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MISTÉRIO NO ZÔO
Nada de anormal foi percebido na ronda da manhã de sábado; uma hora depois, começavam as mortes
Animais morreram em menos de uma hora
DO "AGORA"
DA REPORTAGEM LOCAL
Os três animais encontrados
sem vida anteontem no Zoológico
de São Paulo (zona sul de São
Paulo) morreram em menos de
uma hora.
Um dos tratadores fez uma primeira ronda na manhã de sábado,
por volta das 7h, sem notar nada
de anormal com os animais. "Cerca de uma hora depois, porém, seguranças avisaram que o bisão estava morto", conta a bióloga Fátima Valente Roberti, funcionária
do parque estadual.
Na mesma hora, funcionários
encontraram um dromedário
com convulsões -um sintoma
de contaminação recente. "Tentamos salvá-lo, mas ele não reagiu."
Só então foi descoberta a terceira morte de sábado. Um tratador
entrou no cercado em que a orangotango Karen passava a noite.
Estava morta. "Isso foi por volta
de 8h30", diz Fátima Roberti. O
orangotango asiático, ameaçado
de extinção, é o mais raro dos animais mortos até agora no parque.
No país, Karen era a única fêmea.
Ao todo, são 13 os bichos mortos desde 24 de janeiro. O parque
tem 3.500 animais. Daquela data
até 6 de fevereiro, três dromedários, três chimpanzés, três antas e
uma elefanta já haviam morrido.
Segundo a bióloga, os três animais mortos anteontem também
passaram por perícia. "Depois, os
corpos foram para uma usina de
compostagem, onde serão transformados em adubo."
Envenenamento criminoso
A polícia ainda não descarta nenhuma das três hipóteses levantadas desde a morte dos primeiros
bichos: 1) doses de veneno de rato
teriam sido levadas para dentro
das jaulas pela água da chuva; 2) o
veneno chegou aos bichos nas fezes e nas patas dos ratos; e 3) há
um assassino agindo em série no
zoológico.
Para o médico toxicologista Antony Wong, da USP, a hipótese
das fezes é bastante remota.
Para Wong, o envenenamento
que provocou a morte dos animais é criminoso. Ele diz que as
mortes ocorridas anteontem foram motivadas por um novo contato dos animais com o veneno. Se
tivessem sido intoxicados no
mesmo período que os outros,
avalia, eles teriam definhado até a
morte, o que seria percebido pelos veterinários do zoológico.
"Convulsões indicam uma morte
aguda e resultado de uma contaminação recente", afirma Wong.
Ele não crê na hipótese de que
ratos contaminados por veneno
tenham defecado nas jaulas, contaminando os bichos. "O veneno
é letal para ratos. Eles morrem antes de defecar", afirma.
Segundo Wong, para se conhecer a substância que está causando as mortes, é fundamental ter
um histórico dos animais antes da
morte. "Saber como estavam respiração, pressão sangüínea, urina
e fezes pode fornecer pistas sobre
o agente da contaminação."
Na opinião do médico toxicologista Jaderson Sócrates Lima, professor da Faculdade de Medicina
da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro), a chave do
mistério está no rastreamento dos
tecidos e fluidos dos animais
mortos. "Ele fornecerá o grupamento químico que provocou a
intoxicação. Aí é só procurar a
fonte", afirma.
O zoológico abriu normalmente
ontem. Os funcionários, porém,
trabalharam em clima de apreensão. Muitos se recusavam a comentar sobre as mortes. Segundo
a bióloga Fátima Roberti, a polícia
pediu silêncio sobre o caso. "Fizemos o que era possível, aumentando a vigilância [são 34 homens
ao todo]. Contamos também com
a ajuda da PM, que tem um posto
dentro do parque", disse ela.
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