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GUERRA URBANA/ GOVERNO FEDERAL
Presidente ligou pessoalmente para Cláudio Lembo, a pedido do ministro da Justiça, para insistir na ajuda federal a São Paulo
Para Lula, atentados são "provocação"
KENNEDY ALENCAR
EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em conversa com Cláudio Lembo no final da manhã de ontem, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que o governador de
São Paulo aceitasse a presença do
Exército na capital e no interior
do Estado como "efeito de dissuasão" de novos ataques do PCC e
para transmissão de "sensação de
segurança" à população, segundo
relato de auxiliares diretos.
De tarde, em entrevista, Lula
classificou os atentados do PCC
de "provocação" e disse que seria
"mesquinho" explorar eleitoralmente o episódio.
Lula ligou para Lembo a pedido
do ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos. Em reunião no
Palácio do Planalto, na companhia de outros ministros, ambos
avaliaram que era um erro o governador recusar a oferta de uso
da Força Nacional de Segurança e
das Forças Armadas. Thomaz
Bastos já fizera a oferta no final de
semana. Lula telefonou e insistiu.
Para o presidente, a presença de
soldados e tanques do Exército
nas ruas de São Paulo poderia liberar as forças policiais do Estado
para outras operações. Demonstraria ainda uma reação dura à
onda de violência. O presidente
disse isso a Lembo, que ainda resistia, sempre de acordo com relato de auxiliares de Lula.
O presidente acertou, então,
que o ministro da Justiça retornaria a São Paulo para encontro com
o governador. Por volta das 18h
de ontem, Thomaz Bastos chegou
ao Palácio dos Bandeirantes.
Na avaliação de auxiliares do
presidente, a resistência do pefelista Lembo se dá por dois motivos. Aliado do ex-governador Geraldo Alckmin, que saiu do cargo
para concorrer a presidente, não
desejaria transmitir a imagem de
que precisará de Lula. O outro
motivo seria natureza ideológica:
Lembo e Alckmin defendem uma
linha mais dura e truculenta de
combate ao crime, o que Thomaz
Bastos e Lula julgam pouco eficaz.
De tarde, após participar de
uma conferência de direitos de
deficientes, Lula deu uma tumultuada entrevista. "O que aconteceu em São Paulo foi uma provocação, numa demonstração de
força do crime organizado."
Descartou qualquer dificuldade
de ação conjunta entre o governo
estadual e o federal por disputas
políticas. "Não acho que haja um
mesquinho neste país que tente
tratar uma questão dessas como
uma questão eleitoral, até porque
tem muitas vítimas, soldados defendendo a sociedade brasileira
foram assassinados, reféns foram
assassinados. Ou seja, nessas horas é preciso que a gente feche os
olhos para a baixeza e pense na
solidariedade de toda a sociedade
brasileira", disse Lula.
Em entrevista, Thomaz Bastos
negou possibilidade de intervenção federal no Estado. "Quero reiterar que temos plena confiança
de que o governo de São Paulo vai
controlar isso. O que queremos
deixar absolutamente claro e,
mais do que claro, enfatizado, é
que o governo federal quer e vai
ajudar e levará essa ajuda", disse.
O governo federal pode colocar
nas ruas de São Paulo 4.000 homens da Força Nacional e mais
quantos militares foram necessários das Forças Armadas.
"O que eu posso dizer para o governador -e já disse a ele- é que
nós estamos dispostos a conceder, a colocar o Exército, a colocar
a nossa polícia especial. Mas também não adianta só oferecer, pois
é preciso saber qual é a realidade
das necessidades dele", disse o
presidente, num sinal de que só
vai agir se o Estado de SP pedir.
"Num momento como este não
adianta ficar achando que alguém
tem a mágica de resolver o problema. O crime organizado não é
uma coisa simples de combater.
Ele tem seus braços espalhados
pelo mundo inteiro, e precisamos
utilizar muito de inteligência."
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