São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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PF desmonta esquema de adulteração de leite em pó

Produto era vendido no NE; 1 dos 7 presos é funcionário do Ministério da Agricultura

Segundo a investigação, uma empresa da Paraíba adicionava soro de leite, de valor nutricional mais baixo, ao leite em pó integral

RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Federal desmontou ontem, na Paraíba, um esquema de adulteração de leite em pó integral, que era destinado a Estados como Paraíba, Pernambuco, Ceará e Bahia. Na operação, chamada Lactose, foram presas sete pessoas, entre elas um funcionário do Ministério da Agricultura, responsável pelo controle de qualidade.
De acordo com a investigação, iniciada há um ano pela PF e pelo Ministério da Agricultura, a empresa Big Leite, sediada em Alhandra (PB), adicionava soro de leite ao leite em pó integral. A fraude quase que dobrava os lucros da empresa.
A Big Leite, segundo a PF, comprava leite em pó a granel em grandes quantidades e revendia o produto em volumes menores, sob as marcas Só Beber, Naturesse, Bom du Leite, Cilpe e Big Leite.
Antes de o produto ser empacotado, a empresa substituía cerca de 50% do leite em pó integral por soro de leite desidratado -mais barato e de valor nutricional mais baixo do que o leite. Um funcionário do Ministério da Agricultura é suspeito de acobertar a fraude.
"O consumo desse leite [adulterado] não é prejudicial à saúde, mas não traz os benefícios que deveria trazer. Temos observado que o produto é muito vendido em cestas básicas e para merenda escolar, afetando quem mais precisa dos nutrientes", disse o delegado Cláudio Costa.
Segundo o diretor de Inspeção Animal do Ministério da Agricultura, Nelmon Oliveira da Costa, a adição ao soro de produtos (como açúcar e maltodextrose) para torná-lo semelhante ao gosto do leite pode causar danos à saúde de pessoas diabéticas ou alérgicas.
Segundo ele, não é permitida a adição de soro -obtido no processo de fabricação de queijos e outros produtos- no leite em pó. Para que o leite seja destinado ao consumo humano, o ministério admite até 30 miligramas de soro por litro.
Nas amostras do leite em pó integral embalado pela Big Leite foram encontradas, segundo a PF, amostras com até 592,5 miligramas de soro por litro.
Para justificar o volume maior de leite que saía da empresa, em relação ao que era adquirido a granel inicialmente, a Big Leite comprava, segundo a PF, notas frias das empresas Milkly (BA), Via Láctea (CE), Avesul (SC) e Sanita (SC), que são de propriedade dos suspeitos de participar do esquema.
Para que o leite adulterado fosse aprovado pelo controle de qualidade do ministério, um funcionário do Lanagro (Laboratório Nacional Agropecuário) em Recife (PE) trocava o produto por leite de qualidade, segundo a investigação.
Dos presos, seis são donos das empresas citadas e um é funcionário do Lanagro em Pernambuco. Eles foram indiciados sob suspeita de estelionato, crimes contra a saúde pública, formação de quadrilha, falsidade ideológica, uso de documentos falsos e corrupção passiva e ativa.
A juíza federal Cristina Maria Garcez, da 3ª Vara da Seção Judiciária da Paraíba, determinou o recolhimento em todo o país de lotes de leite em pó integral embalados pela Big Leite.
Em 2006 e 2007, o leite pasteurizado produzido pela Big Leite foi reprovado pelo Procon (Superintendência de Proteção aos Direitos do Consumidor) em Goiás.


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