São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 2006

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Familiares acusam policiais por mortes

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Familiares de jovens mortos suspeitam que policiais à paisana, mascarados por touca ninja, estejam executando inocentes, sem passagem pela polícia. Em dois casos de morte, testemunhas disseram que os assassinos saíram de um carro policial.
A morte do estudante Ricardo Vendranelli, 16, é emblemática. Alvejado no início da madrugada de ontem no Parque Santo Antônio (zona sul de São Paulo), o garoto era entregador de pizza e estudava em uma escola estadual do bairro. Não tinha passagens pela Febem e, segundo a família e os vizinhos, não usava drogas.
O pai do Ricardo, um encanador de 49 anos que ontem esperava a liberação do corpo do filho no IML (Instituto Médico Legal), diz que o único erro do garoto foi estar "na hora errada e no lugar errado". O local em questão: a esquina da sua casa.
Ricardo deixou o serviço, uma pizzaria do bairro, por volta das 23h de anteontem, e decidiu ver a namorada. Foi morto quando voltava para casa.
"Antes de sair para o trabalho, eu falei para ele voltar logo para casa porque a situação estava perigosa por causa dos ataques aos policiais. Ele me respondeu: "É pai, o bicho tá pegando". Depois disso, só vi meu filho morto, com um tiro nas costas, no hospital."
Segundo um colega do garoto relatou à família, Ricardo parou na esquina para conversar com ele. Nesse momento, dois homens usando toucas ninja chegaram atirando. Ricardo foi baleado nas costas e na perna e o colega conseguiu fugir ileso.
"Pegaram meu garoto pelas costas, uma covardia. Estava dormindo com minha mulher, quando ouvi os tiros. Nunca imaginei que a vítima era o meu garoto. Só soube quando uns "irmãos" da igreja [a família é evangélica] veio nos avisar", relata o pai.
Ricardo foi levado ao hospital do Campo Limpo, mas já chegou morto. Segundo a família, até as 22h de ontem, o corpo não havia sido liberado, uma espera de 20 horas. "A gente paga para a polícia nos proteger e a mesma polícia mata os nossos filhos."
Uma hora antes da morte de Ricardo, Wesley Eduardo Barbosa, 18 anos recém-completados, foi assassinado em um campo de futebol no Capão Redondo, também na zona sul. Ele voltava para casa com quatro amigos quando, segundo testemunhas, dois homens saíram de uma blazer da Força Tática da PM, vestidos com toucas ninja e capas pretas.
Dois rapazes que conseguiram fugir dizem que os homens obrigaram Wesley e o amigo a se ajoelhar. Wesley, que fazia um curso profissionalizante e entregava pizzas, levou um tiro na nuca e o amigo, diversas balas na cabeça.
A PM informou que não recebeu nenhuma denúncia referente aos casos, registrados como homicídios simples, e que, se recebê-la, vai "tomar as providências necessárias" para a investigação.
Às 19h de anteontem, os irmãos Edilson Pedro de Souza, 30, e Róbson de Souza, 26, também foram mortos em circunstâncias suspeitas em São Mateus (zona leste). Segundo o tio dos rapazes, os dois estavam conversando com outros cinco amigos na calçada quando homens passaram em um carro comum atirando. Dos sete, seis morreram.
"Eles não tinham passagem pela polícia, eram trabalhadores, não fumavam e não bebiam", diz o tio. Os irmãos estavam a caminho da casa da avó para cumprimentá-la pelo Dia das Mães.


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