, buscando uma maior adaptação do hospital às necessidades da população e aos recursos.
Folha - O que exatamente o diretor de um desses institutos poderá
fazer daqui para a frente que antes
dessa gestão não poderia?
Teixeira - Por exemplo: se eu for
diretor de um instituto e tiver R$
10 mil, vou decidir em que gastar
esse dinheiro. Até então, eu, como
diretor desse instituto, recebia o
material, o pessoal, mas não tinha
poder de decisão na aplicação do
recurso. Agora é como se tivéssemos, dentro das metas globais da
instituição, metas por instituto,
que respeitam as particularidades
e especificidades de cada um. Cada diretor de instituto passa a gerenciar mais de perto, com maior
flexibilidade e responsabilidade,
os resultados e a aplicação dos recursos.
Folha - O Hospital das Clínicas
tem previsão de ampliar o número
de institutos ou hospitais?
Teixeira - Provavelmente vamos
gerenciar mais um hospital, o de
Sapopemba. Estamos na fase final
de acerto com a Secretaria da Saúde. É um hospital novo, com quatro especialidades básicas (clínicas médica e cirúrgica, ginecologia e obstetrícia e pediatria) e outras especialidades. O hospital está em fase final, só falta uma readaptação do pronto-socorro.
Folha - O que o sr. pensa sobre a
municipalização de hospitais estaduais, como o HC?
Teixeira - Hospitais complexos,
como os hospitais terciários, são
supra-regionais. É difícil você
municipalizar e colocar a gestão
desses hospitais dentro dos municípios. No caso do HC, ele atende
diversos municípios do Estado e
do país. A tendência é manter esses hospitais, no mínimo, na gestão estadual.
Folha - O sr. pretende ampliar a
participação dos atendimentos
particulares e por convênios no
HC?
Teixeira - Isso sempre está sendo
discutido dentro do complexo e
depende muito de uma orientação que é discutida na Secretaria
da Saúde e no governo. Acredito
que é importante o hospital encontrar uma forma de se financiar
sem trazer prejuízo ao atendimento da população.
Folha - Falando em atendimento
à população, há hoje um problema
sério com o agendamento de consultas por telefone. O que o sr. pretende fazer para melhorar isso?
Teixeira - Sabe quantas pessoas
ligam para o HC por dia? Vinte
mil pessoas. Os telefones não
aguentam. Há dias em que há colapso da central da Telefônica.
Congestiona todo o sistema da
central, do bairro todo.
Folha - Como resolver isso?
Teixeira - Essa é uma boa pergunta. Gostaria até de uma sugestão sua. Quando não tinha agendamento por telefone, havia fila
às 3h que dava volta no quarteirão. Como resolver esse problema? Descentralizando o atendimento, fazendo com que a rede de
serviços como um todo, e o HC
dentro dessa rede, trabalhe de forma hierarquizada, regionalizada,
integrada e coordenada. No futuro, o doente não precisará ligar
para cá. A própria unidade onde
ele está sendo atendido vai ligar,
marcar e transferir informações
para cá. Quando o doente chegar
aqui com a consulta já marcada
pela secretaria, vai ser atendido
tranquilamente. Essa é uma tendência. A gente já evoluiu dos
doentes na fila, na chuva, no frio,
chegando cedo, passando fome,
para uma facilidade que foi o
agendamento via telefone.
Folha - Como o sr. avalia essa crise dos HUs (Hospitais Universitários), especialmente neste momento de aperto nas contas públicas?
Teixeira - O hospital universitário tem de estar integrado e participando da rede de atendimento.
Mais do que isso, o próprio processo de ensino tem que participar de todas as fases da rede. Os
HUs têm de estar preocupados
com custo. Cada vez mais têm que
montar sistemas de aferição, apuração e controle e gestão de custo
para que saibam quanto estão
gastando. Também é preciso que
os HUs se modernizem e se adaptem a uma gestão mais adequada
à sua realidade, que é trabalhar
com uma tecnologia de ponta,
mas com recursos quase sempre
limitados.
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