São Paulo, Domingo, 16 de Maio de 1999
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Expressão foi criada no Brasil

da Reportagem Local

Foram os brasileiros que criaram a expressão balzaquiana como adjetivo para a mulher madura. Em dicionários de outras línguas, o termo indica apenas algo relativo ou pertencente ao escritor Honoré de Balzac (1799-1850).
Sabe-se que a expressão "pegou" no final dos anos 40 e que deriva do título "A Mulher de 30 Anos", um dos 80 livros deixados pelo escritor. "Balzac prestou um serviço imenso às mulheres ao duplicar para elas a idade do amor", escreve o pesquisador Marcelo Aith, numa resenha sobre o livro. "Antes de Balzac, todas as namoradas de romance tinham 20 anos. Ele prolongou até os 30, 40 anos sua vida ativa, idade que considerava o ápice da vida amorosa da mulher."
Embora o livro "A Mulher de 30 Anos" seja pouco conhecido no Brasil, a expressão "balzaquiana" chegou a ser bastante popular. Em 1950, quando as marchinhas do Carnaval carioca cantavam os brotinhos, uma música dedicada às balzaquianas roubou a cena.
"Não quero broto,/ não quero, não quero, não./ Não sou garoto pra viver na ilusão./ Sete dias na semana,/ eu preciso ver minha balzaquiana." José Ramos Tinhorão, historiador de cultura urbana e que diz ter brincado naquele Carnaval, lembra que "todo mundo sabia a letra de cor". E acrescenta a segunda parte da marchinha, batucando na mesa:
"O francês sabe escolher,/ por isso ele não quer qualquer mulher./ Papai Balzac já dizia;/ Paris inteira repetia./ Balzac tirou na pinta./ Mulher só depois dos 30...".
Edigar de Alencar, autor do livro "O Carnaval Carioca Através da Música" (editora Francisco Alves), escreve que a "gíria balzaquiana" era um "contraponto ao vocábulo brotinho", a mocinha que nem 20 anos tinha. "Depois veio ainda o pejorativo "coroa" para identificar as que já tinham passado dos 40 e um bocado", escreveu Alencar.
Curiosamente, o Brasil exportaria para Paris a expressão balzaquiana graças a uma passagem ruidosa de Brigitte Bardot pelo Rio de Janeiro. "Os jornalistas franceses que a acompanhavam acharam curioso que uma referência a Balzac fosse tema de Carnaval e levaram a marchinha para a França", diz Tinhorão. "Virou um hit na noite parisiense."
Ivone Mantoanelli, professora de francês da PUC, diz que as "mulheres mais velhas tiveram grande importância na obra de Balzac". Na vida, no entanto, o escritor não teve muito tempo para as namoradas, diz a professora. "Morreu, após trabalhar muito, aos 50 anos, três meses antes de se casar." (AB)



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