São Paulo, domingo, 16 de março de 2008

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Atriz de Guaianases ganha, em Las Vegas, o "Oscar" da pornografia

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não faz tanto tempo assim que Mônica Monteiro da Silva, 24, perdeu a virgindade. Ela tinha 17. Mas parece bem mais longínquo, dada a quantidade de eventos que sucederam a efeméride. A partir dos 19, depois de adotar o nome artístico de Mônica Mattos, ela transou com homens, mulheres, travestis, anões, com Alexandre Frota e até com um cavalo de verdade. Em janeiro, ela foi eleita no AVN Awards, o "Oscar da pornografia", realizado em Las Vegas, a melhor atriz pornô estrangeira de 2007.
Primeira pergunta: como se avalia o talento de uma atriz pornô? A organização do evento, que acontece desde 1983 e tem cerca de cem categorias, é evasiva. Diz que cada jurado usa seu critério.
Pitt Garcia, 25, ator, afirma: "A Mônica se concentra na cena, atua com vontade, entra no personagem. Tem menina que faz pelo dinheiro e só pensa em acabar logo pra ir embora".
Personagem?
"Nem sempre é preciso um texto para haver personagem. Às vezes, basta agir", acredita.
Segundo o diretor José Gaspar, 37, "Mônica é muito profissional, chega na hora, não causa tumulto no set e mergulha de cabeça na cena".
Ela seria, assim, uma "Irene Ravache do cinema pornô".
A própria Mônica sugere algo mais simples: "Eu gosto de fazer sexo. Ouço de muitas pessoas: "Tão bonita, não precisava estar nessa vida". Mas ninguém pensa que tem gente que simplesmente gosta. Comigo é assim: quando ligam a câmera, eu enlouqueço".
Camisinha, nem pensar. "A gente faz exames antes de "contracenar'", diz ela, que desconhece a expressão "janela imunológica", ou o período de cerca de 12 dias em que o indivíduo infectado pelo vírus da Aids ainda não apresenta um número de anticorpos detectáveis pelo exame.

De R$ 100 a R$ 100 mil
O mercado de vídeos pornôs nos EUA movimentou mais de US$ 3 bilhões em 2006, segundo um levantamento da revista AVN (Adult Video News), que promove o prêmio; no Brasil, foram R$ 300 milhões, de acordo com a Abeme (Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico).
O cachê de um ator pornô aqui pode ir de R$ 100 a R$ 100 mil, diz o diretor Gaspar. Os mais caros são os dos conhecidos do grande público, como Alexandre Frota e Gretchen.
O de Mônica está no meio, mas ela não revela (a Folha apurou que é algo em torno de R$ 2.000 por cena, valor que triplicou com a conquista do prêmio). Dependendo da "versatilidade", o cachê ainda pode aumentar, diz Gaspar.
Quem assiste às performances sem restrições de Mônica, em cenas que desafiam os conceitos de conter e estar contido, fica intrigado ao se deparar com a estrutura óssea franzina da atriz: 1,60 m de altura, 48 kg, 82 cm de quadril e 56 cm de cintura.
Nascida no extremo da zona leste, em Guaianases, Mônica hoje mora com a mãe em uma casa que conseguiu comprar em Itaquera. Antes de trabalhar nos filmes foi recepcionista de bingo, até que uma colega que fazia programas a chamou para acompanhá-la.
Em "Devassa", o filme pelo qual foi premiada, ela faz sexo com vários homens e mulheres. Ganhou uma estatueta nos moldes da do Oscar e só: nem dinheiro nem contratos.
Namorado? "Não tenho há quatro meses." O último era "alguém do meio". O exercício da profissão a levou a experimentar o homossexualismo, e, diz ela, perceber que a satisfaz mais. "Hoje, prefiro as mulheres." Mas sem radicalismos. "Nem tudo está perdido [para os homens]. Eles podem aprender a conhecer o corpo de uma mulher tão bem como ela própria", diz.


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