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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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EDUCAÇÃO

Ex-ministro diz que presidente do Inep "desmoralizou" o provão ao criticar o exame na véspera de sua realização

Paulo Renato ataca "radicais" do MEC

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza decidiu por fim à quarentena pela qual passou desde que deixou o cargo e saiu em defesa do provão, exame criado na sua gestão, atacando quem chama de "radicais do MEC".
"Parece que há uma divisão clara no Ministério da Educação. De um lado está o ministro Cristovam [Buarque], que tem uma trajetória respeitável. Do outro, há uma divisão no MEC contemplando os grupos mais radicais com posições-chave dentro do ministério, e isso pode prejudicar tanto a administração do ministro como o governo Lula", afirmou Paulo Renato.
Paulo Renato citou o presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Otaviano Helene, como um dos "radicais". O Inep é responsável pela produção de estatísticas educacionais e pela realização de exames do MEC, como o provão.
O ex-ministro afirma que o fato de Helene ter "falado mal do provão" às vésperas do exame tirou o valor da avaliação deste ano.
"O fato de uma autoridade principal dizer que o exame é ruim e que vai acabar, como foi divulgado, desestimula o aluno e tira o valor da avaliação. Já não posso dizer que o provão deste ano tem o mesmo valor, em termos de indicador de desempenho, que os de anos anteriores", afirma o ex-ministro da Educação.
Um dia antes do provão, que aconteceu no domingo retrasado, Helene afirmou que, dentro do sistema de avaliação, "o provão poderia ser, na melhor das hipóteses, um controle de qualidade dos alunos, não uma avaliação da qualidade dos cursos".
Para o ex-ministro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu ter na educação a mesma homogeneidade que está apresentando, na sua avaliação, na área econômica.
"O governo Lula conseguiu manter a homogeneidade na área econômica. O pior dos mundos seria ter, dentro do Ministério da Fazenda, cada um atirando para um lado, ou, por exemplo, que o diretor de política monetária fosse um radical que criticasse o ministro [Antonio] Palocci."
Segundo Paulo Renato, o boicote (alunos entregando as provas em branco) neste ano deve ser maior. "Os alunos devem ter feito a prova de forma menos consciente. Acho uma irresponsabilidade alguém do governo desmoralizar o sistema de avaliação."
Desde que assumiu a presidência do Inep, Helene tem feito críticas ao provão. Apesar das críticas, ele nega ter dito que o Inep decidiu acabar com o exame em 2004.
O Inep e o MEC criaram uma comissão que está discutindo mudanças em todo o sistema de avaliação do ensino superior. Além do provão, o MEC também avalia as universidades por meio da Avaliação das Condições de Oferta, que leva em conta condições de infra-estrutura e qualificação de professores, entre outros itens.
O ministro Cristovam Buarque tem afirmado que o processo de avaliação do ensino superior não acabará, mas será aperfeiçoado.
Paulo Renato abriu uma consultoria em educação e afirma que não pretende criticar a gestão de seu sucessor. "Estou apenas saindo em defesa do que fizemos."
Para o ministro, o provão vem melhorando a qualidade da educação. "O número de inscritos no vestibular de instituições com conceito D ou E [os piores] caiu 30%, enquanto nas com A e B [os melhores] cresceu 5%. Temos feito pesquisas, e a primeira coisa que os alunos perguntam quando ligam para uma instituição é qual a data do vestibular. Logo em seguida, qual foi a nota no provão."
Paulo Renato afirma ainda que o provão é tão importante quanto a Avaliação das Condições de Ensino. "Há muita coincidência nos resultados. Mas é graças à existência dos dois que a gente pode ver que há coincidência e explicar quando não há."


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