São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 2002

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Alunos ajudam a comprar comida para professora

DA REPORTAGEM LOCAL

Os alunos e colegas de trabalho da monitora Aurelúcia Francisca da Silva, que dá aulas para o Mova no centro comunitário Castro Alves, no extremo leste de São Paulo, estão fazendo coleta para comprar comida para ela e seus cinco filhos. No último sábado, uma assistente social que trabalha com ela foi visitá-la e descobriu que Aurelúcia e a família tinham só farinha para se alimentar.
Aurelúcia dá aulas no Mova desde o início do ano e jamais recebeu. O coordenador do centro, Gilberto dos Reis, diz que ela trocou as aulas particulares que lecionava no período noturno para se dedicar ao Mova.
As aulas do programa começam às 19h e terminam às 21h. Reis diz que não conhece ninguém do movimento popular de educação que trabalhe apenas pelo dinheiro. "Temos um compromisso social", diz ele. No entanto, as pessoas contaram com o dinheiro garantido pela prefeitura, afirma.
Reis, também pai de cinco filhos, tem um contrato temporário como funcionário público estadual, que está prestes a terminar. "Contei com o dinheiro do Mova para sustentar a família", admite.
Antes de entrar no projeto, Reis e a mulher alfabetizavam de forma voluntária 20 pessoas por ano. Por causa do programa, ampliou as classes para 60 alunos.
Ele recebeu autorização para usar uma sala do conjunto habitacional Castro Alves, onde mora, comprou cadeiras universitárias usadas e fez dívidas na papelaria do bairro. Entrou no Mova com uma das salas do Centro Educacional Paulo Freire, uma organização não-governamental legalizada. Anteontem, a linha telefônica do centro Castro Alves foi cortada por falta de pagamento. Reis deve R$ 100 à papelaria.
"Estamos cuidando do social, quero saber quem vai cuidar da gente", questiona Reis ao falar sobre o trabalho das ONGs da periferia de São Paulo. "Precisamos pagar as contas e alimentar nossos filhos", resume.
A educadora Helena Rodrigues dos Santos passou os últimos dois anos alfabetizando adultos no Clube de Mães do Parque Santa Rita, na periferia da zona leste de São Paulo, com financiamento do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac).
Helena recebia R$ 130 mensais de ajuda de custo. O dinheiro ajudava a sustentar os dois filhos pequenos. Em janeiro deste ano, ela decidiu trocar o programa do Ibeac pelo Mova. "Se o dinheiro atrasar, será horrível", afirmou ela, na ocasião, à Folha. Atrasou. Até anteontem ela não havia recebido um centavo.
Haroldo Coutinho, coordenador do Centro Educacional Paulo Freire, diz que a prefeitura tem de admitir os problemas do Mova: "Só assim vamos resolvê-los".



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