São Paulo, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

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CARNAVAL

Postos nos principais circuitos entregarão comprimido que evita fecundação a mulheres que fizerem sexo sem proteção

Salvador dá pílula do dia seguinte a foliona

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O Carnaval de Salvador terá, pela primeira vez, a distribuição da pílula do dia seguinte em postos próximos aos circuitos mais freqüentados da folia. O comprimido impede a fecundação desde que seja ingerido até 72 horas depois da relação sexual.
Com funcionamento 24 horas por dia, nove postos de urgência -todos nas proximidades dos três circuitos da folia soteropolitana (Pelourinho, Campo Grande-praça Castro Alves e Barra-Ondina)- fornecerão a pílula durante todo o Carnaval.
Para ter direito ao medicamento, a mulher deve procurar qualquer um desses pontos de atendimento e contar que teve uma relação sexual desprotegida.
"Queremos deixar bem claro que a pílula do dia seguinte é a última opção que deve ser utilizada pelas mulheres. O mais recomendável é a utilização de métodos contraceptivos mais eficazes, como a camisinha, as pílulas anticoncepcionais orais e injetáveis e o DIU [Dispositivo Intra-Uterino]", afirmou Tânia Nogueira, coordenadora da área de saúde da mulher da Secretaria Municipal da Saúde de Salvador.
Na opinião da coordenadora, a distribuição da pílula não é um incentivo à prática do sexo desprotegido. "A campanha é muito clara e revela que somente o sexo seguro protege os seus praticantes de doenças, como a Aids", afirma Tânia Nogueira. "Agora, os métodos contraceptivos também falham e existem ocorrências de violência sexual durante o Carnaval. É justamente isso que nós queremos evitar com a distribuição da pílula do dia seguinte."
"O ideal é que a relação sexual tenha acontecido no máximo 72 horas antes do momento em que houve a procura pela pílula", disse o ginecologista David Nunes, 44, que integra a equipe da Secretaria da Saúde. "Temos de confiar na palavra da mulher, mas ela será avaliada. Somente depois é que o médico prescreverá a pílula."
De acordo com o médico, a distribuição desse medicamento será efetuada pelas farmácias municipais, instaladas dentro dos postos de urgência. "O objetivo é facilitar o trabalho das mulheres."
O ginecologista disse que a substância é legalizada pelo Ministério da Saúde. "Temos de respeitar os direitos das mulheres."
Esses comprimidos têm uma dose maior de progesterona do que as pílulas convencionais, que, depois de terem sido ingeridas, impedem a fecundação.

Cadastro
O médico também afirmou que todas as mulheres que procurarem esses postos de atendimento em busca do medicamento serão cadastradas. "O sigilo da consulta será mantido, mas todas deverão preencher um questionário e passarão a receber informações sobre métodos contraceptivos."
A médica e antropóloga Greice Menezes, de 47 anos, disse que apóia a iniciativa da administração. "Ao contrário de outras capitais brasileiras, em Salvador o aborto se mantém como a principal causa isolada de morte materna. Assim, a iniciativa do município merece elogios."
Para o bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador, João Carlos Petrini, a pílula do dia seguinte estimula o aborto. O bispo disse também que os contraceptivos são questionáveis pela eficácia.
Além da pílula do dia seguinte, a Secretaria Municipal da Saúde também distribuirá outros produtos para a contracepção, como camisinhas, em 72 postos -de um total de 122 unidades que compõem a rede pública de saúde da capital baiana.


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