São Paulo, sábado, 16 de junho de 2007

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Boates "privé" dão bônus e mimo a taxistas

Clubes de São Paulo pagam gratificações de R$ 10 a R$ 50 e até jantares aos motoristas que levarem clientes às casas

Taxista recebe o dinheiro tão logo o cliente se acomode à mesa e faça o pedido; alvo principal são estrangeiros e turistas

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Ricardo Neves, 29, passa com o seu táxi pela Augusta, rua da região central famosa pelas casas de prostituição; o taxista recebe caixinha de donos de boates a cada cliente que leva para o lugar

DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

A carteirinha de motorista de táxi dá direito a descontos e parcerias com dezenas de empresas de São Paulo, de churrascarias a escolas de japonês, mas o verdadeiro "passaporte da alegria" da classe é o convênio com as casas noturnas "privé" da cidade.
O motorista Silvio Perez, 22, costuma se valer do benefício. Ele conta que ficou "louco" na primeira vez em que entrou no Bahamas, boate de Moema (zona sul de SP) especializada em "erotismo, sensualidade e muito mais", segundo o site da casa.
Seduzido por um convênio da boate, que gratifica o taxista com R$ 25 a cada passageiro levado até lá, ele foi convidado a entrar, relaxar, tomar uma Coca-Cola... E acabou num vestiário onde as garotas trocavam de roupa diante dos freqüentadores. Ficou lá por duas horas, até ser expulso pelo segurança. "Não queria mais ir embora."
O agradinho dado pelas boates aos motoristas é a isca para os turistas que tomam o táxi em busca de "umas meninas". "Esses caras vêm para alguma feira ou para fechar negócio na cidade e falam: vamos para onde têm umas meninas. Aí a gente leva pros lugares onde têm as melhores meninas, mas também para onde nos oferecem uma compensação", diz Perez.
As tais "meninas" são garotas de programa que chegam a cobrar mais de R$ 700 por cliente.
"Isso é com elas. Elas vêm aqui e, se rolar alguma coisa com algum de nossos visitantes, eu não tenho nada a ver", diz Oscar Maroni Filho, dono do Bahamas, para afastar a acusação de exploração de prostituição, que é crime. "Mesmo que não lucre um percentual do programa, nesses estabelecimentos os corpos também são mercadoria, porque atraem os fregueses", diz Neide Castanha, coordenadora do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente.

Pioneiro
Maroni Filho, figura excêntrica da noite paulistana (recado do celular: "Não posso atender! Estou na privada!"), diz que foi pioneiro em molhar a mão dos taxistas. "Isso foi idéia minha. Depois todo mundo copiou. Hoje têm uns que pagam bastante, mas são uns "lugarzinhos". Quanto maior o valor, maior é o desespero do lugar para atrair pessoas", reclama.
A concorrência está do jeito que o diabo gosta. Há casas na rua Augusta que pagam R$ 10. O café Photo, R$ 20. O café Milenium, R$ 40. O Garden Night Club, R$ 50. O Café Misterium paga R$ 40, mais benefícios.
Os benefícios? "Ao mostrar sua carteirinha da casa, nossos manobristas arrumam uma vaga para você estacionar seu veículo, receber o seu dinheiro e ainda permitimos que você entre na casa para jantar, tomar um refrigerante ou outro drink de sua preferência", diz o Café Misterium em anúncio no jornal "O Taxista".
O Romanza abre a carteira: paga R$ 50. "Têm dias em que 50% do nosso movimento é trazido pelos taxistas", diz o gerente Luis Sérgio Quattrocci.

Bônus
O motorista recebe o dinheiro tão logo o cliente se acomode à mesa e faça o primeiro pedido (há casas que cobram cerca de R$ 200 de entrada mais R$ 20 por uma cerveja long neck). O valor do bônus é cumulativo.
"Pergunto como o cara "tá" de dinheiro. Se estiver com o bolso furado, levo pra rua Augusta. Se for gringo, especialmente americano e inglês, levo pro Photo", diz Ricardo Neves, 29.
Neves conta ter faturado alto ao transportar, no ano passado, dois turistas dos Estados Unidos. "Eles quiseram fazer um tour em todas as boates de São Paulo. Levei numas cinco. Amanheceu e eles me disseram ter torrado uns R$ 20 mil. E para mim a noite também foi ótima: embolsei R$ 400!"


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