São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AIDS

Casa Brenda Lee deixa de receber por causa de mudanças do Ministério da Saúde

Soropositivo fica sem verba federal

DA REPORTAGEM LOCAL

A casa de apoio a soropositivos Brenda Lee, no centro de São Paulo, não recebe recursos do Ministério da Saúde desde o início do ano em razão de um processo de transição dos projetos de ONGs financiados pela pasta.
A instituição tem um papel importante na história da epidemia de Aids por ter sido uma das primeiras a acolher, voluntariamente, vítimas da doença.
O travesti Cícero Caetano Leonardo, conhecido como Brenda Lee e assassinado em 1996, foi quem transformou o local em casa de apoio -era hospedaria.
Maria Aparecida Rodrigues, atual gerente, disse que está fazendo malabarismos para manter o cardápio dos 26 soropositivos de 23 a 65 anos, entre eles três mulheres. "Carne vermelha só teve na semana passada porque recebemos uma doação", disse.
De acordo com ela, no ano passado a verba mensal já tinha sido reduzida de R$ 17,5 mil para R$ 14 mil. A conta de água, de R$ 2.600, não foi paga. A instituição fez um empréstimo de R$ 5.000.
O fornecimento de todos os remédios é garantido pelo governo federal, mas a política de financiamento para as casas de apoio de adultos só foi criada no fim do ano passado e ainda não está implantada. A Brenda Lee vinha recebendo recursos justamente por seu papel histórico na epidemia, dentro da política do governo federal para projetos de ONGs.
Segundo Regina Pedrosa, do grupo de trabalho sobre casas de apoio do Fórum no Estado de São Paulo, há 59 dessas residências no Estado e, em razão da ausência de recursos fixos, em geral elas passam por dificuldades.
O Ministério da Saúde pretende passar a administração dos projetos até julho para os governos estaduais. Durante a transição, os Estados já teriam de enviar os nomes das entidades escolhidas ao ministério. Dos 600 esperados, apenas um terço já chegou a Brasília -o da Brenda Lee está entre eles, informou o coordenador nacional de DST/Aids, Pedro Chequer. Segundo ele, os recursos de um ano para o outro só são liberados entre fevereiro e março, portanto não haveria atraso significativo. Foram reservados R$ 8 milhões para propostas das ONGs.
A pasta criou no fim do ano passado uma política para financiamento de casas de apoio para adultos, não implantada ainda. Foram disponibilizados R$ 11,9 milhões para 145 casas de adultos. Dos 27 Estados, só 11 já enviaram propostas. "Há dificuldade para trabalhar com movimento social. Uns têm dificuldades burocráticas, outros não têm pessoal." (FABIANE LEITE)


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Justiça: 10 policiais são condenados por tortura
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.