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SAÚDE
Presidente da Agrishow, em Ribeirão Preto, afirma que quer barrar presença de representantes da Ásia para evitar casos de Sars
"Não quero asiático na feira", diz organizador
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
Alegando temor de que visitantes tragam para o país a pneumonia asiática, a organização da
Agrishow (Feira Internacional de
Tecnologia Agrícola em Ação) de
Ribeirão Preto decretou boicote a
expositores de países asiáticos.
A decisão se baseia na exclusão
de qualquer "facilidade" que possa existir para o expositor, com o
objetivo de desestimular a participação na feira. A medida também
está sendo imposta à África do
Sul, que registrou até ontem somente um caso confirmado da
pneumonia asiática, contraído
em outro país, sem morte.
"Nós não queremos que asiáticos venham para cá. Não quero
asiático na feira. Não quero nem
sul-africano na feira. É melhor
que não venham até isso tudo
passar", afirmou o presidente da
Agrishow, Sérgio Magalhães, 62.
A feira no município paulista é
uma das principais do setor na
América Latina e uma das três
maiores do mundo, com um volume de negócios de R$ 1,2 bilhão.
Neste ano, o evento espera receber o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva no dia 2 de maio. A feira
vai de 28 deste mês a 3 de maio.
Para o presidente da feira, não
há "veto oficial" a asiáticos e sul-africanos, mas nada será feito para atraí-los. "Não estamos recusando, mas não estamos empurrando [fazendo força para que venham]. Não tem facilidade."
A Embaixada da África do Sul
no Brasil pedirá explicações a Magalhães sobre as declarações. Itamaraty e a Embaixada da China
não quiseram comentar o assunto.
O gerente comercial do evento,
Pablo Mannopella, informou por
meio de sua assessoria que expositores estrangeiros têm o mesmo
tratamento e incentivos dados às
empresas nacionais. Mas ele não
disse quais seriam as facilidades.
O resultado do boicote pode ser
medido pelo número de expositores asiáticos ou africanos inscritos
até o momento: nenhum.
No ano passado, havia pelo menos um expositor chinês, segundo
a Agrishow. A assessoria da feira
disse não poder informar o número de países que participaram
em 2002 porque o responsável pelo dado não estava na empresa.
Neste ano, diz Magalhães, estão
confirmados expositores de EUA
e Reino Unido -que têm casos
da doença contraídos nesses países-, Itália e Espanha (tiveram
casos importados) e Turquia, Israel, Nova Zelândia e Dinamarca.
Ele diz acreditar que a guerra no
Iraque "tira um pouco o foco" da
feira. "Você acha que os ingleses
estão preocupados mais com a
guerra ou em mandar produtos
para vender no Brasil?"
O embaixador sul-africano no
Brasil, Mbulelo Rakwena, disse
ontem que não entende por que
seu país foi incluído no boicote.
Segundo o embaixador, as declarações foram feitas "fora do
contexto da doença no mundo",
já que a África do Sul segue as
orientações internacionais.
Para Rakwena, Magalhães pode
estar equivocado com relação a
assuntos internacionais. "Vamos
ligar para ele [Magalhães] para saber o porquê dessas declarações."
Hong Kong
Hong Kong anunciou ontem
número recorde de mortes causadas pela pneumonia asiática em
um dia -nove pessoas morreram no território chinês e outras
42 tiveram a confirmação de que
estão contaminadas. A doença,
chamada também de Sars (sigla
em inglês para síndrome respiratória aguda grave), até agora matou 154 pessoas no mundo e contaminou 3.235, segundo a OMS
(Organização Mundial da Saúde).
No surto em Hong Kong, morreu ontem a vítima mais jovem da
doença até agora, um homem de
32 anos, e também uma mulher
grávida. Segundo fontes ouvidas
pela agência Reuters, o tratamento utilizado atualmente na região
(mistura de drogas antivirais e esteróides) tem surtido efeito em
80% a 90% dos pacientes.
Colaborou a Folha Online
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