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JUSTIÇA
Transexual ainda tenta ganhar identidade feminina mais de sete anos após fazer cirurgia para mudar de sexo
STF vai julgar se Roberto pode ser Roberta
SILVANA DE FREITAS
da Sucursal de Brasília
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
Em um julgamento inédito, cinco ministros do STF (Supremo
Tribunal Federal) vão decidir se
Roberta Close, 32, tem ou não o
direito de mudar de nome e de se
livrar, nos documentos, da identificação de sexo masculino.
Sete anos e meio após ter feito em
Londres a cirurgia de alteração de
sexo, é sua última cartada na Justiça para não ter mais que se identificar formalmente como Luiz Roberto Gambine Moreira.
Ela quer se chamar Roberta
Gambine Moreira.
A questão está nas mãos dos ministros Sydney Sanches (relator),
Moreira Alves, Octávio Gallotti,
Celso de Mello e Ilmar Galvão, que
compõem a 1¦ Turma do STF. O
julgamento depende de parecer da
Procuradoria Geral da República.
Close entrou com um recurso no
STF, em maio de 1995, contra uma
decisão do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro, que rejeitou a alteração no registro civil.
Na petição ajuizada em 1990 na
Justiça do Rio, os advogados de
Close afirmam que o seu nome,
Luiz Roberto, ``o expõe ao ridículo'' -formalmente, os advogados
têm de tratar Close como homem.
``O transexualismo dele, além de
lhe causar inconvenientes de ordem social e jurídica, tem principalmente tornado-o extremamente infeliz e ansioso'', diz a petição.
Os advogados se baseiam em
princípios constitucionais como
``a dignidade da pessoa humana''
e o dever da República em ``promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação'.
Roberta Close afirma, na Justiça,
que tomou a iniciativa de fazer a
operação em Londres após tratamento psiquiátrico.
Close é casada (por união informal) com o suíço Roland Granacher. Em 1995, aos 30 anos de idade, fez um anúncio publicitário de
calcinha e sutiã da Du Loren.
Se for derrotada no STF, só restará a ela aguardar a apreciação de
um projeto de lei que já passou pelas comissões de Seguridade Social
e Constituição e Justiça do Congresso. O projeto autoriza a mudança de sexo e de nome.
Transexuais
No Brasil, estima-se que existam
1.500 transexuais. A questão do
transexualismo é polêmica, porque não está prevista na legislação.
Há divergência no meio jurídico,
por exemplo, sobre a legalidade da
cirurgia. Alguns advogados a consideram crime de lesão corporal.
A advogada e pesquisadora Tereza Rodrigues Vieira diz que o
médico que faz a cirurgia não comete crime, pois seu dever ``é oferecer cura ao paciente''. ``A cirurgia é a única forma conhecida de
amenizar o problema'', afirma.
Tereza também se fundamenta
no direito à saúde garantido pela
Constituição. ``Todos têm direito
a usar os recursos disponíveis na
medicina.'' A advogada argumenta com o direito à identidade sexual. ``Esse é um direito que já
nasce com a pessoa. Não precisaria
de lei para garanti-lo.''
Tereza, que é autora do livro
``Mudança de Sexo'' (Santos Editora), tem três clientes com ações
em andamento para alteração no
nome.
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