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OAB denuncia tortura dentro do presídio
Após o relato, a direção da penitenciária proibiu a entrada de membros da ordem sem autorização da Justiça Federal
Relatório da PF aponta que agentes penitenciários fingem ser policiais federais e extorquem dinheiro
dos comerciantes locais
Bruno Miranda/Folha Imagem
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Mulher de um dos detentos do presídio,
que não quis se identificar, ergue a filha de 11 meses; ela mora com outras 2 mulheres de preso
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CATANDUVAS
Pelo menos dois agentes penitenciários de Catanduvas, segundo apurou a Folha, serão
denunciados por crime de tortura contra o assaltante de
banco José Reginaldo Girotti,
apontado como mentor do assalto ao Banco Central em Fortaleza, em 2005.
Girotti foi transferido no último dia 22 para a penitenciária federal de Campo Grande
(MS), inaugurada em dezembro. A transferência ocorreu
depois que um laudo do IML
(Instituto Médico Legal) comprovou que Girotti foi vítima
de tortura, em fevereiro, no
presídio de Catanduvas.
Sete agentes da unidade estão indiciados como réus na
apuração do caso. O inquérito
da Polícia Federal e a ação judicial correm em segredo de Justiça. O pedido de segredo foi
feito pelo procurador da República Carlos Henrique Bara.
A denúncia de tortura foi feita pelo presidente da subseção
da OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) em Cascavel, Luciano Braga Côrtes. Após a denúncia, a direção do presídio proibiu a entrada de membros da
OAB na penitenciária sem autorização da Justiça Federal.
O relatório da PF sobre Catanduvas aponta "fortes suspeitas" de que o sindicato dos
agentes da unidade tenha sido
estruturado "por influência de
membros do crime organizado,
particularmente o PCC". O objetivo, diz o documento, seria o
"controle da unidade prisional
pela facção".
O presidente do Sindapef
(Sindicato dos Agentes Penitenciários Federais de Catanduvas), Helder Jacoby, negou
influência do crime organização no sindicato e disse que as
acusações são "levianas".
Sobre a denúncia de tortura,
Jacoby disse que agentes usaram força para conter Girotti,
"mas o restante das escoriações foi ele mesmo quem provocou". "Com o dinheiro que
tem, acionou seus advogados
para criar um fato", disse.
"Pitboys"
O relatório feito pela PF também aponta que agentes penitenciários de Catanduvas se fazem passar por policiais federais para ter livre acesso a bares
e boates de Cascavel, cidade-pólo da região.
Um grupo de agentes praticantes de artes marciais, auto-intitulado "pitboys", estaria
provocando confusões em casas noturnas e extorquindo dinheiro de comerciantes para
organizar festas particulares,
nas quais, segundo o relatório,
há consumo de drogas e seções
de stripteases com prostitutas.
Segundo o relatório, lojas de
munição e armas seriam as
principais vítimas das extorsões dos "pitboys". O documento aponta ainda o uso de arma
de fogo, pelos agentes, para
abordar pessoas nas ruas de
Cascavel, situações em que assumem o papel de policiais.
Uniformes
Outra irregularidade identificada na conduta dos agentes é
conseqüência da falta de preparo para a função: eles andariam
em público, durante suas folgas, com uniformes do Depen
(Departamento Penitenciário
Nacional), tornando-se assim
alvo fácil de facções criminosas.
A Folha não conseguiu comprovar, com comerciantes da
região, a informação sobre extorsão de dinheiro que seria
praticada pelos agentes.
Em duas casas noturnas de
Cascavel, no entanto, a reportagem confirmou que agentes
vão armados para as festas. Em
uma delas, a Square Bar, freqüentada pelas classes média e
alta de Cascavel, os "pitboys"
brigaram com freqüentadores
no final do ano passado.
"Temos espaço para 1.500
pessoas dançarem e é normal
alguma confusão. Mas, como
eles [agentes] não têm poder de
polícia, não deveriam estar armados", afirmou Daniele Passini, uma das donas da boate.
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