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São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

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ENTREVISTA

HC decide descentralizar administração dos institutos

DA REPORTAGEM LOCAL

O novo superintendente do Hospital das Clínicas de São Paulo, o médico e administrador hospitalar José Manoel de Camargo Teixeira, 55, pretende descentralizar a gestão dos seis institutos do complexo hospitalar como forma de otimizar o atendimento e a captação externa de recursos.
Para Teixeira, a única maneira de evitar a sobrecarga de ligações que acabam impossibilitando muitas marcações de consultas no HC é a descentralização do atendimento, fazendo com que a rede de serviços de saúde como um todo trabalhe de forma coordenada. A seguir, alguns trechos da entrevista dada à Folha. (CC)

Folha - A exemplo do Incor, há outros institutos dentro do HC que devem tomar o mesmo rumo, ou seja, ter autonomia para captar e gerir os seus próprios recursos?
José Manoel de Camargo Teixeira -
Uma das propostas da atual gestão da Faculdade de Medicina e da superintendência do HC é uma administração bastante descentralizada. Essa autonomia é algo próprio e necessário para a melhoria gerencial das instituições. Somente com uma maior descentralização de decisão, com maior autonomia de execução, com uma maior evidência das particularidades de cada um desses institutos é que se torna possível que o conjunto trabalhe de maneira mais adequada, que a gente consiga maximizar e otimizar os resultados. Essa é uma forma de melhorar a eficiência e a eficácia do complexo HC, buscando uma maior adaptação do hospital às necessidades da população e aos recursos.

Folha - O que exatamente o diretor de um desses institutos poderá fazer daqui para a frente que antes dessa gestão não poderia?
Teixeira -
Por exemplo: se eu for diretor de um instituto e tiver R$ 10 mil, vou decidir em que gastar esse dinheiro. Até então, eu, como diretor desse instituto, recebia o material, o pessoal, mas não tinha poder de decisão na aplicação do recurso. Agora é como se tivéssemos, dentro das metas globais da instituição, metas por instituto, que respeitam as particularidades e especificidades de cada um. Cada diretor de instituto passa a gerenciar mais de perto, com maior flexibilidade e responsabilidade, os resultados e a aplicação dos recursos.

Folha - O Hospital das Clínicas tem previsão de ampliar o número de institutos ou hospitais?
Teixeira -
Provavelmente vamos gerenciar mais um hospital, o de Sapopemba. Estamos na fase final de acerto com a Secretaria da Saúde. É um hospital novo, com quatro especialidades básicas (clínicas médica e cirúrgica, ginecologia e obstetrícia e pediatria) e outras especialidades. O hospital está em fase final, só falta uma readaptação do pronto-socorro.

Folha - O que o sr. pensa sobre a municipalização de hospitais estaduais, como o HC?
Teixeira -
Hospitais complexos, como os hospitais terciários, são supra-regionais. É difícil você municipalizar e colocar a gestão desses hospitais dentro dos municípios. No caso do HC, ele atende diversos municípios do Estado e do país. A tendência é manter esses hospitais, no mínimo, na gestão estadual.

Folha - O sr. pretende ampliar a participação dos atendimentos particulares e por convênios no HC?
Teixeira -
Isso sempre está sendo discutido dentro do complexo e depende muito de uma orientação que é discutida na Secretaria da Saúde e no governo. Acredito que é importante o hospital encontrar uma forma de se financiar sem trazer prejuízo ao atendimento da população.

Folha - Falando em atendimento à população, há hoje um problema sério com o agendamento de consultas por telefone. O que o sr. pretende fazer para melhorar isso?
Teixeira -
Sabe quantas pessoas ligam para o HC por dia? Vinte mil pessoas. Os telefones não aguentam. Há dias em que há colapso da central da Telefônica. Congestiona todo o sistema da central, do bairro todo.

Folha - Como resolver isso?
Teixeira -
Essa é uma boa pergunta. Gostaria até de uma sugestão sua. Quando não tinha agendamento por telefone, havia fila às 3h que dava volta no quarteirão. Como resolver esse problema? Descentralizando o atendimento, fazendo com que a rede de serviços como um todo, e o HC dentro dessa rede, trabalhe de forma hierarquizada, regionalizada, integrada e coordenada. No futuro, o doente não precisará ligar para cá. A própria unidade onde ele está sendo atendido vai ligar, marcar e transferir informações para cá. Quando o doente chegar aqui com a consulta já marcada pela secretaria, vai ser atendido tranquilamente. Essa é uma tendência. A gente já evoluiu dos doentes na fila, na chuva, no frio, chegando cedo, passando fome, para uma facilidade que foi o agendamento via telefone.

Folha - Como o sr. avalia essa crise dos HUs (Hospitais Universitários), especialmente neste momento de aperto nas contas públicas?
Teixeira -
O hospital universitário tem de estar integrado e participando da rede de atendimento. Mais do que isso, o próprio processo de ensino tem que participar de todas as fases da rede. Os HUs têm de estar preocupados com custo. Cada vez mais têm que montar sistemas de aferição, apuração e controle e gestão de custo para que saibam quanto estão gastando. Também é preciso que os HUs se modernizem e se adaptem a uma gestão mais adequada à sua realidade, que é trabalhar com uma tecnologia de ponta, mas com recursos quase sempre limitados.


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