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EDUCAÇÃO
Ex-ministro diz que presidente do Inep "desmoralizou" o provão ao criticar o exame na véspera de sua realização
Paulo Renato ataca "radicais" do MEC
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-ministro da Educação
Paulo Renato Souza decidiu por
fim à quarentena pela qual passou
desde que deixou o cargo e saiu
em defesa do provão, exame criado na sua gestão, atacando quem
chama de "radicais do MEC".
"Parece que há uma divisão clara no Ministério da Educação. De
um lado está o ministro Cristovam [Buarque], que tem uma trajetória respeitável. Do outro, há
uma divisão no MEC contemplando os grupos mais radicais
com posições-chave dentro do
ministério, e isso pode prejudicar
tanto a administração do ministro como o governo Lula", afirmou Paulo Renato.
Paulo Renato citou o presidente
do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais),
Otaviano Helene, como um dos
"radicais". O Inep é responsável
pela produção de estatísticas educacionais e pela realização de exames do MEC, como o provão.
O ex-ministro afirma que o fato
de Helene ter "falado mal do provão" às vésperas do exame tirou o
valor da avaliação deste ano.
"O fato de uma autoridade principal dizer que o exame é ruim e
que vai acabar, como foi divulgado, desestimula o aluno e tira o
valor da avaliação. Já não posso
dizer que o provão deste ano tem
o mesmo valor, em termos de indicador de desempenho, que os
de anos anteriores", afirma o ex-ministro da Educação.
Um dia antes do provão, que
aconteceu no domingo retrasado,
Helene afirmou que, dentro do
sistema de avaliação, "o provão
poderia ser, na melhor das hipóteses, um controle de qualidade
dos alunos, não uma avaliação da
qualidade dos cursos".
Para o ex-ministro, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu ter na educação a mesma
homogeneidade que está apresentando, na sua avaliação, na
área econômica.
"O governo Lula conseguiu
manter a homogeneidade na área
econômica. O pior dos mundos
seria ter, dentro do Ministério da
Fazenda, cada um atirando para
um lado, ou, por exemplo, que o
diretor de política monetária fosse um radical que criticasse o ministro [Antonio] Palocci."
Segundo Paulo Renato, o boicote (alunos entregando as provas
em branco) neste ano deve ser
maior. "Os alunos devem ter feito
a prova de forma menos consciente. Acho uma irresponsabilidade alguém do governo desmoralizar o sistema de avaliação."
Desde que assumiu a presidência do Inep, Helene tem feito críticas ao provão. Apesar das críticas,
ele nega ter dito que o Inep decidiu acabar com o exame em 2004.
O Inep e o MEC criaram uma
comissão que está discutindo mudanças em todo o sistema de avaliação do ensino superior. Além
do provão, o MEC também avalia
as universidades por meio da
Avaliação das Condições de Oferta, que leva em conta condições
de infra-estrutura e qualificação
de professores, entre outros itens.
O ministro Cristovam Buarque
tem afirmado que o processo de
avaliação do ensino superior não
acabará, mas será aperfeiçoado.
Paulo Renato abriu uma consultoria em educação e afirma que
não pretende criticar a gestão de
seu sucessor. "Estou apenas saindo em defesa do que fizemos."
Para o ministro, o provão vem
melhorando a qualidade da educação. "O número de inscritos no
vestibular de instituições com
conceito D ou E [os piores] caiu
30%, enquanto nas com A e B [os
melhores] cresceu 5%. Temos feito pesquisas, e a primeira coisa
que os alunos perguntam quando
ligam para uma instituição é qual
a data do vestibular. Logo em seguida, qual foi a nota no provão."
Paulo Renato afirma ainda que
o provão é tão importante quanto
a Avaliação das Condições de Ensino. "Há muita coincidência nos
resultados. Mas é graças à existência dos dois que a gente pode ver
que há coincidência e explicar
quando não há."
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