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Familiares acusam policiais por mortes
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Familiares de jovens mortos
suspeitam que policiais à paisana,
mascarados por touca ninja, estejam executando inocentes, sem
passagem pela polícia. Em dois
casos de morte, testemunhas disseram que os assassinos saíram de
um carro policial.
A morte do estudante Ricardo
Vendranelli, 16, é emblemática.
Alvejado no início da madrugada
de ontem no Parque Santo Antônio (zona sul de São Paulo), o garoto era entregador de pizza e estudava em uma escola estadual do
bairro. Não tinha passagens pela
Febem e, segundo a família e os
vizinhos, não usava drogas.
O pai do Ricardo, um encanador de 49 anos que ontem esperava a liberação do corpo do filho
no IML (Instituto Médico Legal),
diz que o único erro do garoto foi
estar "na hora errada e no lugar
errado". O local em questão: a esquina da sua casa.
Ricardo deixou o serviço, uma
pizzaria do bairro, por volta das
23h de anteontem, e decidiu ver a
namorada. Foi morto quando
voltava para casa.
"Antes de sair para o trabalho,
eu falei para ele voltar logo para
casa porque a situação estava perigosa por causa dos ataques aos
policiais. Ele me respondeu: "É
pai, o bicho tá pegando". Depois
disso, só vi meu filho morto, com
um tiro nas costas, no hospital."
Segundo um colega do garoto
relatou à família, Ricardo parou
na esquina para conversar com
ele. Nesse momento, dois homens
usando toucas ninja chegaram
atirando. Ricardo foi baleado nas
costas e na perna e o colega conseguiu fugir ileso.
"Pegaram meu garoto pelas
costas, uma covardia. Estava dormindo com minha mulher, quando ouvi os tiros. Nunca imaginei
que a vítima era o meu garoto. Só
soube quando uns "irmãos" da
igreja [a família é evangélica] veio
nos avisar", relata o pai.
Ricardo foi levado ao hospital
do Campo Limpo, mas já chegou
morto. Segundo a família, até as
22h de ontem, o corpo não havia
sido liberado, uma espera de 20
horas. "A gente paga para a polícia nos proteger e a mesma polícia
mata os nossos filhos."
Uma hora antes da morte de Ricardo, Wesley Eduardo Barbosa,
18 anos recém-completados, foi
assassinado em um campo de futebol no Capão Redondo, também na zona sul. Ele voltava para
casa com quatro amigos quando,
segundo testemunhas, dois homens saíram de uma blazer da
Força Tática da PM, vestidos com
toucas ninja e capas pretas.
Dois rapazes que conseguiram
fugir dizem que os homens obrigaram Wesley e o amigo a se ajoelhar. Wesley, que fazia um curso
profissionalizante e entregava
pizzas, levou um tiro na nuca e o
amigo, diversas balas na cabeça.
A PM informou que não recebeu nenhuma denúncia referente
aos casos, registrados como homicídios simples, e que, se recebê-la, vai "tomar as providências necessárias" para a investigação.
Às 19h de anteontem, os irmãos
Edilson Pedro de Souza, 30, e
Róbson de Souza, 26, também foram mortos em circunstâncias
suspeitas em São Mateus (zona
leste). Segundo o tio dos rapazes,
os dois estavam conversando
com outros cinco amigos na calçada quando homens passaram
em um carro comum atirando.
Dos sete, seis morreram.
"Eles não tinham passagem pela
polícia, eram trabalhadores, não
fumavam e não bebiam", diz o tio.
Os irmãos estavam a caminho da
casa da avó para cumprimentá-la
pelo Dia das Mães.
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