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PÓS-CPI
Testemunhas que revelaram corrupção na prefeitura temem represálias e que acusados fiquem livres
"Pizza" faz denunciantes da máfia sentirem medo e arrependimento
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
As principais testemunhas do esquema de corrupção batizado de
máfia da propina duvidam da punição dos comandantes da rede e
acreditam que irão sofrer sozinhas
as consequências do caso.
A Folha ouviu cinco desses denunciantes. Todos são unânimes
em afirmar que tiveram as vidas
transformadas "em um inferno"
após as denúncias e que desconfiam que serão os únicos a sofrer
sanções pessoais e econômicas
com a revelação do esquema.
A descrença, segundo eles, vem
na esteira do fim da CPI da máfia,
na concessão feita ao vereador Vicente Viscome (sem partido) para
que ele participe das sessões da Câmara, nas pesquisas que mostram
não haver votos para cassar os vereadores acusados, na lentidão das
investigações sobre a conduta do
ex-vereador e deputado Hanna
Garib (suspenso do PPB).
"O Viscome está na Câmara, o
Garib, na Assembléia, mas eu não
posso dormir em casa porque vivo
sendo ameaçado. Se bobear, eu
vou ser condenado por formação
de quadrilha e concussão, embora
fosse obrigado a pagar propina, e
eles vão ser inocentados. Com eles
(os parlamentares) não vai acontecer nada", diz o ambulante Gilberto Monteiro da Silva, apontado como o "dono" do viaduto Santa Ifigênia.
Silva foi uma das três pessoas que
declarou à polícia e à CPI ter presenciado o pagamento de propina
a Garib. Hoje, vive sob escolta de
oito seguranças.
Silva, como os outros quatro denunciantes ouvidos -Luiz Antônio Alves da Silva, Nelson Augustaitis, Tânia de Paula e Afonso José
da Silva- foi à polícia, depôs por
horas, narrou o funcionamento do
esquema e repetiu as acusações à
CPI. Como Tânia, deu tantos detalhes da rede que acabou confessando seus crimes e foi indiciado.
"Isso (o fim da CPI) foi uma palhaçada", afirma Luiz Antônio Alves, o "Lula", que declarou ter entregue propina nas mãos de Garib
até no banheiro da Câmara.
"Eu falei uma verdade que só fala
quem acredita que as coisas podem mudar, mas isso não aconteceu. O Garib não deixou de mandar. Agora, só nós estamos sendo
prejudicados. Daqui há pouco vão
cobrar de novo (propina). E, quer
saber, vou pagar, porque preciso
trabalhar."
O relato é o mesmo de Afonso José da Silva e Nelson Augustaitis,
também denunciantes de Hanna
Garib. José da Silva vive escondido. Augustaitis conta que seus carrinhos de cachorro-quente são recolhidos diariamente. "Os guardas
perguntam: "É do Nelson?". E levam. Só nós vamos sofrer as consequências da devassa."
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