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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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SAÚDE

Presidente da Agrishow, em Ribeirão Preto, afirma que quer barrar presença de representantes da Ásia para evitar casos de Sars

"Não quero asiático na feira", diz organizador

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

Alegando temor de que visitantes tragam para o país a pneumonia asiática, a organização da Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) de Ribeirão Preto decretou boicote a expositores de países asiáticos.
A decisão se baseia na exclusão de qualquer "facilidade" que possa existir para o expositor, com o objetivo de desestimular a participação na feira. A medida também está sendo imposta à África do Sul, que registrou até ontem somente um caso confirmado da pneumonia asiática, contraído em outro país, sem morte.
"Nós não queremos que asiáticos venham para cá. Não quero asiático na feira. Não quero nem sul-africano na feira. É melhor que não venham até isso tudo passar", afirmou o presidente da Agrishow, Sérgio Magalhães, 62.
A feira no município paulista é uma das principais do setor na América Latina e uma das três maiores do mundo, com um volume de negócios de R$ 1,2 bilhão. Neste ano, o evento espera receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 2 de maio. A feira vai de 28 deste mês a 3 de maio.
Para o presidente da feira, não há "veto oficial" a asiáticos e sul-africanos, mas nada será feito para atraí-los. "Não estamos recusando, mas não estamos empurrando [fazendo força para que venham]. Não tem facilidade."
A Embaixada da África do Sul no Brasil pedirá explicações a Magalhães sobre as declarações. Itamaraty e a Embaixada da China não quiseram comentar o assunto.
O gerente comercial do evento, Pablo Mannopella, informou por meio de sua assessoria que expositores estrangeiros têm o mesmo tratamento e incentivos dados às empresas nacionais. Mas ele não disse quais seriam as facilidades.
O resultado do boicote pode ser medido pelo número de expositores asiáticos ou africanos inscritos até o momento: nenhum.
No ano passado, havia pelo menos um expositor chinês, segundo a Agrishow. A assessoria da feira disse não poder informar o número de países que participaram em 2002 porque o responsável pelo dado não estava na empresa.
Neste ano, diz Magalhães, estão confirmados expositores de EUA e Reino Unido -que têm casos da doença contraídos nesses países-, Itália e Espanha (tiveram casos importados) e Turquia, Israel, Nova Zelândia e Dinamarca.
Ele diz acreditar que a guerra no Iraque "tira um pouco o foco" da feira. "Você acha que os ingleses estão preocupados mais com a guerra ou em mandar produtos para vender no Brasil?"
O embaixador sul-africano no Brasil, Mbulelo Rakwena, disse ontem que não entende por que seu país foi incluído no boicote.
Segundo o embaixador, as declarações foram feitas "fora do contexto da doença no mundo", já que a África do Sul segue as orientações internacionais.
Para Rakwena, Magalhães pode estar equivocado com relação a assuntos internacionais. "Vamos ligar para ele [Magalhães] para saber o porquê dessas declarações."

Hong Kong
Hong Kong anunciou ontem número recorde de mortes causadas pela pneumonia asiática em um dia -nove pessoas morreram no território chinês e outras 42 tiveram a confirmação de que estão contaminadas. A doença, chamada também de Sars (sigla em inglês para síndrome respiratória aguda grave), até agora matou 154 pessoas no mundo e contaminou 3.235, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
No surto em Hong Kong, morreu ontem a vítima mais jovem da doença até agora, um homem de 32 anos, e também uma mulher grávida. Segundo fontes ouvidas pela agência Reuters, o tratamento utilizado atualmente na região (mistura de drogas antivirais e esteróides) tem surtido efeito em 80% a 90% dos pacientes.


Colaborou a Folha Online


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