São Paulo, Sexta-feira, 16 de Abril de 1999
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LIXO
Para Milton Leite, Wadih Mutran e Brasil Vita, a empreiteira é apenas vítima de extorsão
Enterpa trabalha em regionais de vereadores que a inocentam na CPI

Cleo Velleda/Folha Imagem
Sandra Maria Leite, ex-funcionária da Secretaria das Administrações Regionais, depõe na CPI da Câmara


ROGÉRIO GENTILE
da Reportagem Local

Os três membros da CPI que defendem a absolvição da Enterpa Ambiental no relatório sobre corrupção na Penha controlavam administrações regionais que trabalham com a empresa.
Os vereadores Milton Leite (PMDB) , Wadih Mutran (PPB) e Brasil Vita (PPB) dominavam, respectivamente, as regionais de Santo Amaro, Vila Maria e Butantã até o início da CPI que investiga a máfia da propina na prefeitura.
A Enterpa é a empreiteira responsável pelos serviços de varrição das ruas e de coleta do lixo nas três administrações regionais.
Em depoimento à polícia e à CPI, o presidente da Enterpa, Roberto Rocha, confessou que pagava propina a funcionários da Administração Regional da Penha.
Segundo ele, se o pagamento não fosse feito, a regional não liberava a planilha que autorizava a empresa a receber da prefeitura.
Funcionários, porém, disseram à polícia que recebiam propina para "fechar os olhos" a irregularidades cometidas. Entre elas, citaram que a empresa varria menos ruas e com menos funcionários do que o contratado, além de pesar o lixo molhado para ganhar no peso.
O relator da CPI, Milton Leite, e os outros dois membros consideram que a empresa foi apenas vítima no caso. "Na minha opinião, a empresa não pagou para obter vantagem", disse Brasil Vita.
Os três vereadores dizem que não foram influenciados na decisão de inocentar a empresa.
Os outros dois membros da comissão, José Eduardo Cardozo (PT) e Dalton Silvano (PSDB), discordam da avaliação do relator.
Dizem que a conclusão pela inocência é precipitada e que as investigações devem continuar. Com o obtido até agora, argumentam, não é possível dizer se a Enterpa pagou para obter vantagem ou apenas para não ser prejudicada.
A comissão de averiguação preliminar criada pelo prefeito para apurar o caso considerou em seu relatório que "a empresa é inidônea para licitar e contratar com a administração".

Fraudes
Relatório do TCM (Tribunal de Contas do Município) revela que as regionais controladas pelos três parlamentares pagaram à empresa Enterpa por serviços de varrição que não foram executados.
Na Administração Regional de Santo Amaro, por exemplo, 14% do serviço contratado e pago pelos cofres municipais não foi feito, de acordo com a auditoria.
Na Vila Maria, de Wadih Mutran, as fraudes atingiram 18% da varrição das ruas.
O caso mais grave encontrado pelos auditores do TCM ocorreu no Butantã, cujo administrador regional era indicado por Brasil Vita: 22% do serviço não foi feito.
Até agora, não foi feita nenhuma denúncia de que fiscais das três regionais citadas tenham recebido propina da empresa para ignorar as falhas no serviço.
Procurado pela reportagem, o presidente da Enterpa, Roberto Rocha, não quis se pronunciar.


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