São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 2002

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Líder cobra promessa de fim de confronto

DA SUCURSAL DO RIO

Líderes comunitários de pelo menos 20 favelas do Rio procuraram o sociólogo Luiz Eduardo Soares para pedir que intermedeie uma audiência com o secretário estadual da Segurança Pública, Roberto Aguiar. O objetivo é cobrar a promessa feita por ele assim que assumiu a pasta, no início de abril, de que a polícia evitaria confrontos com traficantes em casos de risco para inocentes.
Os líderes argumentam que nada mudou nos primeiros 40 dias do governo de Benedita da Silva (PT) e que PMs continuam invadindo os morros de maneira violenta, atirando a esmo e participando de tiroteios. Desde a troca de comando na cúpula da segurança, pelo menos 30 pessoas morreram em confrontos com policiais ou vítimas de balas perdidas em municípios fluminenses, sendo sete só nesta semana.
Apesar do medo da população de que novos tiroteios aconteçam, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Francisco Braz, admitiu a possibilidade de novos confrontos, desde que "sejam necessários".
"A polícia troca tiros com traficantes para defender a população. Enquanto estivermos reprimindo a criminalidade, os confrontos serão inevitáveis", afirmou ele, que, ao ser empossado, declarara que "a melhor forma de trabalhar em tiroteio é não atirar".
Braz disse que a PM continuará realizando operações nas favelas. "Essa é nossa estratégia. Queremos mostrar aos marginais que o crime nunca compensa."
Ao assumir, há 40 dias, o secretário Aguiar também anunciou que as ações policiais em favelas seriam dirigidas para alvos previamente estudados, de forma a evitar tiroteios e balas perdidas.
Para dirigentes de associações de moradores de favelas, o discurso do secretário e do comandante da PM não se concretizou. "A postura da polícia não mudou. Continua havendo confrontos. Inocentes estão pagando por isso", disse André Fernandes, líder comunitário do morro Santa Marta (Botafogo, zona sul).
Fernandes afirmou que a polícia insiste "no mesmo erro" de ocupar as favelas após tiroteios. "Um dia desses a PM fez uma operação no morro do Turano [zona norte" à tarde e só apreendeu 89 trouxinhas de maconha. Trouxe risco à população e não conseguiu prender quem deveria", disse.
O presidente da Associação de Moradores do Morro do Dendê (Ilha do Governador, zona norte), Moisés Baiano, disse que os tiroteios continuam acontecendo porque policiais, na maioria dos casos, invadem as favelas para extorquir dinheiro de traficantes e não costumam obedecer a ordens dos comandantes. "Quando há uma operação organizada, bem planejada, não tem tiroteio."
Até para Luiz Eduardo Soares, idealizador do programa de segurança do governo Benedita, não houve mudanças no comportamento da polícia. "É preciso ser feita uma requalificação periódica para que os policiais se sintam preparados para enfrentar situações novas. Caso contrário, os moldes antigos tendem a ser reproduzidos", disse Soares. (MHM)


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