São Paulo, Quarta-feira, 16 de Junho de 1999
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PÓS-CPI
Testemunhas que revelaram corrupção na prefeitura temem represálias e que acusados fiquem livres
"Pizza" faz denunciantes da máfia sentirem medo e arrependimento

SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local

As principais testemunhas do esquema de corrupção batizado de máfia da propina duvidam da punição dos comandantes da rede e acreditam que irão sofrer sozinhas as consequências do caso.
A Folha ouviu cinco desses denunciantes. Todos são unânimes em afirmar que tiveram as vidas transformadas "em um inferno" após as denúncias e que desconfiam que serão os únicos a sofrer sanções pessoais e econômicas com a revelação do esquema.
A descrença, segundo eles, vem na esteira do fim da CPI da máfia, na concessão feita ao vereador Vicente Viscome (sem partido) para que ele participe das sessões da Câmara, nas pesquisas que mostram não haver votos para cassar os vereadores acusados, na lentidão das investigações sobre a conduta do ex-vereador e deputado Hanna Garib (suspenso do PPB).
"O Viscome está na Câmara, o Garib, na Assembléia, mas eu não posso dormir em casa porque vivo sendo ameaçado. Se bobear, eu vou ser condenado por formação de quadrilha e concussão, embora fosse obrigado a pagar propina, e eles vão ser inocentados. Com eles (os parlamentares) não vai acontecer nada", diz o ambulante Gilberto Monteiro da Silva, apontado como o "dono" do viaduto Santa Ifigênia.
Silva foi uma das três pessoas que declarou à polícia e à CPI ter presenciado o pagamento de propina a Garib. Hoje, vive sob escolta de oito seguranças.
Silva, como os outros quatro denunciantes ouvidos -Luiz Antônio Alves da Silva, Nelson Augustaitis, Tânia de Paula e Afonso José da Silva- foi à polícia, depôs por horas, narrou o funcionamento do esquema e repetiu as acusações à CPI. Como Tânia, deu tantos detalhes da rede que acabou confessando seus crimes e foi indiciado.
"Isso (o fim da CPI) foi uma palhaçada", afirma Luiz Antônio Alves, o "Lula", que declarou ter entregue propina nas mãos de Garib até no banheiro da Câmara.
"Eu falei uma verdade que só fala quem acredita que as coisas podem mudar, mas isso não aconteceu. O Garib não deixou de mandar. Agora, só nós estamos sendo prejudicados. Daqui há pouco vão cobrar de novo (propina). E, quer saber, vou pagar, porque preciso trabalhar."
O relato é o mesmo de Afonso José da Silva e Nelson Augustaitis, também denunciantes de Hanna Garib. José da Silva vive escondido. Augustaitis conta que seus carrinhos de cachorro-quente são recolhidos diariamente. "Os guardas perguntam: "É do Nelson?". E levam. Só nós vamos sofrer as consequências da devassa."


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