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Falso padre engana
fiéis de paróquia do
Morumbi por 2 anos
José Francisco de Lima atuou na maior igreja do bairro e realizou casamentos, batismos, missas e ouviu confissões
Farsa só foi descoberta pela desconfiança de um fiel; supostamente, padre seria membro de igreja dissidente da Católica Romana
MARINA JANKAUSKAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Autor de sermões tocantes e
impecáveis, como contam vários fiéis, José Francisco de Lima atuou na maior igreja do
Morumbi (zona oeste), a São
Pedro e São Paulo, por cerca de
dois anos. Realizou casamentos, batismos e missas. Ouviu
confissões, deu conselhos.
Qual não foi a surpresa dos
fiéis ao se depararem, no final
de abril, com um comunicado
afixado na porta da igreja: o padre José Francisco, na verdade,
não era padre.
Por meio do aviso, também
lido durante as missas, o bispo
dom Luiz Antônio Guedes
anunciou que Lima não é sacerdote e que não está autorizado a
celebrar missas e a ministrar
sacramentos em nome da Igreja Católica.
A farsa só foi descoberta pela
desconfiança de um fiel, que levou a igreja a investigar o caso.
A diocese não explicou como
foi enganada e quais seriam as
intenções do "padre". Possivelmente ele faria parte da Igreja
Católica Brasileira, uma dissidência da Igreja Católica Apostólica Romana.
A igreja tratou logo de tranquilizar as pessoas que receberam sacramentos. "Todos que
foram assistidos pelo ministério do falso padre Francisco Albuquerque de Lima no tocante
aos sacramentos do Batismo,
do Matrimônio e da própria Penitência, podem ficar tranquilos quanto à validade porque
neste caso a boa-fé dos fiéis é
contemplada."
A posição é contrária à defendida pelo padre Geraldo Martins Dias, da área de comunicação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Para ele, os sacramentos ministrados por falsos padres não
têm validade.
A posição de padre pode ter
sido apenas uma das invenções
de José Francisco de Lima.
Pessoas que trabalham e frequentam a paróquia dizem que
até o endereço informado pelo
"padre" -avenida Nove de Julho -seria falso. Sempre ao sair
da igreja ele pedia para ser deixado pelo motorista nas estações Tiradentes e Bresser, distantes da Nove de Julho.
Lima foi contatado anteontem pela reportagem por telefone, mas não quis dar entrevista. A diocese do Campo Limpo também foi procurada, mas
informou que o bispo Luiz Antônio Guedes não poderia falar
com a Folha porque estava em
Brasília e só voltaria hoje.
Perplexos
Marita Günther, frequentadora diária das missas, foi pega
totalmente desprevenida. Disse que não se notava a diferença
na atuação do padre de "homilias lindíssimas" e detalhista na
tradição da igreja.
Para ela, o comunicado foi
"muito duro", pois já tinha até
se confessado com o falso padre. Seu consolo é pensar que o
sacramento foi válido, pois o
sacerdote é só um instrumento.
"O perdão veio de Cristo."
Pensamento semelhante
tem a massagista Luiza Mello.
"Quem buscou a Deus foi abençoado da mesma forma. Já esse
falso padre é um pobre coitado.
Ele sim terá contas a acertar",
diz ela, que não considera a presença de um padre essencial
para a prática religiosa.
O falso padre do Morumbi
não foi o primeiro. Em novembro, por exemplo, um homem
foi condenado a três anos de
prisão por se passar por padre e
cobrar pela realização de missas nos velórios do Cemitério
do Araçá, na zona oeste.
Para a CNBB, fatos como esse não têm relação com a falta
de sacerdotes. O país tem um
padre para 10 mil habitantes,
número considerado baixo.
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