|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Alunos ajudam a comprar comida para professora
DA REPORTAGEM LOCAL
Os alunos e colegas de trabalho
da monitora Aurelúcia Francisca
da Silva, que dá aulas para o Mova
no centro comunitário Castro Alves, no extremo leste de São Paulo, estão fazendo coleta para comprar comida para ela e seus cinco
filhos. No último sábado, uma assistente social que trabalha com
ela foi visitá-la e descobriu que
Aurelúcia e a família tinham só farinha para se alimentar.
Aurelúcia dá aulas no Mova
desde o início do ano e jamais recebeu. O coordenador do centro,
Gilberto dos Reis, diz que ela trocou as aulas particulares que lecionava no período noturno para
se dedicar ao Mova.
As aulas do programa começam
às 19h e terminam às 21h. Reis diz
que não conhece ninguém do
movimento popular de educação
que trabalhe apenas pelo dinheiro. "Temos um compromisso social", diz ele. No entanto, as pessoas contaram com o dinheiro garantido pela prefeitura, afirma.
Reis, também pai de cinco filhos, tem um contrato temporário
como funcionário público estadual, que está prestes a terminar.
"Contei com o dinheiro do Mova
para sustentar a família", admite.
Antes de entrar no projeto, Reis
e a mulher alfabetizavam de forma voluntária 20 pessoas por ano.
Por causa do programa, ampliou
as classes para 60 alunos.
Ele recebeu autorização para
usar uma sala do conjunto habitacional Castro Alves, onde mora,
comprou cadeiras universitárias
usadas e fez dívidas na papelaria
do bairro. Entrou no Mova com
uma das salas do Centro Educacional Paulo Freire, uma organização não-governamental legalizada. Anteontem, a linha telefônica do centro Castro Alves foi cortada por falta de pagamento. Reis
deve R$ 100 à papelaria.
"Estamos cuidando do social,
quero saber quem vai cuidar da
gente", questiona Reis ao falar sobre o trabalho das ONGs da periferia de São Paulo. "Precisamos
pagar as contas e alimentar nossos filhos", resume.
A educadora Helena Rodrigues
dos Santos passou os últimos dois
anos alfabetizando adultos no
Clube de Mães do Parque Santa
Rita, na periferia da zona leste de
São Paulo, com financiamento do
Instituto Brasileiro de Estudos e
Apoio Comunitário (Ibeac).
Helena recebia R$ 130 mensais
de ajuda de custo. O dinheiro ajudava a sustentar os dois filhos pequenos. Em janeiro deste ano, ela
decidiu trocar o programa do
Ibeac pelo Mova. "Se o dinheiro
atrasar, será horrível", afirmou
ela, na ocasião, à Folha. Atrasou.
Até anteontem ela não havia recebido um centavo.
Haroldo Coutinho, coordenador do Centro Educacional Paulo
Freire, diz que a prefeitura tem de
admitir os problemas do Mova:
"Só assim vamos resolvê-los".
Texto Anterior: Para Mova, atraso se deve à fiscalização Próximo Texto: Pasquale Cipro Neto: Vai para a Copa ou não vai? Índice
|