São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 2006

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GUERRA URBANA/ GOVERNO FEDERAL

Presidente ligou pessoalmente para Cláudio Lembo, a pedido do ministro da Justiça, para insistir na ajuda federal a São Paulo

Para Lula, atentados são "provocação"

KENNEDY ALENCAR
EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em conversa com Cláudio Lembo no final da manhã de ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que o governador de São Paulo aceitasse a presença do Exército na capital e no interior do Estado como "efeito de dissuasão" de novos ataques do PCC e para transmissão de "sensação de segurança" à população, segundo relato de auxiliares diretos.
De tarde, em entrevista, Lula classificou os atentados do PCC de "provocação" e disse que seria "mesquinho" explorar eleitoralmente o episódio.
Lula ligou para Lembo a pedido do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Em reunião no Palácio do Planalto, na companhia de outros ministros, ambos avaliaram que era um erro o governador recusar a oferta de uso da Força Nacional de Segurança e das Forças Armadas. Thomaz Bastos já fizera a oferta no final de semana. Lula telefonou e insistiu.
Para o presidente, a presença de soldados e tanques do Exército nas ruas de São Paulo poderia liberar as forças policiais do Estado para outras operações. Demonstraria ainda uma reação dura à onda de violência. O presidente disse isso a Lembo, que ainda resistia, sempre de acordo com relato de auxiliares de Lula.
O presidente acertou, então, que o ministro da Justiça retornaria a São Paulo para encontro com o governador. Por volta das 18h de ontem, Thomaz Bastos chegou ao Palácio dos Bandeirantes.
Na avaliação de auxiliares do presidente, a resistência do pefelista Lembo se dá por dois motivos. Aliado do ex-governador Geraldo Alckmin, que saiu do cargo para concorrer a presidente, não desejaria transmitir a imagem de que precisará de Lula. O outro motivo seria natureza ideológica: Lembo e Alckmin defendem uma linha mais dura e truculenta de combate ao crime, o que Thomaz Bastos e Lula julgam pouco eficaz.
De tarde, após participar de uma conferência de direitos de deficientes, Lula deu uma tumultuada entrevista. "O que aconteceu em São Paulo foi uma provocação, numa demonstração de força do crime organizado."
Descartou qualquer dificuldade de ação conjunta entre o governo estadual e o federal por disputas políticas. "Não acho que haja um mesquinho neste país que tente tratar uma questão dessas como uma questão eleitoral, até porque tem muitas vítimas, soldados defendendo a sociedade brasileira foram assassinados, reféns foram assassinados. Ou seja, nessas horas é preciso que a gente feche os olhos para a baixeza e pense na solidariedade de toda a sociedade brasileira", disse Lula.
Em entrevista, Thomaz Bastos negou possibilidade de intervenção federal no Estado. "Quero reiterar que temos plena confiança de que o governo de São Paulo vai controlar isso. O que queremos deixar absolutamente claro e, mais do que claro, enfatizado, é que o governo federal quer e vai ajudar e levará essa ajuda", disse.
O governo federal pode colocar nas ruas de São Paulo 4.000 homens da Força Nacional e mais quantos militares foram necessários das Forças Armadas.
"O que eu posso dizer para o governador -e já disse a ele- é que nós estamos dispostos a conceder, a colocar o Exército, a colocar a nossa polícia especial. Mas também não adianta só oferecer, pois é preciso saber qual é a realidade das necessidades dele", disse o presidente, num sinal de que só vai agir se o Estado de SP pedir.
"Num momento como este não adianta ficar achando que alguém tem a mágica de resolver o problema. O crime organizado não é uma coisa simples de combater. Ele tem seus braços espalhados pelo mundo inteiro, e precisamos utilizar muito de inteligência."


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